Mackenzie - Presente. -

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Eu e Beca trocamos um olhar compreensivo e sorrimos, lembrando de como tivemos a mesma reação em nosso primeiro dia de aula, mesmo tendo ingressado em anos diferentes.

Ela pega os folhetos da minha mão sem soltar meu braço, apesar das pessoas esbarrando em nós, e tira algo do bolso de sua saia, colocando-o na minha mão livre.

Eu abro minha mão e observo o semicírculo de borracha preta enquanto ela continua me arrastando para longe da onda de alunos. O grupo de ex-alunos, no qual ela deveria estar agora, está dando ordens para direcionar a horda de adolescentes até o campo de futebol, onde acontecerá a cerimônia de abertura.

— Por que isso? — indago, esticando a touca de natação quando ela finalmente me larga e, para minha surpresa, envolve meu pescoço em um abraço apertado.

Eu retribuo, meio sem jeito, sentindo minha testa se enrugar ainda mais quando ouço seu nariz fungar na minha orelha, aparentemente chorando.

Eu e Beca não somos exatamente amigas, pelo menos não do jeito que eu e meu grupinho somos. Nossa amizade foi construída ao longo dos anos, começando como um mecanismo de defesa contra o restante da escola. Apesar de quase todos os alunos terem em comum uma conta bancária exorbitante, a maioria parecia determinada a excluir qualquer um que fosse minimamente diferente do padrão a que estavam acostumados.

Temos uma piada entre nós que diz que basicamente somos almas gêmeas. Nos olhamos na primeira semana de aula da sétima série, ainda aterrorizadas pelo sistema competitivo do colégio, e reconhecemos, sabe-se lá como, que o que fazia com que os outros ignorassem nossa presença ou que atravessassem para o outro lado do corredor só para não trombar conosco era algo em comum entre todas nós. Desde então, nunca nos desgrudamos.

E, por mais que seja uma piada, não é como se fosse mentira. Tudo começou comigo e Taylor; um dia, nos olhamos na fila do refeitório e nos sentamos juntas, em silêncio, porque era quase impossível não perceber as encaradas que as duas únicas garotas negras daquele ano atraíam.

Depois foi Lily que se juntou a nós, a primeira aluna do Instituto Atenas a ingressar na academia por meio do programa de bolsa de estudos criado naquele ano. O grupo foi se expandindo, formando nossa panelinha inseparável de pessoas que faziam parte de uma minoria óbvia demais para que o resto dos elitistas do Instituto Atenas se dessem ao trabalho de olhar duas vezes para nós.

Mas Beca não faz parte desse grupo, e nossas interações nunca passaram de assuntos que envolvessem o time de natação ou algo do tipo. No entanto, ela é uma das poucas garotas tipicamente brancas, loiras e de olhos claros que me olha nos olhos e é realmente legal comigo, não daquele jeito em que fica evidente que ela é legal só para ser inclusiva ou algo do tipo, mas porque ela é sinceramente legal com todo mundo, e eu não sou uma exceção.

Ela é um ano mais velha que eu e era capitã da equipe de natação à qual entrei na oitava série. Desde então, venho me destacando no time, ganhando respeito dela e das outras meninas, o que me levou, neste ano, à indicação de Beca ao corpo docente, que decide as premiações de cada semestre, os representantes de turma e os capitães dos times escolares.

O teste é na sexta, e eu não poderia estar mais nervosa.

— É só que... — ela solta meu pescoço e limpa os olhos, fungando outra vez antes de agarrar minhas mãos e apertar com força. — Você vai ser tão importante para o time... Use isso no teste, está bem? É para dar sorte.

Ela sorri e se inclina para beijar minha bochecha, se ergue do banco e corre na direção da fila de alunos que seguem para o campo, desaparecendo no meio deles. Eu não me mexo, apenas encaro a touca enrolada nas minhas mãos, sentindo toda aquela expectativa e pressão afundar meu estômago.

O modo como ela disse... O modo como me olhou, como se soubesse que serei a escolhida, como se isso já estivesse decidido. Estou emocionada com o gesto dela, e meu coração ficou mais aquecido quando ela explicou que isso seria como um amuleto da sorte. Algo que eu esperaria de Taylor ou Lily, até mesmo de Kara, que é a garota menos sentimental que conheço, mas receber isso de Beca foi quase tão especial quanto. O fato de ela, que nem me conhece tão bem assim, ter tanta fé em mim e acreditar de verdade que vou conquistar o título de capitã e que, talvez, eu faça a diferença na equipe.

Guardo a touca na minha bolsa, o corpo de certa forma mais leve quando me levanto, correndo em direção à fonte enquanto meu celular vibra loucamente no bolso da saia.

Passo pelas oliveiras e tomo cuidado para não esmagar acidentalmente nenhum dos narcisos enquanto atravesso o jardim, quase escorregando ao pular o degrau que separa o lado direito do jardim do caminho de pedra polida que leva às escadarias de entrada. Pulo o degrau seguinte para adentrar no lado esquerdo do jardim, onde está a fonte, avistando as meninas acenando para mim.

— Pronto. — digo ao me aproximar, ofegante, mas não consigo impedir o sorriso que se abre ao vê-las ali, todas vestindo moletons dos clubes que participam para esconder o que está por baixo.

— Vamos logo! Não temos muito tempo. — Nora saca seu celular, e nós nos agrupamos ao redor dela, trocando olhares entusiasmados antes de ela clicar na tela para gravar.

— Um! Dois! Três!! — nós berramos ao mesmo tempo, jogando as bolsas no gramado e arrancando os moletons por cima da cabeça, revelando a blusa do uniforme vinho e dourado que só os alunos do último ano usam.

Soltamos mais alguns gritinhos e nos abraçamos, amarrando os moletons nas cinturas e voltando a nos juntar para tirar uma foto com nossos uniformes à mostra.

— Ei, esse moletom é meu! — Taylor segura meus ombros e me vira de costas, conferindo o seu nome estampado na parte do agasalho que está aparente atrás das minhas pernas. Eu aceno, retornando à posição em que estava antes de responder:

— Sim, roubei de você antes das férias e você só descobriu hoje, parabéns! Mas você só descobriu agora porque os moletons da equipe de natação são ridículos. — E são mesmo, por isso alterar esse detalhe está em um dos primeiros itens da minha lista de prioridades caso eu me torne capitã.

— Sorriam e digam "X!!" — Nora diz, e nós o fazemos, enquanto o flash quase nos cega, provocando uma enxurrada de exclamações emburradas enquanto esfregamos os olhos.

— Agora vamos correr, faltam cinco minutos para as sete. — Nora interrompe as reclamações, olhando para o celular. Logo estamos todas correndo, contornando a fonte em forma de ânfora onde tiramos a foto. Acabo ficando mais para trás, ainda esfregando os olhos por causa do flash e do vídeo, e pensando na touca de Beca, que ainda está na minha cabeça. Até que uma risada logo atrás de mim me paralisa, o sangue congelando em minhas veias e minha pulsação parando por um momento. Eu me viro, procurando a origem daquela gargalhada tão dolorosamente familiar.

Tenho tempo de avistar apenas um amontoado de cachos negros, costas musculosas cobertas pela mesma blusa que a minha, antes que Lily enganche o braço no meu e me chacoalhe. O som estridente do sinal indicando que a cerimônia já vai começar me dá o impulso que preciso para me mexer.

— O que aconteceu? — Lily pergunta, gritando por cima do barulho ensurdecedor da sirene e correndo ao meu lado para as arquibancadas, onde nossas amigas nos esperam. Mas aquela risada está ecoando na minha mente, e a visão dos cachos pretos e das costas vestidas com o uniforme não somem, por mais que eu pisque diversas vezes. Talvez eu esteja pálida, já que não sinto meu rosto esquentar como normalmente faz quando estou correndo como agora.

Não... Não é possível, não é? Quer dizer, não é como se eu fosse reconhecê-lo de costas, reconhecer sua risada ou o seu cabelo bagunçado depois de dois anos, certo?

Ugh! Eu deveria ter imaginado que escutar Taylor Swift na manhã de um dia entupido de ansiedade não seria uma boa ideia.

Para Todas As Garotas Viciadas Em Amar. - Em Andamento. -Onde histórias criam vida. Descubra agora