Capítulo 21

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Flórida, 1761

casa dos Feyler

A conversa deixou Ava mais leve e ela sentia que finalmente podia sentir-se feliz em seu aniversário. O pai havia saído para a cidade em busca de algo para o celeiro quebrado, enquanto Elizabeth e Ava cozinhavam o almoço.

Ava sussurrava baixinho orações enquanto cortava alguns legumes para a panela. Vez ou outra Beth olhava discretamente, pensando em como sua filha havia crescido e mudado seus hábitos.

Edgar regressou com uma caixa nas mãos repleta de coisas para a cozinha. deixou um beijo na têmpora de Ava, disse que precisava sair novamente e as deixou sozinhas mais uma vez.

Ava sentiu uma leve tensão entre os pais, mas deixou passar. Talvez fosse apenas sua imaginação.

Mais tarde, após um almoço quase silencioso, ela teve certeza que algo estava estranho. Seus pais nunca haviam feito uma refeição inteira sem conversarem; especialmente quando Edgar saía para a cidade. Os dois mal se olhavam nos olhos.

Enquanto limpava os pratos e sua mãe arrumava a mesa, Ava decidiu tirar suas dúvidas de uma maneira sútil.

- o papai está bebendo? - esperou algo, mas só recebeu um murmúrio como resposta - senti o cheiro quando ele voltou da cidade.

Elizabeth permaneceu em silêncio por um longo tempo, mas enfim respondeu com voz de lamento:

- ele voltou a beber pouco depois que você foi para o convento. Agora, ele tem sempre uma desculpa para ir à cidade e acaba tomando alguns goles de rum por lá.

Ava terminou de limpar tudo e virou-se para a mãe. Não havia reparado antes, mas em meio a felicidade de rever a filha, havia uma certa melancolia em seu olhar caído.

- está tudo bem entre vocês?

Beth respirou fundo, talvez pensando em como responder àquilo.

- ele está mais caloroso hoje que vocês está aqui. Talvez para não preocupar você. Mas a verdade, querida, é que eu não sei se ainda o amo.

Aquelas palavras foram como uma pedra atirada em direção ao coração da Feyler mais nova. Foi até sua mãe, segurou-lhe as mãos e a fez olhá-la nos olhos. Viu claramente a dor que a mulher mais velha carregava.

- é claro que ainda o ama. Estão unidos pelas mãos de Deus e homem nenhum separará. Vocês são o que há de mais belo nessa família.

- ah, querida... Ele está mudado. Ainda é o homem gentil e bondoso com quem me casei tantos anos atrás, mas há dias que ele sai de manhã e volta bem tarde da noite, bêbado e sabe-se Deus o que mais ele faz na cidade com os amigos.

- o que quer dizer com isso?

Ava puxou uma cadeira para Beth e sentou-se em outra bem próxima.

- há alguns dias eu o ouvi alucinar sobre uma mulher. Não a conheço e tampouco me importo com quem seja, mas acredito que seu pai tenha uma amante.

Isobel não conseguia acreditar naquelas palavras. Seu pai parecia ser o marido mais perfeito que já conhecera, mas isso acabava com toda a sua visão perfeita sobre ele.

- o que vai fazer? Conversará com ele sobre esse assunto?

Elizabeth balançou a cabeça negativamente e enxugou os cantos dos olhos.

- não, querida. Não há o que falar. Nós estamos bem na medida do possível e isso é o suficiente. Somos uma família e eu não permitiria que algo como isso nos separasse.

Filha Do Mal (Pausado) Onde histórias criam vida. Descubra agora