"Todas as belas estrelas brilham para você, meu amor. Eu sou aquela garota com quem você sonha?"
Sem perceber, Rarity rabiscava novamente aquela silhueta estranha em seu sketchbook. Era um esboço de algo que vinha consumindo seus pensamentos há dias. Uma garota. Era uma garota que ela tinha total certeza de nunca ter visto na vida, mas que aparecia frequentemente em seus sonhos.
Tinha cabelos lisos e extremamente loiros, era alta e tinha a pele alaranjada. Seu corpo era consideravelmente forte, como se trabalhos pesados fizessem parte de sua rotina. Mas Rarity não conseguia ver o rosto dela com clareza; todas as malditas manhãs em que acordava, nunca conseguia lembrar-se dos traços da garota misteriosa, por isso, onde deveria haver algum tipo de face, havia apenas rabiscos.
Estava tão imersa em seu desenho que nem ao menos notou sua irmã mais nova invadir seu quarto para avisar que o jantar já estava à mesa, ignorando a presença da menina de forma involuntária.
— Rarity! – tentou chamar sua atenção, sem obter resposta — Mana! – a cutucou, finalmente conseguindo despertá-la — O que você tanto faz nesse caderno, hein irmã? São os esboços finais antes de se tornar oficialmente uma universitária?
Sweetie Belle tinha um tom dinâmico. Rarity sorriu, finalmente virando-se para a caçula.
Começaria seu primeiro semestre na Universidade de Canterlot em breve, como estudante de moda, e não podia estar mais animada. Claro que seus planos iniciais não eram Canterlot, mas sim o Império de Cristal. Porém, tudo foi muito repentino; de um dia para o outro, seu sonho não era mais ingressar na melhor universidade do país, uma decisão que gerou decepção e muita dor de cabeça por parte de sua mãe.
— Como vou aguentar ficar meses longe de você? – suspirou, rindo, enquanto segurava as mãos de Belle nas suas.
— Você sobrevive – acompanhou a risada — Quem é aquela?
Sweetie Belle inclinou a cabeça para o caderno aberto na escrivaninha com o desenho recém-feito. Rarity seguiu o gesto com o olhar, observando novamente o que havia desenhado, porém agora parecia bem mais consciente.
— Não é ninguém. Nem sei por que desenhei isso.
— Por que vem desenhando isso, você quis dizer, certo? – Ela puxou o caderno do móvel, folheando-o na frente da dona.
Foi apenas com esse ato da irmã que Rarity pôde perceber o quanto havia desenhado a mesma silhueta diversas vezes, todas vagas e tão características. Ela não havia notado que passava tanto tempo assim pensando na garota, a ponto de seu caderno de inspirações se tornar inteiramente sobre ela.
[...]
O sol se despedia dos céus, dando espaço para a lua e as estrelas iluminarem a noite. Os fins de tarde na Fazenda Doce Maçã eram, de certa forma, confortáveis e relaxantes. Sem aquele caos da cidade grande, havia apenas a calmaria e a beleza do campo.
Applejack permanecia debruçada sobre a sacada de seu quarto. A respiração pesada, suas pernas inquietas e os músculos tensos. O silêncio naquele espaço parecia ensurdecedor. Estava tentando ficar limpa, e ela precisava disso. Mas não por si própria, não mesmo. Ela não se sentia merecedora, mas fazia isso por sua única família. Odiava vê-los preocupados com seu estado.
Ela sentia a necessidade pulsando nas veias, buscando desesperadamente algo para agarrar, para ocupar o vazio. Era impossível se concentrar, sua mente estava dispersa, seus pensamentos eram sufocantes e desordenados. Ela queria gritar, chorar, correr, qualquer coisa para aliviar a pressão que parecia prestes a explodir dentro dela.
Respira, repetia mentalmente para si mesma.
Ela precisava respirar.
O desconforto físico se manifestava. Uma dor de cabeça começou a latejar nas têmporas, sua boca secava, e uma sensação amarga começou a invadir sua língua.
A angústia crescia cada vez mais. Ela era fraca e sabia disso, não conseguia manter o controle, e agora não queria resistir. Então abriu com dificuldade a cômoda ao lado de sua cama, procurando desesperada pelo frasco de comprimidos quase vazio, despejando três nas mãos trêmulas.
Fechou os olhos, sentindo as lágrimas começarem a se formar, e antes mesmo de engolir as pílulas a seco, repentinamente seus pensamentos se alinharam, uma sensação boa consumindo seu corpo frágil em abstinência. Estava vendo-a, a garota de cabelos roxos perfeitamente modelados com a qual vinha sonhando há bastante tempo.
Applejack não conseguia vê-la com clareza, nunca conseguia, de fato. Apenas suas características mais marcantes eram lembradas: o roxo intenso de seu cabelo, a pele extremamente branca e suas curvas magníficas que pareciam ter sido desenhadas.
Aos poucos, aquela angústia e desconforto foram abandonando seu peito. Seu corpo trêmulo e tensionado começou a se acalmar, sua respiração voltando a um ritmo normal. Seus pensamentos não eram mais sombrios, o pânico havia deixado sua mente; estavam leves como nunca antes. Sem perceber, suas mãos soltaram aos poucos os comprimidos que agarrava tão fortemente, permitindo-se relaxar.
Guardou-os de volta no frasco. Ela não precisava deles agora, não mais.
A imagem daquela garota não abandonou seus pensamentos durante o resto da noite, nem mesmo quando se deitou para dormir pela primeira vez sem a ajuda dos remédios. Permanecia atrelada à sua mente, deixando tudo mais leve e se recusando a ir embora. Ela não estava reclamando, é claro.
De certa forma, aquela garota a acalmava.
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nebulosa, rarijack
FanfictionNebulosa: substantivo feminino, ASTRONOMIA: nuvem de matéria interestelar. [Por Extensão] Algo de difícil entendimento; complicado para entender. No universo, tudo existe em pares opostos que se complementam - luz e escuridão, vida e morte, matéria...