Capítulo 3 - The Magic

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Capítulo curtito e soft. 

Dependendo do desespero de vocês posto outro no sábado ou domingo (amo vcs)

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Eu estava sentada no sofá do meu escritório, e minha irritação crescia a cada segundo. Ridículo. Completamente ridículo. Eu, Miranda Priestly, reduzida a este estado — roendo as unhas como se fosse uma adolescente nervosa em seu primeiro encontro. 

Claro, não era um encontro. Era apenas a entrega do livro, um ritual diário, ordinário, um simples processo de trabalho. Mas a verdade é que minha mente estava inquieta de uma forma que não conseguia controlar. A pequena intrusa estaria aqui em poucos minutos.

Andrea Sachs, minha segunda assistente, quem eu recentemente descobri ser perdidamente apaixonada por mim, estaria na minha casa. Sozinha comigo, agora que as meninas estavam adormecidas. Por que isso me deixava tão... incomodada?

Olhei para o relógio pela terceira vez em menos de dois minutos, e senti uma onda de frustração percorrer meu corpo. "Céus, que demora é essa?" murmurei, baixinho. Por que ela precisava de tanto tempo para fazer algo tão simples? Estava esperando uma tempestade passar? Ou talvez decidindo se deveria ou não vir?

Idiota. Isso não me importa.

Quando ouvi o som da campainha, meu coração saltou no peito, e eu quase rosnei em frustração com a minha própria reação exagerada. "É só Andrea," repeti para mim mesma. "É apenas trabalho." Ela estava sem as chaves, então precisei ir recepciona-la. 

Levantei-me, ajustando o roupão de seda com um gesto impaciente, e fui abrir a porta. Lá estava ela, a figura esguia, segurando o livro com ambas as mãos. Ela tinha um sorriso tímido, hesitante, como se esperasse algum tipo de aprovação. Eu a estudei por um momento, sem expressão.

— Está atrasada. — Deixei escapar, o tom seco.

Ela piscou, surpresa. — Eu... sinto muito, Miranda. O trânsito estava complicado.

"Claro que estava." Eu podia ouvir as desculpas dela em minha mente antes mesmo de saírem da sua boca. Era como se a voz dela tivesse entrado diretamente na minha cabeça, trazendo consigo toda a nervosa consideração que ela tentava tão desesperadamente esconder.

— Hmph. Isso não é novidade. — Retirei o livro de suas mãos com um movimento brusco, permitindo que nossos dedos se tocassem, quase como se fosse um acidente. Andrea desviou o olhar por um segundo, e pude ouvir o turbilhão de pensamentos que me alcançou imediatamente:

"Ela está especialmente linda hoje... será que sabe o que está fazendo comigo?"

Meu coração deu um salto ridículo de ansiedade, mas mantive meu rosto inexpressivo. Fechei a porta atrás dela, deliberadamente devagar.

Andrea parecia estranhamente inquieta, com os ombros encolhidos e uma feição claramente preocupada. Sem que ela percebesse, toquei discretamente a barra de sua blusa enquanto pegava o casaco que ela trazia nas mãos. O toque era quase imperceptível, mas foi o suficiente para que sua mente revelasse o motivo de sua inquietação:

"Mas que inferno de tempestade! Preciso ir embora antes que Miranda perceba que tenho medo de trovões. Não quero me envergonhar na frente dela."

Contive um riso que ameaçava escapar. Andrea Sachs, minha assistente alta e aparentemente destemida, tinha medo de tempestades. Era quase adorável, se eu pudesse me permitir achar algo assim.

— Eu... estou indo, então... — ela balbuciou, tentando manter uma compostura que claramente lhe escapava.

— Não seja ridícula, Andrea, está caindo o mundo lá fora — retruquei, revirando os olhos. — Fique e espere passar. Tempestades assim são rápidas.

Ela hesitou, obviamente desconfortável, mas ao mesmo tempo parecia incapaz de se mover. Como um animal encurralado, procurando uma saída que não existia. 

— Miranda, eu realmente não quero incomodar... — começou, sua voz um pouco trêmula.

Incomodar? Como se isso fosse possível. Era quase irritante vê-la tão hesitante, tão preocupada em ser um fardo. Eu dei um passo mais perto, deliberadamente invadindo seu espaço, deixando que meu olhar perfurasse o dela.

— Você já está me incomodando com toda essa indecisão. — Suspirei, mantendo meu tom frio e firme. — Apenas sente-se. Tome um chá ou... qualquer coisa. 

Andrea abriu a boca para protestar, mas logo se calou, parecendo considerar minhas palavras. Ela desviou o olhar, mordendo o lábio inferior. A vi se esforçando para se manter firme, mas era visível que o som distante de trovões a deixava inquieta.

— Está bem... eu... aceito o chá. — Finalmente cedeu, a voz baixa, quase resignada.

Virei-me em direção à cozinha com um meneio de cabeça, tentando esconder o pequeno triunfo que senti ao perceber que Andrea cederia. Claro que cederia. No fundo, ela sempre cedia.

Ela me seguiu, silenciosa, até a cozinha, sentando-se na cadeira próxima à ilha, os ombros encolhidos e o olhar perdido. Perguntei-me, por um instante, se seus pensamentos estavam fixos em mim ou se ainda estavam presos no medo dos trovões que ressoavam lá fora. Um estalo alto e ameaçador cortou o ar, e seu corpo deu um pulo na cadeira, olhos arregalados. Era claramente a segunda opção.

— Sabe — comecei, sem olhar diretamente para ela, meu tom ligeiramente divertido — é quase irônico que uma mulher da sua altura tenha medo de um pouco de barulho. — Sorri de costas para ela, deixando a chaleira chiar no fogão.

— Tempestades são difíceis para mim... — Andrea murmurou, um rubor tingindo suas bochechas, os olhos voltados para o chão, como se esperasse que ele a engolisse.

Havia algo de ridiculamente adorável na forma como ela se encolhia, como se estivesse sendo julgada por uma fraqueza quase infantil. De repente, a provocação parecia menos interessante. Em vez disso, peguei minha própria xícara de chá, sentando-me ao lado dela, deixando o silêncio repousar entre nós, quente e denso.

"Eu sou realmente abençoada," sua voz ecoou novamente em minha mente, suave e reverente.

Virei a cabeça, intrigada. Como, afinal, eu estava ouvindo isso? Só então percebi a conexão. Nossos cotovelos estavam se tocando, um contato mínimo, mas suficiente para que seus pensamentos invadissem minha cabeça.

"Mesmo que o preço a pagar seja passar um pouco de vergonha na frente dela, qualquer minuto a mais ao seu lado é sempre uma benção."

Um rubor involuntário tomou conta do meu rosto. Como pode essa idiota estar tão apaixonada por mim? O quão cega ela poderia ser?

Por que ela era tão intensa? Tão transparente? Era desconcertante. E de alguma forma, profundamente irritante. Eu não precisava disso... Não queria essa... distração.

O trovão rugiu novamente, e por um momento, Andrea apertou os lábios, mas dessa vez, permaneceu imóvel. A mão dela, que descansava ao lado da minha, estava tremendo ligeiramente, e antes que eu pudesse pensar, meus dedos se moveram por conta própria, tocando os dela.

— Isso é... ridículo — murmurei, sem saber exatamente para quem estava falando.

Mas não tirei a mão. E ela também não.

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