Partida

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Hoje era o dia.

Hoje seria o dia em que eu partiria para um lugar novo. Talvez. Para ser sincero, nem eu mesmo sabia ao certo para onde iria. Será que o destino me reserva um lugar bom? Ou será um lugar ruim? Uma coisa, porém, era certa: meus pais não se importaram nem um pouco para onde eu seria levado. E, para ser honesto, tampouco eu me importava. Passei longas horas refletindo em meu quarto e cheguei à conclusão de que qualquer lugar seria melhor do que este.

Não estou sendo ingrato, estou apenas sendo realista. Aqui, tive momentos de felicidade, é verdade. Mas esses momentos são insignificantes se comparados aos longos períodos de tristeza e aflição que vivi. Talvez a mudança seja algo bom, não é?

"Naruto!" - ouço meu pai gritar do andar de baixo - "Vamos logo, seu imprestável! A carruagem está esperando!"

Levanto-me, pego minhas malas, que, para ser sincero, não eram muitas. Apenas uma pequena bagagem com algumas das minhas roupas preferidas. Minha mãe praticamente me obrigou a deixar quase todas as minhas outras roupas para trás, dizendo que seriam destinadas aos pobres. Não quis ver outros sofrendo, então, aceitei em silêncio. Sempre tive todos os tipos de roupas que desejei, essa é a verdade. Mas seria bom que outras pessoas tivessem o mesmo, não é? Ou será que fui ingênuo ao acreditar nisso?

Acho que prefiro acreditar na primeira opção.

Desço as escadas lentamente, com o coração pesado, e logo avisto meu pai, com um semblante de desdém. Baixo a cabeça, não quero ouvir mais palavras ásperas.

"Entre logo nessa carruagem. Vai, passa, passa!" - ordena ele com impaciência.

Corro para dentro da carruagem e me acomodo em um dos assentos. Mas antes que eu pudesse fechar a cortina, meu pai se aproxima e olha fixamente para mim. Aqueles olhos... tão familiares, mas ao mesmo tempo tão estranhos. Eram iguais aos meus, e ainda assim, havia algo a mais neles, algo amargo e sombrio, que me fazia tremer só de olhar.

"Escute aqui, garoto." - ele diz com uma voz ameaçadora - "Não quero ouvir nenhuma reclamação sua. Se eu souber de algo errado, pode ter certeza: se você for expulso de lá, não terá mais um lugar para onde voltar. Entendeu?"

Aceno com a cabeça, em sinal de compreensão. Ele fecha as cortinas bruscamente e se afasta. Minha mãe não veio se despedir de mim, mas tudo bem. Ontem à noite, tentei dizer adeus, embora ela tenha me ignorado e simplesmente se retirado.

A carruagem começa a se mover e, enquanto sinto o balanço suave, começo a refletir sobre minha vida, sobre o passado. Meu pai nunca me chamou pelo meu nome, para ser sincero. Eu era sempre "omega", "inútil", "imprestável", ou algo pior. No entanto, eu o chamava de pai, apesar de ele nunca ter desempenhado realmente esse papel em minha vida. Sempre alimentei a esperança de que, um dia, ele pudesse me chamar de "filhote". Mas isso nunca aconteceu, e agora sei que nunca acontecerá. Como pude ser tão tolo? Por que acreditei em algo tão ilusório?

Olho para o lado, afasto a cortina devagar e me deparo com o início de um pôr do sol magnífico. O céu estava tingido de um rosado suave, mesclado com tons de roxo e laranja. Sempre adorei observar o céu. Não podia fazer muitas coisas em casa, mas contemplar o céu da minha varanda era um dos prazeres que me restavam. Especialmente durante o nascer e o pôr do sol. Ah, como eu também amava as estrelas. Conhecia todas as constelações de cor. Dediquei muitas noites a estudá-las, pegando um livro diferente na biblioteca sempre que podia.

Com o passar do tempo, o céu foi escurecendo, revelando as primeiras estrelas e a bela lua. Como eu amava olhar para ela... Ela era a mais linda de todo o firmamento. Enquanto admirava a lua, meus olhos começaram a pesar, e, finalmente, adormeci.

In Love • Sasunaru Onde histórias criam vida. Descubra agora