19 de maio de 2042,
Quarta-feira.Gustavo's Pov
- Pai? Onde você tá? - Ouço Benício me chamar
- Na cozinha!
Continuo mexendo o feijão para ele não queimar e vejo meu filho se aproximar.
- Duas perguntas e um aviso - ele diz - Primeiro, cadê a mãe?
- Foi levar sua irmã na casa da sua madrinha, mas já deve estar voltando.
- Tá. Bernardo chamou o Pedro pra brincar na casa dele, então você já sabe que vai ter que tirar o Pedrinho arrastado de lá.
- Se sua mãe for buscar, ele sai de lá rapidinho.
Benício ri
- Cadê seu amigo? Já terminaram o trabalho? - pergunto
- A parte mais difícil já fizemos, agora ele tá lá secando o papel por que derrubamos água - vejo Benício respirar fundo, coisa que ele sempre faz quando vai mudar de assunto - No sábado é aniversário da Laís, e ela me convidou. Posso ir?
- Que horas e aonde vai ser?
- As três da tarde, na casa dela.
- Por mim você pode ir, mas eu e sua mãe vamos trabalhar. Vê com a vó Ju e o vô Marcos se eles podem te levar.
Benício concorda com a cabeça e começa a me ajudar a fazer o almoço, certeza que ele tá tentando fugir do trabalho da escola. Percebo ele muito quieto (o que não é normal, o Bê é igualzinho a Ana Flávia, não consegue ficar parado), acho que tem alguma coisa errada.
- Hey Beni, tá tudo bem? - me aproximo dele.
- Tudo certo, pai.
- Tem certeza?
- Tenho, eu to bem - ele repete, mas a hesitação em sua voz me diz que não está.
Pego uma colher de madeira e começo a mexer o arroz, tentando quebrar a tensão. Mas não consigo ignorar a expressão preocupada que ele está tentando esconder.
- Se não está tudo bem, você pode me contar, sabe? Somos uma equipe, você e eu.
Ele dá um suspiro profundo, como se estivesse decidindo se vale a pena abrir o jogo. Acabo de colocar o arroz na panela e me viro para ele, esperando.
- É que... - ele começa, hesitante. - Na escola, alguns colegas andam falando sobre uns amigos que se mudaram. Eles estão preocupados com isso, e... eu também tô. Não quero que a Laís se mude. E se essa festa de aniversário for a última vez que eu a vejo?