𝘾𝙖𝙥𝙞́𝙩𝙪𝙡𝙤 𝟬𝟭

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𝐴𝑙𝑖𝑐𝑒

O córtex frontal é, basicamente, o centro de controle do nosso cérebro. Ele é responsável por muitas funções, algumas delas são: 1) avaliarmos as consequências de nossas ações; 2) agir de forma racional; e 3) regular nossas emoções. Um exemplo prático, do uso incorreto dessa região cerebral, é sair pulando de alegria pelo laboratório de bioquímica com um ácido em mãos. É incorreto, sabe? Pode ferir pessoas, acabar com o experimento do Dr. James, etc. Bom, parece que eu não sei!

Fiquei tão feliz com uma carta com letras douradas num papel bonito, que esqueci que em minhas mãos tem um frasco com ácido ascórbico e que são dez horas da noite, horário que não pode entrar em laboratórios, especialmente um laboratório que não é seu.

Penso que está um pouco confusa a situação na qual me encontro, que eu até consideraria cômica. Atualmente me encontro no laboratório de bioquímica de Oxford, Inglaterra - um fato importante de ressaltar é que eu não posso estar onde eu estou, eu não posso estar às 10 horas da noite no laboratório do Dr. James e eu não posso "pegar emprestado e nunca mais devolver" ácido ascórbico, a mais conhecida vitamina C. Acima de tudo, eu não posso ser tão descuidada! Mas, porém, entretanto, todavia, recebi a melhor carta da minha vida! O que eu estava pensando quando abri uma carta com um frasco de ácido na mão? Não sei, quem se importa afinal?

Minha comemoração é interrompida por pigarro de garganta, o que faz com que meus neurônios voltem pro lugar e eu volte a ser a, quase, Doutora Mestre Alice Ferreira. Parece que alguém se preocupa com o quê eu faço às 10 horas da noite...

Meu corpo endurece quando eu vejo o homem de quase dois metros na minha frente, James é basicamente uma geladeira Electrolux de duas portas, uma mistura do Henry Cavill com Alan Ritchson. Meus pensamentos são parados quando percebo a minha situação: óculos, cabelo despenteado, uma mão segura um frasco com ácido e a outra uma carta, estou de pijama e isso inclui um roupão. Meu deus, que vergonha!

- É difícil ver você feliz, Alice - James fala assim que paro de pular e o encaro - Pode continuar a sua comemoração, eu vou me retirar. Só cuidado com esse frasco, não quero chegar amanhã com um becker a menos.

Coloco o frasco na mesa e quando James faz menção de sair da sala, eu seguro seu braço e o paro.

- Doutor James, o que faz aqui? - pergunto meio atrapalhada - Está tarde e-e...

- Esse é o meu laboratório, caso não se lembre. Mas fica tranquila que não falarei para Rúbia sobre o roubo de ácido ascórbico.

- N-não era isso, pera, como v-você s-sabe que é-é ácido? - me enrolo com as palavras e o mesmo solta o braço que minha mão estava segurando. Óbvio que ele sabe o que é vitamina C!

- Boa noite, Doutora Alice! - James fala acenando para mim, enquanto sai do laboratório - Gostei da roupa - diz no final do corredor escuro com uma voz brincalhona, provavelmente rindo.

Suspiro em alívio e desespero. Por que ele tem que ser tão lindo? E gostoso? E perfeito? E casado? Ou melhor, o homem é simplesmente casado com a mulher mais foda de Oxford! Era só um trisal, entende?

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Releio a carta, algo não faz sentido... Mais especificamente a frase "Leve um acompanhante".

- Fudeu! Como eu vou levar alguém? Eu me dediquei todos os meus últimos anos para a academia! Eu levo um livro de álgebra aplicada!? - falo para Marie, o hamster que o laboratório cuida, ou melhor, o hamster que cuida do laboratório - Ah, que ódio!

A questão é que conhecer uma pessoa é um processo complexo e multifacetado que vai além de saber o nome e alguns fatos sobre ela. É uma jornada de descoberta que envolve a construção de uma conexão profunda e significativa com outra pessoa. Sempre soube que deveria sair mais, conhecer de verdade as pessoas e não só desistir em algum momento da conversa. Mas fazer o que se eu tenho nojo de homem e medo de mulher?

Casamento em HamburgoOnde histórias criam vida. Descubra agora