Capítulo 03

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Bella

Não espere por uma crise para descobrir o que é importante em sua vida.

Platão

Quando acordo, estou no hospital. Minha cabeça não dói tanto como antes, e minha mão está enfaixada. Cortei-a durante a luta que tive com Agustte. Meu rosto está inchado, e meus olhos estão pretos. Meu aparelho auditivo foi quebrado, e só tenho um, por isso os ouço distante. Pietro está comigo, dormindo no sofá. Quase choro de alívio toda vez que o olho. O médico só vai me dar alta amanhã. Fiz todos os exames que pude.

— Eu sei que sou lindo, mas você me olhando assim me desconcerta — resmunga, com os olhos fechados. Achei que ele estivesse dormindo.

— Como sabe que estou olhando? — pergunto baixinho. Minha garganta está muito dolorida, e há um hematoma em volta do meu pescoço.

— Sinto minha pele esquentar, como se estivesse sendo perfurado por lasers — Pietro vira de lado e me olha com um sorriso que não alcança seus olhos.

— Obrigada mais uma vez por me salvar — agradeço, prendendo o choro.

— Eu só estava no momento certo. Quando sua mãe vai sentir sua falta? — pergunta sério, sentando-se no sofá desconfortável para o tamanho dele.

Minhas bochechas ficam vermelhas de vergonha. Minha mãe não vai sentir minha falta porque está trabalhando e, quando ela chega, na maioria das vezes estou no trabalho.

— Ela não vai. Quando eu chego, ela está dormindo. Quando saio para o bar, ela ainda não chegou, então quase não nos vemos — respondo, sentindo-me exposta sob seus olhos negros e raivosos. Ele é fácil de ler quando não está tentando se camuflar sob a pele.

— Foda-se, Bella. Se você morrer, ela vai levar semanas para achar seu corpo? — pergunta, levantando-se e sentando na ponta da minha cama. Seus dedos tocam minha panturrilha em movimentos leves e lentos.

As palavras cruas me atingem em cheio, mas não consigo negar a verdade. A vida que levo é solitária e precária.

— Sim, é fodido. Obrigada por me trazer ao hospital e ficar comigo, sei que você está cansado.

— O médico disse que você precisa dormir, você não está bem — me olha nos olhos.

— Você pode dormir comigo, a cama é grande, não precisa ter um torcicolo — ofereço. Ele salvou minha vida, mesmo depois de eu ter sido grossa com ele por causa das suas ideias loucas.

Pietro continua me olhando, e sinto vontade de me contorcer diante do seu escrutínio silencioso, mas me contenho. Ele tira as botas que parecem ser de motoqueiro e empurra a coberta para o lado, o tempo todo me olhando como se esperasse uma recusa. Não vai acontecer, a cama cabe duas pessoas tranquilamente. Afasto-me para dar espaço a ele. Quando Pietro deita ao meu lado, não sinto medo ou pavor. Ele teve duas oportunidades para acabar com a minha vida e não fez. Merece dois votos de confiança.

— Você devia dormir também. O médico disse que você precisa de descanso — murmura, empurrando mais a coberta para o meu lado.

— Você tem um celular? Preciso avisar a dona Milagros que não vou trabalhar hoje. Ela vai morrer de preocupação se não aparecer — falo cheia de esperança. Dona Milagros é como uma avó para mim.

— O Enzo avisou do incidente. Não se preocupe, estou cuidando de você.

— Obrigada — agradeço bocejando.

— Você deveria ir embora — fala, me olhando sob os cílios espessos e bonitos. Pietro tem uma beleza selvagem.

— Ir embora? — questiono, virando de lado para olhá-lo.

Admiração DistorcidaOnde histórias criam vida. Descubra agora