vinum.

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VINHO NA SEDA

A vida é o que acontece enquanto o tempo se vai, a terra se move, os rios correm e os amantes morrem. O sol nasce e some. Como todos os que vem e vão. Park Jimin tinha os olhos presos na linha do gesso do teto, viajavam de uma ponta para outra, se perguntando quanto tempo deve ter levado para terem feito uma peça tão bonita. Seus sonolentos piscavam lentamente quando se moveram em direção a porta do quarto, sabendo que precisava levantar-se. Sentia frio, mas no fundo tinha esperança de que fosse um dia bonito, um que ele pudesse fazer de conta que estava dentro de um conto e adorar estar vivo. Mas o dia não era ensolarado, não havia uma brisa leve, muito menos pássaros cantando nas árvores do jardim.

Era um dia cinzento. O céu era silencioso ao derrubar a neve densa, a temperatura estava tão baixa que mesmo com os aquecedores ligados, ainda era muito frio. O corpo fora arrastado em direção a porta, que rapidamente já havia se levado até outro cômodo. Mãos, pequenas e delicadas, seguraram o tecido creme da cortina da sala e abriram para buscar por luz. Jimin, formou uma expressão emburrada ao olhar para o lado de fora e só encontrar o branco da neve, cinza e mais cinza. Não era como se naquela época do ano pudesse haver um gramado verde e flores recém-floridas, mas havia uma esperança nele de que o tempo fosse mais rápido para levar os tons escuros para bem longe. A escuridão não lhe agradava, tons escuros muito menos, por isso usava seu pijama de seda branca enquanto deslizava os pés descalços pela casa que, nada ironicamente, era decorada em tons de bege e branco.

Passando por um corredor largo, enfeitado por obras de arte caríssimas e vasos de plantas, chegou na cozinha, suspirando fundo ao ter de acender a luz, outra vez muito entristecido por notar que sem a luz natural do sol para entrar pelas janelas, precisava de luz artificial para enxergar.

O corpo magro se movimentou lentamente pelo cômodo, primeiro colocando água para ferver, depois posicionando o filtro de café sobre uma peça de porcelana feita para armazenar o líquido quente depois de passado. Por ter acordado a pouco, estava lentamente despertando de sua preguiça matinal. Para ajudar, começou a cantarolar uma de suas próprias músicas, já que era um cantor famoso.

De um cantarolar, foi para quase gritos, enquanto rodopiava sozinho pela cozinha e preparava um sanduiche para acompanhar o café. Não passava muito tempo na Coréia desde sua última viagem de férias, juntando aos muitos outros trabalhos no exterior como cantor e modelo. Entretanto, havia tirado alguns dias livres para ficar onde nunca passava muito tempo: sua própria casa. Como estaria voltando para a rotina de uma turnê mundial em alguns dias, não teria muito tempo para si, então havia aproveitado a última noite com uma garrafa de vinho e programas de fofoca sobre famosos que nunca ouviu falar. Por isso, naquela segunda-feira, precisou se esforçar para levantar-se da cama as oito da manhã e preparar seu café.

O cheiro de café começava a tomar conta do lugar. Park bagunçou o cabelo de fios naturalmente ruivos antes de morder um pedaço de bolo e esfregar o olho esquerdo, ainda ensonado. Havia um pequeno — grande — detalhe sobre Park Jimin, o qual não conseguia se acostumar desde garoto; O ruivo perdeu oitenta por cento da visão do olho esquerdo quando era criança, fazendo com que uma camada da esclera ficasse sobre sua íris e pupila. Tudo o que conseguia ver era vultos e sombras pelo esquerdo, enquanto o direito era saudável. Era uma peculiaridade quase única para todos que o conheciam. Os fãs o protegiam e ele era muito respeitado dentro da empresa em que era agenciado. Mas a indústria não perdoa nem os perfeitos, quem dirá deixar o Park de lado quando se tratava de fofocas e manchetes sensacionalistas.

Sua carreira começou muito cedo, nos seus treze anos de idade, já havia conhecido lugares maravilhosos, mas parecia saber de cor os mais horríveis. Entretanto, mesmo que tivesse passado por tantos momentos cruciais em sua vida, jamais conseguiu deixar de ser animado e cheio de vida. Todos a sua volta se encantavam quando o viam, quando falavam com ele e notavam o quanto de luz irradiava dele. Luz combinava com Jimin, ele era acostumado com ela.

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