DORMIR CEDO DEFINITIVAMENTE não é um habito comum na casa Ogawa. Eu aceitei este fato após a primeira semana dormindo no mesmo quarto com meu irmão; ele passa muitas noites fora de casa -ainda não sei onde- e as vezes em que ele resolve não sair, fica acordado até as onze horas, toda vez. Não houve uma noite em que ele dormiu antes das onze. A princípio presumi que ele tivesse problemas com insônia, ou tivesse pesadelos, mas ele sequer deita na cama. Fica a noite toda escrevendo em um caderno que ele esconde embaixo do colchão, ou lê quadrinhos, ou fica ouvindo música enquanto navega no computador. O som do colchão afundando só acontece quando ele de fato vai dormir, aí é um Deus nos acuda, por que ele ronca igual à um caminhão. Se eu não dormir enquanto ele está acordado, com certeza não conseguirei quando ele se deitar.
Uma semana dormindo mal. Eu demoro pra me acostumar com as coisas, ainda que essas coisas em questão, sejam a minha casa de infância. Acho que isso se deve ao fato de que a casa mudou bastante. Ela ainda é bem humilde, mas comparada ao que era quando eu tinha sete anos, nossa, mudou pra caramba. O piso que antes era de chão batido, deu lugar a cerâmicas simples, com detalhes retangulares; as paredes eram de madeira, e agora elas tinham acabamento e pintura, uma pintura de segunda mão e desgastada, mas era pintura. Agora tem portas! As cortinas foram substituídas por portas de madeira e de correr, parabéns ao Antônio, ele deve ter tido trabalho.
- Lala, tu não quer jogar comigo, não? Tem umas mulheres bem fortes também. - Beto perguntou de novo, pela quarta vez. Eram oito da noite e eu ainda não tinha pego no sono, então estava ouvindo música no meu mp3, eu havia baixado várias músicas antes de viajar, já que minha mãe não quiser me deixar trazer os cd's. Mulher egoísta.
- Eu não manjo desses jogos aí, Beto. - respondi enquanto refletia sobre o quiz de uma revista que havia trago comigo. Qual seria o batom perfeito para sair com o garoto que você gosta? Pensando bem, acho que não uso batom desde os doze anos. Será que por isso que nunca namorei?
- É só Mortal Kombat, é fácil. Sai dessa revista chata de menina aí. - disse jogando uma embalagem de cd vazia nas minhas mãos.
- Cara, tu quase acertou minha cara! - reclamei jogando a embalagem de volta.
- Qual é, vamos jogar um pouco. Só um pouquinho, amanhã nem aula tem. - ha! Como se ter aula ou não fosse impedir Beto de virar a noite.
- Esses negócios de joguinho derretem o cérebro. - Fechei a revista e a joguei no chão ao lado do pé da cama. - Deve ser por isso que tu é meio tan tan das ideia. - me virei de costas para Beto, encarando as deformidades da parede enquanto esperava que o sono viesse.
- Tan tan das ideia... Você que é esquisita. - rebateu e eu o ouvi largar o controle do vídeo game com força no chão. - Fica lendo essas revistas, sendo que você nem se parece com elas. Nada haver contigo.
- E o que que tu sabe de gurias, Beto. Cala a boca! - fechei os olhos com força e me cobri inteira. Antes de adormecer ainda pude ouvir Beto apertar os botões do controle.
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Nossa Geração é a Pior de Todas ⚢
RomansaLara Ogawa Pereira cometeu um erro, um erro catastrófico ao seu ver. Já que agora ela foi enviada para Serra das Cores, uma cidadezinha do outro lado do estado. Onde mora seu pai e seu irmão mais velho, os quais ela não vê direito há alguns vários a...