Capítulo 1

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 DANDARA FICOU IMÓVEL, o telefone ainda na mão, como se cada palavra daquela ligação estivesse gravada em sua mente

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DANDARA FICOU IMÓVEL, o telefone ainda na mão, como se cada palavra daquela ligação estivesse gravada em sua mente. A oferta ecoava em seus pensamentos como um convite para redescobrir a si mesma, mas o peso das incertezas parecia esmagador. A sala onde ela se encontrava, antes um refúgio de paz, agora parecia pequena demais para conter a avalanche de emoções que tomava conta de seu coração. As paredes, decoradas com fotos de suas vitórias passadas, pareciam observá-la com olhos críticos, questionando seu próximo passo.

Nos dias que se seguiram, Dandara mergulhou em uma espiral de introspecção. Cada manhã, ela acordava com a sensação de que estava perdendo algo, mas não sabia exatamente o quê. Caminhava até a varanda do apartamento, onde o vento suave da cidade parecia sussurrar dúvidas em seus ouvidos. Olhava para o horizonte, onde o sol nascente pintava o céu com tons de laranja e rosa, tentando encontrar respostas na vastidão daquele cenário. O mar ao longe parecia chamá-la, mas a dor no joelho lembrava-lhe de que não era mais a mesma pessoa que, um dia, mergulhou sem hesitar.

Conforme os dias passavam, Dandara percebeu que não conseguiria tomar essa decisão sozinha. Sentiu a necessidade de buscar apoio nas pessoas que sempre estiveram ao seu lado, aqueles que conheciam cada uma de suas vitórias e derrotas. Sentada no sofá da sala, ela pegou o telefone e ligou para sua mãe. A voz suave e acolhedora do outro lado da linha a fez desmoronar.

"Mãe, eu não sei o que fazer", confessou, a voz embargada pelas lágrimas que tentava conter. "Eles me ofereceram uma oportunidade incrível, mas não consigo deixar de sentir que estou desistindo do meu sonho."

Sua mãe, sempre uma rocha em momentos de incerteza, respondeu com a calma que só o amor de uma mãe pode proporcionar. "Dandara, você sempre foi uma lutadora. Esse sonho que você tinha, ele nunca vai morrer. Mas talvez seja hora de encontrar novas formas de realizá-lo. A vida, às vezes, nos apresenta caminhos diferentes daqueles que planejamos, mas isso não significa que são menos importantes."

Essas palavras ficaram com Dandara por dias. Ela conversou também com seu treinador, que a incentivou a pensar no impacto que poderia ter na vida de outros jovens atletas, compartilhando sua experiência e conhecimento. "Você pode inspirar uma nova geração, Dandara. Pode ser a voz que encoraja outros a não desistirem, mesmo diante das maiores adversidades."

Mesmo assim, o dilema persistia. Naquela tarde, sentada na arquibancada do ginásio onde havia treinado por tantos anos, Dandara fechou os olhos e se permitiu reviver cada momento que a trouxe até ali. Lembrou-se das madrugadas geladas, do cheiro do cloro, dos músculos doloridos após horas de treino intenso. Mas, acima de tudo, lembrou-se do sorriso no rosto após cada vitória, do orgulho que sentia quando seus pais a abraçavam ao final de uma competição. A dor no joelho era intensa, mas o vazio que sentia no peito era ainda maior.

Foi então que as palavras de César Cielo, que havia lido em uma entrevista anos antes, surgiram em sua mente como uma onda batendo na areia: "Às vezes, precisamos nadar contra a corrente para descobrir nossa verdadeira força." Essas palavras sempre a inspiraram a seguir em frente, mesmo quando tudo parecia impossível. Agora, elas ganhavam um novo significado. Não era apenas sobre superar obstáculos físicos, mas também sobre encontrar força nas mudanças e nas novas oportunidades que a vida oferecia.

Com essa clareza, Dandara finalmente tomou sua decisão. Ela sabia que precisava seguir em frente, mesmo que o caminho fosse diferente do que havia imaginado. Pegou o telefone com mãos trêmulas e discou o número da produtora. Cada toque parecia durar uma eternidade, mas, quando a voz de Ana Paula soou do outro lado da linha, Dandara sentiu um alívio imediato.

"Olá, Ana Paula," começou, sua voz ainda carregada de emoções, "eu pensei muito sobre o convite... E decidi aceitar."

Do outro lado, a produtora soltou um suspiro de alívio, seguido por uma risada de puro entusiasmo. "Dandara, você não vai se arrepender. Essa vai ser uma experiência incrível, e nós estamos muito felizes de ter você a bordo. Você trará uma perspectiva única, e com César Cielo ao seu lado, tenho certeza de que será inesquecível."

Quando desligou, Dandara ficou em silêncio, sentindo uma mistura de nervosismo e excitação. O peso da decisão ainda estava ali, mas agora, ela sentia que havia feito a escolha certa. Sabia que os desafios seriam muitos – as inseguranças, as lembranças dolorosas, a constante batalha para aceitar essa nova realidade – mas, pela primeira vez em semanas, sentiu que estava começando a recuperar o controle de sua vida.

Naquela noite, enquanto se preparava para dormir, Dandara se deitou na cama e olhou para o teto, permitindo que seus pensamentos vagassem. Paris ainda estava em seu destino, mas de uma forma que ela jamais poderia ter imaginado. E, com essa nova perspectiva, ela começava a acreditar que talvez, só talvez, esse novo caminho pudesse levá-la a uma realização tão grande quanto o sonho que havia perdido.

A visão de estar ao lado de César Cielo, trabalhando juntos nas Olimpíadas, a enchia de uma esperança tímida, mas crescente. Ela sabia que esse novo papel não seria fácil, mas também sabia que estava pronta para enfrentá-lo. Afinal, como disse Cielo, às vezes é nadando contra a corrente que descobrimos quem realmente somos. E Dandara, mais do que nunca, estava pronta para descobrir.

Sensations- César CieloOnde histórias criam vida. Descubra agora