Não houve muitas ameaças, mas esse já estava pronto (e vocês sabem que eu sou uma autora boazinha)
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Quando cheguei à revista na segunda-feira, eu esperava algum sinal de Andrea sobre nosso pequeno momento na sexta. Talvez um olhar prolongado, um gesto tímido... qualquer coisa que indicasse que ela havia refletido sobre o que acontecera.
Mas, como sempre, Andrea estava impecável em sua atuação profissional. Sorriu com sua eficiência costumeira, cuidando de todos os detalhes para que minha vida fluísse sem problemas. E ainda assim, eu não conseguia afastar uma irritante sensação de decepção.
Despontada? Eu? Ridículo.
Foi então que ouvi a voz de Emily rompendo o ar:
— Andy, você vai ao encontro?
Meus saltos estalaram contra o mármore, parando abruptamente. Desde quando minhas assistentes tinham conversas tão casuais? Havia uma intimidade ali que eu desconhecia... e que certamente desaprovava.
— Eu não sei, Ems. — Andrea deu de ombros, mas seu rosto estava tenso, como se pesasse suas opções.
Um encontro?! Como assim Andrea tem um encontro? Ela não deveria estar apaixonada por mim? Ela não deveria estar... pensando em mim?
— Talvez não seja uma boa ideia. — Andrea hesitou, sua voz soando incerta.
Isso mesmo, Andrea. É uma péssima ideia. Você não deve ir. Eu te proíbo.
Emily, claro, não captou a urgência da situação.
— Ora vamos, Andy, há quanto tempo você já está sem sair com ninguém? — A insistência em sua voz era irritante. — Ao menos dê uma chance, Victoria é uma ótima menina.
Andrea se mexeu na cadeira, encolhendo os ombros de forma desconfortável. Ela parecia dividida, como se realmente estivesse considerando o conselho de Emily. Mas por quê? Quem era essa Victoria, afinal? E por que, em nome de tudo o que é sagrado, Andrea estaria sequer pensando em sair com ela?
— Eu não sei, Emily. — Andrea finalmente respondeu, com um suspiro baixo. — Talvez seja... melhor assim. Eu não quero complicar nada agora.
Uma onda de alívio percorreu meu corpo. Nada de encontros. Nada de outras mulheres. Ótimo.
Emily, no entanto, soltou uma risada curta, o som agudo que me fez cerrar os dentes.
— Complicar? Você se preocupa demais, Andy. Só saia, divirta-se um pouco. Não tem nada de complicado nisso.
Pelo amor de Deus, Emily! Cale essa merda de boca.
Andrea mordeu o lábio, e eu pude ver a confusão em seus olhos, a hesitação incômoda.
— Eu só... — Ela começou, como se estivesse escolhendo suas palavras com cuidado. — Eu não acho que seja justo sair com alguém quando ainda não superei ela.
Meu coração deu um salto. Ela? Estaria se referindo a mim? Claro que sim. Quem mais?
Antes que pudesse me controlar, avancei, os saltos firmes e autoritários ecoando no chão.
— Emily, Andrea, espero que ambas tenham terminado os relatórios que pedi. — Minha voz saiu mais cortante do que pretendia, mas eu não estava disposta a disfarçar meu desagrado.
Andrea se encolheu ligeiramente, um rubor subindo em suas bochechas, enquanto Emily endireitou a postura, parecendo surpreendida e um pouco assustada.
— Sim, Miranda. — Responderam em uníssono, como duas alunas repreendidas, e isso trouxe um sorriso de satisfação ao meu rosto.
Dei-lhes um olhar frio e calculado antes de me virar, o tecido do meu casaco girando dramaticamente ao meu redor. A frustração ainda fervilhava em mim, mas havia outra sensação ali... algo novo. Um instinto possessivo que me surpreendeu.
Andrea não devia sair com ninguém. Não que eu quisesse que ela saísse comigo, claro. Mas ela definitivamente não deveria estar com outra pessoa.
[...]
Narrador POV
Ao final do dia, a redação já estava praticamente deserta. Andrea organizava sua mesa, pronta para finalmente ir embora, quando o som inconfundível dos saltos de Miranda se aproximando a fez erguer a cabeça. Era incomum vê-la ali a essa hora; Miranda geralmente já havia partido para algum evento ou compromisso muito mais importante do que prolongar a noite com os meros mortais da Runway.
Miranda parou ao lado da mesa de Andrea, os braços cruzados, como se estivesse deliberando entre ser fria e distante ou ceder a algum incômodo que a fazia franzir a testa. Os olhos azuis estavam atentos, faiscando com uma mistura de desdém e... alguma coisa mais profunda que Andrea não conseguia identificar.
— Então... — Miranda começou, com um tom casual, mas que carregava uma ponta de lâmina escondida. — Parece que você tem planos esta noite, Andrea.
Andrea piscou, surpresa pela pergunta. Miranda nunca se interessava pela sua vida pessoal — pelo menos, não de maneira tão direta.
— Ah... você ouviu? — Andrea respondeu, a voz vacilando, um pouco desconcertada. — Sim, Emily estava tentando me convencer a sair com uma... amiga.
Miranda fez um ruído baixo, entre um suspiro e um resmungo, o nariz levemente empinado, como se a ideia fosse ridícula ou patética. Como se não valesse nem o esforço de ser mencionada.
— Hmph. — Ela estreitou os olhos, braços ainda cruzados. — Parece uma perda de tempo.
Andrea esboçou um sorriso hesitante, um pouco divertido. A expressão dela suavizou, embora ainda carregasse um toque de cautela. Era sempre um jogo de adivinhação com Miranda, sempre um desafio decifrar o que estava por trás daquele olhar frio, mas intrigantemente intenso.
— Bem, talvez seja. — Andrea admitiu, mantendo o tom leve, como se testasse a temperatura da água antes de mergulhar. — Mas, às vezes, é bom fazer algo além de apenas trabalhar, certo?
Miranda bufou, um som seco, quase irritado, e seus lábios se apertaram em uma linha fina.
— Eu não disse que era errado... se distrair. Apenas que certas distrações são... desnecessárias.
Andrea percebeu o tom de provocação nas palavras de Miranda, uma sugestão afiada e ambígua. O coração de Andrea apertou um pouco, uma mistura de nervosismo e curiosidade, e ela decidiu arriscar.
— E o que você sugere, Miranda? Que tipo de distração seria... necessária?
Miranda ergueu o queixo, o olhar se estreitando como se Andrea tivesse cometido uma afronta pessoal. Mas, ao invés de se afastar, Miranda avançou um pouco, apenas o suficiente para que suas mãos se roçassem por um segundo ínfimo, quase imperceptível, mas eletrizante.
Por um instante, Miranda captou a voz de Andrea em sua mente:
"Deus, eu queria saber o que ela está pensando... O que ela sente por mim..."
Sentiu um calor tomar conta do rosto, uma mistura de irritação e algo que não estava disposta a nomear. Outra bufada escapou, dessa vez mais forte, quase como se tentasse afastar os próprios pensamentos.
— Sugiro que você... pare de se preocupar tanto com opiniões alheias e foque mais no seu trabalho. — A voz dela saiu mais firme do que esperava, mas o tom vacilou ligeiramente no final, como se uma emoção não convidada tivesse se infiltrado.
Ela se virou rapidamente nos calcanhares, já se afastando, mas algo a impediu de sair sem soltar uma última frase, algo que escapou sem sua permissão, um resquício de vulnerabilidade:
— E talvez... devesse ser mais seletiva com quem desperdiça seu tempo.
Andrea ficou ali, atônita, enquanto as palavras de Miranda reverberavam em sua mente. Havia uma nota de frustração, de desconforto... mas também, algo que se assemelhava demais a ciúmes para ser ignorado. Um sorriso tímido e surpreso apareceu nos lábios dela. A impenetrável Miranda Priestly, com ciúmes? Isso, sim, era uma distração interessante.
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Just a Thought
RomanceApós um pequeno acidente, Miranda passa a ouvir o pensamento das pessoas ao seu redor. Mirandy! UA!