05 Sombras da ambição

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          As sombras da biblioteca dançavam nas paredes, quase vivas, brincando com a luz fraca das velas. Adam estava imerso naquele ambiente, onde o cheiro de livros antigos e poeira dava a sensação de estar rodeado por segredos de séculos. O poder que pulsava nas páginas dos livros ao seu redor era tangível, quase sufocante, mas Adam não se deixava intimidar por isso. Ele sabia que, ali, entre aquelas palavras e feitiços esquecidos, estavam as chaves para o futuro de Tenebris — e talvez de todos os reinos.

          Inclinando-se sobre um mapa antigo, seus dedos traçavam as fronteiras dos reinos com precisão quase obsessiva. Cada linha no papel representava uma barreira, mas também uma oportunidade. Adam via as alianças e os conflitos como um jogo complexo, e ele, o mestre que controlava as peças. Enquanto outros poderiam ver a unificação dos reinos como uma tarefa impossível, ele via um desafio digno de seu intelecto e ambição.

          O som suave da porta se abrindo atrás de si não o surpreendeu. Adam havia sentido a presença de Varek antes mesmo de ele se anunciar. Podia perceber a hesitação de seu conselheiro, como se a incerteza dele estivesse impregnada no ar. Adam permitiu que o silêncio pairasse por um momento, sentindo a tensão crescer antes de finalmente levantar o olhar, seus olhos vermelhos encontrando os de Varek.

— Adam — começou Varek, a voz impregnada de preocupação —, qual o motivo dessa reunião em plena madrugada? Você não dorme?

Adam sentiu um sorriso ameaçar seus lábios, mas o conteve. Ele estava cansado, um cansaço que ia além do físico. As intermináveis reuniões com diplomatas que seu pai insistia em impor sobre ele eram um fardo. Ele sabia que seu pai o preparava para o trono, mas a verdade era que Adam não desejava o trono. O que ele queria era poder, mas não o tipo de poder que vinha com uma coroa. Ele queria moldar o mundo de acordo com sua visão, e o trono era apenas um meio para esse fim.

— Estou tendo insônia ultimamente, Varek. — Adam começou, sua voz medida, enquanto seus olhos voltavam para o mapa. — Talvez seja a inquietação da ambição. Estava pensando... a unificação é realmente algo tão impossível?

          Enquanto falava, Adam observava Varek. Ele podia ver a tensão nos ombros do conselheiro, o leve franzir de sua testa. Adam conhecia aquela expressão — Varek estava dividido, entre a lealdade a seu príncipe e o medo das consequências de seus planos. Era previsível, mas Adam não podia se dar ao luxo de se importar com as inseguranças alheias.

— Não é que seja impossível, mas a unificação não será simples. — Varek respondeu, o tom cauteloso, quase suplicante. — Há séculos de desconfiança entre os reinos, e a resistência interna pode ser significativa.

          A resposta de Varek fez Adam quase suspirar de frustração. Ele sabia que Varek era leal, mas sua visão limitada era um obstáculo constante. A unificação não era apenas uma questão de política para Adam; era um jogo de poder, onde ele precisava manipular as circunstâncias a seu favor. A resistência dos outros reinos era esperada, mas era a resistência interna, dentro de Tenebris, que realmente preocupava Adam. O que Varek e os outros não compreendiam era que o medo poderia ser uma ferramenta poderosa, uma arma tão eficaz quanto qualquer exército.

— É exatamente por isso que devemos agir com precisão. — Adam murmurou, afastando-se da mesa e caminhando pela sala com passos calculados. — A resistência é esperada, mas isso não deve nos parar. Nossa visão é maior que isso. Precisamos manipular as circunstâncias, fazer com que os outros reinos não apenas aceitem, mas desejem nossa liderança. O medo... o medo pode ser uma ferramenta poderosa, se soubermos usá-lo.

Adam deixou seu olhar vagar até a janela, onde o céu cinzento e opressivo de Tenebris refletia seu próprio humor. Ele sabia que o caos estava por vir, e isso o excitava. Não era a unificação que ele desejava, mas o processo de moldar os reinos ao seu gosto, de ser o arquiteto de um novo mundo. Ele sentia o peso desse futuro em suas mãos e, pela primeira vez em muito tempo, sorriu. Um sorriso frio e calculado.

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