quatro

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Mais tarde, Kelvin já se encontrava bem diferente de como estava quando esbarrou com Ramiro.
As lágrimas já haviam secado em seu rosto e o semblante triste havia muito sutilmente virado algo mais alegre.
Não que estivesse realmente bem, o amargor do acontecido ainda estava em sua boca e muito provavelmente ainda iria chorar mais um pouco ao chegar em casa, mas Ramiro era tão gentil e engraçado que Kelvin decidiu deixar o sofrimento um pouquinho de lado.
Quando disse que não se conheciam, o jogador não se referia apenas à apresentação formal, mas Kelvin jamais imaginava que Ramiro pudesse ser tão engraçado. Hilário, até.
E os rapazes tinham um humor muito parecido, resultando em um complementando a piada do outro o tempo inteiro.
— Ramiro, eu adorei mesmo ficar aqui com você, mas tá ficando tarde e eu preciso mesmo voltar pra casa
— Ah é, eu também acho melhor. Daqui a pouco seu pai aparece aí e eu fiz dezoito tem pouco tempo, não pretendo ir em cana
Kelvin riu.
— Besta — o ruivo negou com a cabeça — Foda que minha mochila tá no carro do Daniel, mas vou pedir pra Petra levar na minha casa amanhã
— Ou a gente pode quebrar o vidro e sair correndo com a sua mochila
— Pra quem não queria ir pra cadeia, você não tá evitando muito, né?
Ramiro deu risada e os dois se levantaram, ficando de frente para o outro.
— Então você veio de carona, foi?
— Aham — Kelvin assentiu, ainda segurando a florzinha, mesmo já estando morta e toda mole em sua mão.
— Posso te acompanhar até sua casa?
— Ah, não precisa se incomodar, é uma caminhada meio longa até lá, na verdade
— Eu tô com a minha moto, posso te dar uma carona
— Mesmo?
— Claro. Te aluguei até agora, é o mínimo que eu posso fazer
— Ah, então eu vou aceitar
Ramiro o chamou com a mão, caminhando até a motocicleta estacionada perto dali.
Como havia ido sozinho, cedeu seu único capacete para Kelvin, ajudando o rapaz a colocar.
— Eu pareço uma formiga? — Kelvin colocou ambas as mãos na cintura, sorrindo com o capacete.
— Porque formiga?
— Corpo minúsculo, cabeça gigante
Ramiro riu da comparação.
— Você tá parecendo a formiga rainha, sim
— Sempre quis ser ela — Kelvin brincou, aguardando Ramiro subir na moto para tomar seu lugar — A minha mãe ia desmaiar se me visse subindo em uma moto
— Prometo que vou te entregar inteiro e talvez até a parte que tá faltando
— Ah não, isso aqui já é tudo — Kelvin riu, se segurando nas duas alças na lateral da moto, não muito seguro sobre aquela viagem — Só espero não cair no meio do caminho, fica verificando, tá? — falou bem humorado.
— Você pode se segurar em mim — Ramiro sugeriu.
— É? — Kelvin perguntou meio inseguro por achar que poderia ser íntimo demais agarrar o corpo de Ramiro assim.
— Eu não vou me incomodar, tá?
— Eu vou ficar parecendo uma mochila agarrado na sua costa
Ramiro gargalhou.
— É sério, pode mesmo se segurar em mim
Kelvin levou as mãos até o dorso do outro, meio inseguro, mas aceitou quando Ramiro apertou os braços do outro contra si.
E realmente foi muito melhor para Kelvin se segurar em algo realmente sólido, pois ser pequeno era sinônimo de quase voar da motocicleta.
Mas Ramiro foi cuidadoso e, quando chegaram até a pousada da família de Kelvin, ajudou o ruivo a descer com segurança.
— Pronto, seu Kelvin, está entregue
— Cara, acho que deixei a perna esquerda no caminho — Kelvin brincou, fingindo procurar sua perna, arrancando uma risada de Ramiro — Mas sério, valeu mesmo. Você foi muito gentil
— Que isso… — Ramiro negou com a cabeça — A gente se fez companhia
— E foi muito legal te conhecer, na verdade. Não sabia que você era tão legal
— Fiz meu melhor
Kelvin deu uma risadinha nasalada.
— Ei, tem planos pra amanhã? — Ramiro perguntou após alguns segundos de silêncio.
— Primeiro dia de férias, né? Nem sei como vou conciliar tanto tempo livre
— Quer sair comigo? Não sei, tomar um sorvete…
O brilho de Kelvin pareceu sumir no mesmo instante.
— Ramiro, você não precisa me chamar pra sair por conta do que aconteceu. Eu realmente não preciso que você tenha pena de mim ou algo assim
O ruivo desviou o olhar, se sentindo até meio idiota por ter se aberto com, no momento, um desconhecido.
— Quem disse que tô te chamando por pena? Não é por isso, desculpa até se ficou parecendo, mas te achei legal e queria te ver outras vezes
Kelvin olhou para Ramiro, que parecia realmente falar a verdade, mas não conseguiu manter contato visual.
— Me ver outras vezes?
— É, estamos de férias, tem um monte de coisas legais pra fazer, lugares pra ir
— Acho que amanhã não dá, mas outro dia, talvez
Kelvin tinha planos de chorar o dia inteiro e se sentir péssimo, não havia espaço na agenda para sorvetes.
— Não se sinta obrigado a aceitar, tá?
— Não, não é isso. Eu só vou estar meio atarefado amanhã com… a pousada. Sabe como é, né? Hóspedes novos e tal
— Ah, sim, claro
— Mas a gente pode marcar mesmo de ir
— Posso ter o seu número?
— Pode sim — Kelvin assentiu e observou Ramiro pegar o celular, entregando para o ruivo.
Digitou seu número de celular e entregou o aparelho de volta para Ramiro, que salvou o contato e mandou uma mensagem para que Kelvin também fizesse o mesmo.
— Pronto, a gente vai se falando, né? — Ramiro perguntou.
— Vai sim. Obrigado mais uma vez, Ramiro
— Fica bem, tá? Eu não sei quem deu mancada com você, mas você é legal demais pra ele
— Valeu — Kelvin mostrou um sorriso tímido diante do elogio.
Observou Ramiro partir com a moto e então entrou na pousada, passando pela recepção e pelo anexo que conectava o estabelecimento de sua casa.
Lucinda estava na sala, assistindo televisão e soube no exato momento que Kelvin entrou no cômodo, que havia algo de errado.
Ouviu Kelvin, o acolheu e conversou com o filho até ele dormir em seu colo, depois de tanto chorar.

Ouviu Kelvin, o acolheu e conversou com o filho até ele dormir em seu colo, depois de tanto chorar

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Até o verão terminarOnde histórias criam vida. Descubra agora