Intenso e repentino, talvez essas duas palavras explicassem parcialmente o choque e a dor estranha que haviam atingido Rarity aleatoriamente. E, por mais que seu corpo queimasse, implorando para fugir dali o quanto antes, e suas pernas perdessem levemente o equilíbrio, ela, de certa forma, não conseguia desviar o olhar daquela imensidão verde que a absorvia por inteiro. Tudo estava tão abafado e, ao longe, a letra da música, ecoando alto, já não era mais nítida aos seus ouvidos. Ela não conseguia se mexer, sentia-se em uma espécie de transe, seus pensamentos mais confusos e sufocantes a partir de agora.
Ela não tinha dúvidas: a figura loira do lado oposto do salão era, certamente e literalmente, a garota dos seus sonhos. Seu físico era exatamente como nas fantasias de Rarity. Ela conseguia ver uma parte dos músculos definidos marcando através da camisa social que usava, aquele dourado cintilando lindamente pelas mechas lisas e médias de seu cabelo, e, claro, aquilo que mais havia prendido a atenção de Rarity: o verde tão único, refletindo aquele olhar que queimava sobre si, aparentemente cansado, mas, ainda assim, único.
Seus batimentos continuavam acelerados, e sua respiração escapava por entre seus lábios em um ritmo anormal. Encará-la não estava ajudando de nenhum jeito; pelo contrário, apenas aumentava a sensação de estar sufocando. Porém, Rarity a admirava, mesmo tão distante, agora tendo uma visão de seu rosto, não mais rabiscos, e céus, ela era linda. Por um mísero segundo, Rarity esqueceu da dor aguda rasgando seu antebraço. O desconforto não era importante agora, estava ocupada demais naquela troca de olhares intensa, sem conseguir sequer desviar, desejando mais que tudo que não estivesse sonhando outra vez.
Porém, da mesma forma que tudo pareceu explodir dentro de si, consumindo-a de dentro para fora, também repentinamente as coisas externas começaram a ganhar forma outra vez. Ela notou um certo tumulto ao seu redor, a música novamente preenchendo seus ouvidos de uma maneira que a incomodava, uma voz desesperada chamando seu nome, e mãos tocando seu ombro, obrigando-a a virar-se na direção.
Seus olhos confusos encontraram os tensos e preocupados de Twilight.
— Rarity! O que houve? Você se machucou? Você 'tá sangrando! – sua voz, misturada ao som alto, Rarity apenas conseguia ouvi-la por estar próxima — Merda, Rarity, diz alguma coisa!
Mas Rarity não tinha forças para dizer nada. "Você está sangrando" foi tudo que conseguiu absorver de todo aquele desespero.
Notando que a loira, por um momento, não a encarava mais, Rarity conseguiu finalmente desviar o olhar para o ponto que mais queimava seus músculos tensionados, e arregalou os olhos ao ver o líquido escarlate pingar incessantemente, manchando todo seu vestido azul e, consequentemente, o chão da pista de dança.
Suas sobrancelhas se juntaram em uma confusão familiar, e suas orbes azuis se encheram de desespero ao capturar o corte aberto que ia de seu antebraço até o dorso de sua mão.
— Não... não... não... – seus dedos esfregaram o machucado, como se esperasse que ele sumisse dali magicamente, da mesma forma que aparecera — Mas que porra...?
Rarity sentiu as mãos da amiga ainda mais firmes em seus ombros, tentando guiá-la para fora da pista, o que era inútil, porque seus olhos insistiam em vagar de volta para o outro lado do salão, para a loira. Ela estava imóvel, os olhos verdes também fixos nela. Rarity não via mais nada além de seu rosto, contrastando as luzes em tom de púrpura, sua expressão igualmente confusa e atordoada. As duas compartilhavam a mesma avalanche de sentimentos sem ao menos terem ideia.
Se sua mente estava uma bagunça antes, seus neurônios estavam fritando agora com o machucado que aparecera de repente, sem qualquer explicação lógica. Não havia nada que pudesse ter causado aquele ferimento e, ainda assim, a dor e o sangue eram reais.
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nebulosa, rarijack
FanficNebulosa: substantivo feminino, ASTRONOMIA: nuvem de matéria interestelar. [Por Extensão] Algo de difícil entendimento; complicado para entender. No universo, tudo existe em pares opostos que se complementam - luz e escuridão, vida e morte, matéria...