Jardim do Diabo

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JARDIM DO DIABO

— dominar o mundo, é? — indagou parado na minha frente.
— sim — respondi direto.
Alastor me olhou de cima com seriedade e frieza.
— tendi... — um vento fresco percorreu a floresta naquele momento, me trazendo um pouco de calmaria — pfthihi... UWAHAHAHAAHHAHAGASHAHAHA! — e ele riu... como uma hiena gripada. Riu bastante como se eu tivesse contado a piada mais engraçada da história.
Levantei já totalmente recuperado e me limpei, queria continuar logo minha jornada, então me pus a caminhar.
- ei espera! — me chamou — oque quer dizer com, "dominar o mundo"? — questionou andando do meu lado.
— uh... pra ser sincero, esse sonho nunca foi meu — respondi olhando pro nada — mas o idiota que me prometeu isso disse que seria a coisa mais incrível que eu poderia almejar — contei lembrando do sorriso cínico daquele boboca loiro.
— saquei... — falou, provavelmente sem entender nada — então, é esse idiota que você e a Manu estão indo resgatar agora?
— yep — respondi e fiquei em silêncio após isso.

😐👐🌎👹

Avançamos pela floresta andando com cuidado para não cair em mais armadilhas.
— a Manu certamente vai na direção do templo, então é só a gente seguir nesse caminho — sugeriu o demônio doido depois de alguns minutos.
De fato, encontramos seu rastro de destruição...
Corpos de Stolas e outros animais irreconhecíveis enfeitavam a caótica paisagem destruída por aquela que já foi chamada de "anjo do caos".
— isso é um jardim do Diabo? — perguntei depois de notar a semelhança.
— as clareiras amazônicas? Sim, esse é meio que o reflexo desses jardins que tem no mundo humano — respondeu — geralmente os Stolas são seres naturais, livres e pacíficos. É só ver a beleza e a pureza desse lugar — explicou. Realmente, seria lindo se não estivesse destruído — Provavelmente algum demônio deve tê-los escravizados e os forçado a proteger o templo.
Lembrei daquele pequeno Stola que chorava e me senti mal por eles terem morrido.
— saquei... — comentei.
— bom, dizem que a muito tempo atrás, o príncipe Lúcifer vinha aqui para visitar uma amiga, eram... tempos de paz. Isso foi antes da grande guerra infernal — informou. Pra mim, isso era indiferente. Eu não me importava com os demônios e seus problemas.
Suspirei entediado...
— aposto que ele deve ter a matado quando se cansou dela — comentei observando alguns coelhos fugindo do fogo.
— errado. Ele a amava de verdade, que nem eu amo a Manu — comentou rapidamente — dizem que foi dando a própria vida pra que ela sobrevivesse que o príncipe Lúcifer foi morto na grande guerra infernal, trágico... eu nem pude lutar na guerra... culpa do filho da puta do Icarus — completou exaltado.
Eu tinha minhas dúvidas se Al sentia a morte de Lúcifer ou só tava chateado por não poder ter fatiado alguns crânios.
Me espreguicei pra espantar o sono.
— aaah... isso é só uma história. Demônios não amam — falei coçando a cabeça.
— oque quer dizer com isso, humano? — questionou sério.
Andei por um momento sem responder.
Eu sentia um vazio indescritível em meu ser naquele momento.
Aquela foi a primeira vez em que eu senti falta de verdade, da minha alma.
— quero dizer que... o amor, não existe — respondi, vazio.

😶

Finalmente saímos da floresta, agora, apenas o rio negro se punha entre nós e o templo, que continuava apenas um borrão colorido indistinguível, como um paredão arco-íris borrado, atrás das últimas árvores, no outro lado da margem.
— assim que passarmos pelo rio, poderemos vê-lo direito, só que... — disse Al olhando sério para o rio.
Observei também e vi que realmente ia dar trabalho.
O rio não era feito exatamente só de água...
Uma infinidade de pessoas se retorciam gemendo e se repuxando dentro enquanto eram levadas pela correnteza até uma queda d'água pra lugar nenhum no horizonte.
Seus corpos estavam pretos e decompostos. O barulho de seus gemidos era tenebroso e agonizante.
Me aproximei da borda tentando pensar em alguma alternativa para passar.
— voar não seria mais fácil? — perguntei.
— não consigo abrir minhas asas. Esse é o rio das lamentações de Hades. Sei lá, vai ver faz parte de algum teste — sugeriu enquanto tentava forçar suas asas para fora.
— bem, acho melhor pensarmos logo em- — fui interrompido ao sentir um pé em minhas costas e cair de cara no rio.
— vai na frente, meu peixe! — gritou me chutando pro rio.
Fui de encontro as águas barrentas e logo fui atingido por vários corpos agitados, e levado pela correnteza.
Engoli muita água suspeita enquanto me revirava no fundo tentando emegir desesperadamente.

O Livro de Endi - Destino Amaldiçoado Onde histórias criam vida. Descubra agora