Era uma manhã fria,mas Angélique sentia tudo, menos frio. Talvez fosse pela marca vermelha em sua bochecha que estava ardendo, ou então seu sangue que parecia correr mais rápido e deixava seu corpo mais quente pela adrenalina, contudo, qual adrenalina? Obviamente a de ter tido a sua primeira briga.
— Você está bem...? — murmurou o homem, preocupado e constrangido demais, sentido-se até mesmo culpado.
— Sim. — respondeu ela, como se nada tivesse acontecido. — Na verdade, estou até mesmo animada.
Essa realmente foi a primeira briga em que a Nanami havia se envolvido, foi um pouco emocionante e se não fosse pela ardência em seu rosto, a sensação poderia ter sido melhor. Suguru olhou para a jovem com certa estranheza, como se não estivesse entendendo tal animação.
Ambos estavam sentados em um banco perto do bar, um silêncio se instalou depois disso e ele suspirou pesadamente; ele nem mesmo conhecia aquela moça, mas ela havia levado um tapa de sua ex-namorada por culpa dele. Pensando bem, a loira que tinha uma aparência quase angelical não era totalmente inofensiva.
[...]
Quando o som do tapa ecoou pelo beco onde os três estavam, o choque passou pelo rosto do homem, seus olhos se arregalaram e ele rapidamente se colocou na frente da loira que havia aparecido tão de repente.
— O que você pensa que está fazendo?! — Geto cobriu a mulher com sua estatura alta e grande.
— Quem é ela?! — exclamou a acastanhada, ignorando totalmente qualquer coisa que o homem falasse. — Quem é ela? — repetiu, transtornada. — Quem é essa mulher? Por que ela te chamou assim?!
Geto mordeu o lábio inferior, percebendo que não importava o que ele dissesse, ela não iria se acalmar. Ele não sabia quem ela era, entretanto, sabia o que ela queria fazer, e por isso, não podia mais deixar que ela se machucasse.
— Sobre isso... — começou o moreno, apenas para ser empurrado para o lado pela mulher de longos cabelos loiros.
Angélique ficou atordoada por longos segundos, não conseguindo compreender o que havia acontecido, ou melhor, não acreditando no que havia acontecido. A dor, a ardência crescente em sua bochecha esquerda que a trouxe de volta à realidade; então quando olhou para a frente, viu as costas de de Geto a protegendo. O empurrou para o lado, ficando cara-a-cara com a garota, que se chama Jenny.
Jenny, de repente, sentiu seu corpo estremecer ao ficar cara-a-cara com a loira, mas não recuou e quando abriu a boca para provavelmente tirar satisfações, que certamente não eram de seu direito, seu corpo cambaleou para trás. Se antes ela estava transtornada, agora ela conseguiu voltar a si rapidamente; levou a mão até o rosto, levantando o rosto para conseguir olhar a loira.
Dessa vez, o moreno não conseguiu se mexer, olhando para a situação com espanto e ficou sem palavras, até mesmo mais que Jenny, que havia perdido toda a sua raiva e coragem em questão de segundos, ou melhor, em questão de um tapa.
A Nanami não conseguiu se controlar e seu corpo reagiu por conta própria, poderia dizer que foi por legítima defesa. Vendo a pele que rapidamente ficou vermelha, quase se sentiu um pouco mal, contudo, rapidamente afastou esse sentimento para lá. Em situações anteriores ela certamente teria tentado amenizar a situação, mas dessa vez ela estava realmente irritada.
— Antes de qualquer coisa —, começou ela, dando um passo para frente, fazendo a outra retroceder. — Meus pais nunca me bateram, então não será você quem vai fazer isso e sair impune. — A expressão de Angélique ficou severa, como nunca antes. — E segundo...
Olhando na direção de Suguru, ela esticou o braço e segurou na mão dele, o puxando para seu lado, o agarrando mais uma vez.
— Não volte a mexer com o meu namorado! — exclamou, com certo orgulho ao chamá-lo de namorado, deixando-o atordoado. — Deixe meu namorado em paz, ou então vou te intervir novamente e não será de um jeito nada agradável.
Para a primeira ameaça que estava fazendo, Angélique foi mais que convincente e não demorou muito para Jenny ir embora, e agora, estavam ambos sentados, um pouco perdidos em pensamentos. Depois de alguns momentos, a garota percebeu a expressão sombria dele e decidiu quebrar o silêncio.
— Foi divertido, quero dizer... — disse, recebendo a atenção dele e se corrigindo ao vê-lo perplexo. — Espero que ela não volte mais... — comentou.
— Eu espero...
Em silêncio novamente, ambos sabiam que aquela maluca certamente não iria desistir tão facilmente assim e um suspiro silencioso escapou deles. A Nanami sabia o que aconteceria depois disso, que graças a ela as coisas iriam ficar um pouco mais complicadas agora.
— Eu assumo a responsabilidade. — falou ela, de repente.
— Responsabilidade...?
— Sim! — A loira se levantou e deixou o livro, que estava em seu colo, no banco e ficou na frente dele. — Sim, eu assumo a responsabilidade como a sua namorada!
Por um momento, Suguru pensou ter escutado errado, que seus ouvidos tinham o enganado e isso transpareceu em seu rosto, então ela tornou a repetir.
— Vou assumir a responsabilidade por você. — repetiu, com mais firmeza agora. — Alias, sou Angélique, Angélique Nanami. — Ela estendeu a mão para ele.
Incrédulo, ele a encarou, não conseguindo acreditar no que ela estava dizendo. Assumir a responsabilidade por ele? Talvez fosse o cansaço que estava tomando conta dele pelas noites mal dormidas, ou então, os diversos problemas que estavam tomando conta da cabeça dele nesses últimos meses; o raciocínio dele estava lento. Respirando fundo, ele também se levantou, ou melhor, tentou, pois a Nanami colocou as duas mãos nos ombros dele e o empurrou de volta para o banco.
— Seu nome? — indagou.
— Suguru Geto... — respondeu em um murmúrio baixo.
— Suguru —, o chamou pelo nome. — Eu assumo a responsabilidade por você, vou te ajudar a se livrar dessa... mulher, okay?
Dessa vez por um sentimento diferente, ele suspirou e não soube como responder na hora, mas olhando para a jovem de cabelos longos e brilhantes, se pegou contemplando aquela visão por alguns segundos; os traços suaves e inocentes da face dela, os olhos brilhantes cor-de-mel e sua pele que parecia quase suave demais eram de fato uma distração para ele que estava cansado demais. Balançando a cabeça para afastar certos pensamentos que começaram a inundar sua mente, levou a mão até o rosto, beliscando a ponta do nariz enquanto franzia a testa por um momento, se recuperando segundos depois.
— Eu agradeço a ajuda, mas... — fitou o leve inchaço na bochecha esquerda na moça, o sentimento de culpa vindo novamente, afinal, era culpa sua que essa gentil garota tenha se machucado. — Isso é problema meu.
— Problema nosso. — corrigiu a loira. — Você sabe, agora estou na mira dela também.
Ambos sabiam que Jenny iria persegui-la depois do que havia acontecido, provavelmente iria deduzir que ela trabalhava no bar ao vê-la saindo pelos fundos, então seria apenas uma questão de tempo até ela aparecer de novo.
— Eu vou dar um jeito. — insistiu Geto. — Você até mesmo se machucou, sério, o seu rosto... — esticou a mão até a bochecha machucada, os dedos longos e calejados tocando a pele como se fosse a coisa mais frágil que ele já tivesse tocado.
— Só me proteja na próxima vez.
Angélique era realmente uma pessoa gentil, embora sentisse pena do homem também, ele parecia acabado, não sabia quantos problemas mais ele teria para lidar e gostaria de ajudá-lo, nem que fosse um pouco. Ela já estava decidida, o ajudaria a se livrar dessa ex-namorada impertinente.
Suguru Geto percebeu que não iria conseguir fazê-la mudar de ideia e o pensamento de se livrar de Jenny parecia tentador demais para ele. No fim, se viu aceitando tal absurdo, sem fazer ideia que sua mente e coração ainda estavam contemplando a imagem do anjo que caiu em suas mãos, mãos que estavam sujas demais para tê-la.
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Me and the Devil - Suguru Geto
Fiksi PenggemarAngélique sempre foi considerada uma boa filha e uma boa amiga; uma boa pessoa. Portanto, era comum boas ações virem dela, mas o que não era comum, sem dúvidas, eram as más consequências que isso poderia gerar. Quando ajudou um homem a escapar da ob...