Unknown - Yungi

Capítulo 3: Rastilho

Mingi se deu um intervalo de quinze minutos após passar a manhã e uma grande parte da tarde quebrando a cabeça com suas produções musicais, havia conseguido finalizar com muito esforço a demo que estava trabalhando. Mas não parava de pensar na conversa que tinha tido com Kyungmin mais cedo, a ansiedade causada pelo sentimento de inércia em relação ao seu trabalho ecoava, ou melhor gritava em sua mente.

Saiu de seu estúdio, e pegou o elevador do prédio para o que ele gostava de chamar de "ponto de compreensão". Era o seu espaço especial para onde ia no momento em que precisava espairecer e colocar a cabeça no lugar, e também o único onde poderia ficar sozinho e fumar um pouco, caso desse vontade.

Ao chegar no terraço do prédio, onde ficava o ponto de compreensão, o céu da tarde já estava laranja demais, sinal de que o dia estava finalmente acabando. Tinha passado rápido demais, e não de um jeito bom e sim de um jeito sufocante, isso causava dor em seu coração por não se sentir produtivo o suficiente naquele dia.

Pegou a lona impermeável que deixava escondida embaixo de algumas caixas ao lado da porta, e a posicionou no chão com a visão direta para o sol descente na distância, finalmente se sentando ali e apoiando as costas na parede atrás de si. Naquele momento em específico, sentiu surtir o efeito do ponto de compreensão, e o mundo parecia estar passando em um ritmo mais leve.

Passou a mão pelo maço de cigarro que fazia peso em seu bolso, e criou coragem para retirar um da caixa e acendê-lo com seu isqueiro velho e cansado. Entretanto, não conseguiu o levar à boca, tentou mas sua mão se manteve parada estática no ar por alguns segundos, então ele suspirou pesado e amassou o cigarro com tudo, o jogando longe logo em seguida. Sua mão tinha sido um pouco queimada e agora ardia, mas aquela dor não era o que realmente o incomodava, e nem seria capaz de o fazer naquele momento.

O pobre coitado sentia tanta culpa por fumar, mesmo que de vez em nunca. Certa vez Yunho o pegou fumando, e o loiro chorou tanto ao ver o seu amor "se matando" daquela forma que Mingi pegou um trauma da situação. Desde então nunca mais conseguiu sequer pensar em fumar perto de Yunho, ou em qualquer hipótese que o namorado pudesse ver ou descobrir que ele estava fumando. Mas mesmo sem a presença física dele ali, ele mesmo se condenou do mesmo jeito que o namorado o fazia.

Seu incômodo ao longo do dia havia se transformado em ansiedade, que agora tinha se misturado ao ódio de não conseguir enfiar um cigarro na boca.

Não conseguiu compor direito naquele dia, nem fumar, muito menos relaxar a cabeça e agora seu raciocínio parecia comprometido e seu cérebro parecia não funcionar de jeito nenhum.

Seus pensamentos tornaram a culpar Kyungmin por estarem sendo tão turbulentos, aquele garoto trouxe toda sua confusão para o estúdio e nublou a mente de Mingi em relação ao seu próprio ofício. Não era a primeira vez que ele tinha uma crise de identidade em relação ao seu trabalho, mas dessa vez a tal crise parecia muito mais real e chamava muito mais atenção, porque até então aquela tinha sido a crise mais racional e que mais fazia sentido para ele, esse era o problema, ele inconscientemente aprovava aqueles pensamentos turbulentos.

Estava perdendo bem rapidamente o entendimento do seu emprego que ele fez por tanto tempo e com tanto amor, e começando a se perguntar se alguém cantasse algo que ele havia colocado tanto de si, tanto esforço, tanto amor e tanto de sua alma, essa pessoa não sendo ele...isso não é a morte de sua arte?

— Puta merda! — exclamou com o próprio pensamento.

Mas qual era o motivo para isso agora? Por que ele não tinha pensado sobre isso antes de se tornar alguém que escreve e produz músicas para outras pessoas? Por que ele não estava conseguindo mais arrancar esse pensamento de sua cabeça?