★ Superar

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Assim que as portas da prisão se fecharam atrás de mim, senti o peso de tudo o que havia acontecido nas últimas horas me sufocar. Cada palavra que troquei com Armando, cada olhar, parecia tatuado na minha alma, queimando-me por dentro. Ao cruzar aquela porta, não estava apenas saindo de uma prisão física. Estava deixando para trás as últimas amarras que me prendiam ao medo, à dúvida e, talvez, até à esperança de que eu pudesse fugir de tudo isso.

Conforme meus passos ecoavam pelo corredor frio e silencioso, a única coisa que eu conseguia pensar era no quanto minha vida mudou desde que Armando entrou nela. Não era apenas o fato de eu estar envolvida com alguém como ele, mas o que ele representava: perigo, paixão, uma intensidade que eu nunca tinha experimentado antes. Mas havia outra coisa, algo mais profundo que ele trouxe à tona em mim: a dor do luto que eu sempre carreguei e que agora parecia ainda mais presente.

Flashback:

Lembro-me da noite em que tudo mudou. Eu tinha apenas 17 anos, cheia de sonhos, expectativas, e uma amiga inseparável, minha melhor amiga, minha irmã de alma. Nós éramos inseparáveis, duas jovens negras que se apoiavam mutuamente em tudo, que riam juntas, choravam juntas. Naquela noite, decidimos ir a uma festa. Não era a nossa primeira festa, e certamente não seria a última—ou pelo menos, foi o que pensamos.

Eu nunca poderia imaginar que aquela noite acabaria de forma tão trágica. Nós estávamos dançando, rindo, quando um grupo de homens brancos começou a nos encarar de forma estranha. No começo, eu tentei ignorar, mas algo no olhar deles me fez ficar desconfortável. Minha amiga, sempre mais ousada, apenas riu e disse que eles eram idiotas. "Não ligue para eles, Aline", ela disse, com aquele sorriso que eu tanto amava. "Eles não podem nos atingir."

Eu queria acreditar nela, mas o medo me corroía por dentro. Quis sair dali, ir para casa, mas ela insistiu que ficássemos mais um pouco. E então aconteceu. Eles se aproximaram de nós, começaram a fazer comentários racistas, nojentos, tentando nos provocar. Eu queria responder, queria defendê-la, mas fiquei paralisada. Senti uma onda de pânico tomar conta de mim, uma sensação de que algo terrível estava prestes a acontecer. E aconteceu.

Eles a atacaram. Eu vi tudo, vi como eles a espancaram até que ela caísse no chão, sem vida. Eu não consegui fazer nada. Fiquei ali, em choque, incapaz de mover um músculo, incapaz de protegê-la, de salvá-la. O som das risadas deles, das ofensas que gritavam enquanto a matavam, ecoa na minha mente até hoje. E o pior de tudo, a culpa. A culpa por não ter conseguido fazer nada, por não ter conseguido salvá-la. Eu deveria ter feito algo. Eu deveria ter lutado, gritado, qualquer coisa, mas não fiz nada. Só fiquei ali, vendo a minha melhor amiga morrer.

De volta ao presente:

Agora, enquanto dirijo pelas ruas iluminadas de Miami, sinto as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, mas não faço nada para detê-las. Elas são um lembrete constante da minha falha, do meu fracasso em proteger a pessoa que mais significava para mim. A cidade ao meu redor parece vibrante, cheia de vida, mas para mim, tudo parece sem sentido. As luzes que iluminam as ruas não conseguem afastar as sombras que habitam dentro de mim. Eu vivo com essa dor todos os dias, um peso constante que nunca desaparece.

Redenção- Armando Aretas Onde histórias criam vida. Descubra agora