02 | O falso pedido de namoro

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PARK JIMIN:

     Os traços das estrelinhas azuis se formavam lentamente enquanto minha caneta deslizava pela folha do caderno. A voz do professor de biologia tecidual parecia distante, quase um sussurro perdido na minha mente. Me segurei para não revirar os olhos quando Jiwoo, pela quinta vez — ou talvez fosse a sétima? — chamou o professor com aquela voz irritantemente manhosa para confirmar uma informação que ele acabara de explicar. Uma série de resmungos baixos veio de trás de mim, e soltei um riso nasalado ao perceber que não era só eu que estava de saco cheio dela.

A primeira aula do dia já estava quase no fim, e eu suspirei, cansado, o que me surpreendeu profundamente. Não era nem semana de provas e eu já sentia que minha mente estava prestes a entrar em pane a qualquer momento. Normalmente, eu era focado nos estudos, evitando ao máximo distrações que pudessem me fazer perder alguma informação importante da matéria, mas lá estava eu, completamente disperso, rabiscando a última folha do caderno. Em apenas uma aula, havia desenhado o sistema solar inteiro, e o mais incrível era que eu não conseguia me lembrar de uma única palavra do que o professor tinha dito nos últimos dez segundos.

Perceber isso me fez bufar de raiva. Apoiei os cotovelos na mesa e cobri os olhos com as mangas da blusa, tentando, em vão, controlar minha mente e fazê-la parar de pensar... nisso. Ou melhor, nele.

Eu não o tinha visto desde que entrei na sala, e nem sequer recebi uma mensagem confirmando que hoje seria o "belíssimo e grandioso dia do tão esperado pedido de namoro," o que era estranhamente bizarro.

Não que eu estivesse ansioso para esse grande acontecimento, longe de mim, mas não podia negar que quando acordei, esse foi o meu primeiro pensamento.

Fechei o caderno com um suspiro assim que ouvi o professor anunciar o fim da primeira aula. Uma movimentação atrás de mim chamou minha atenção, e virei a cabeça para ver o que era. Balancei a cabeça, desacreditado, ao ver Chaenyeol fazendo um coraçãozinho patético com as mãos.

Desde que contei sobre Jungkook, Chaenyeol criou uma fanfic dramática em sua cabeça sobre o nerd e o popular— o clichê dos mais clichês. Graças à sua imaginação fértil, sou obrigado a ouvir diariamente suas criações fictícias de momentos românticos pelos corredores da faculdade, estrelando ninguém menos que o casal do ano 2024 vulgo Jeon Jungkook e Park Jimin. E eu, claro, já perdi a conta de quantas vezes precisei lembrá-lo de que tudo isso não passa de um acordo ridículo que vai acabar assim que o calendário completar sete dias. Mas quem disse que ele me escuta?

Ainda bem que uma coisa em que sou realmente bom é me desligar do mundo e dos comentários alheios. É assim que sobrevivo no meio da multidão, tornando-me invisível, como se só eu existisse. Então, ignorar as criações mirabolantes de Chaenyeol não foi difícil.

Caminhei para fora da sala, decidido a passar um tempo na biblioteca, mas não conseguia afastar a curiosidade que crescia em meu peito sobre onde Jungkook poderia estar àquela hora. O ambiente da biblioteca era calmo, e o cheiro dos livros antigos trazia uma sensação de conforto que eu não encontrava em nenhum outro lugar. As pessoas aqui raramente pareciam interessadas nos livros; o local estava quase sempre vazio, variando apenas com a presença de duas ou três pessoas, no máximo.

Me dirigi ao corredor de livros literários, procurando alguma capa que chamasse minha atenção e me entretivesse por pelo menos alguns minutos. Eu precisava urgentemente pensar em qualquer coisa que não fosse Jungkook e aquele favor idiota.

Passei alguns minutos distraído, lendo as introduções dos livros mais do que realmente mergulhando em seu conteúdo. Estava quase me perdendo na calma do lugar, quando ouvi passos rápidos vindo em minha direção. Inclinei a cabeça, curioso, tentando entender o que estava acontecendo.

7 DIAS PARA SENTIR • JIKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora