01 | Anjo da guarda

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PARK JIMIN:

Em toda minha vida jamais me passou pela cabeça que, numa tarde ensolarada de uma quarta-feira comum, eu estaria prestes a vivenciar o pior acontecimento de toda minha vida.

Caminhando tranquilamente pelo gramado da praça, com minha cachorrinha Misoo saltitando ao meu lado, a última coisa que eu esperava era que algo desse errado.

E não, eu não sou ingênuo, tampouco cético das barbaridades que acontecem no mundo em que vivemos, mas eu sempre acreditei que assaltos tinham uma certa "lógica", um horário certo ou lugar mais propício: uma rua deserta, um beco escuro, numa tarde da noite. É claro que, com o mínimo de bom senso que ainda me resta, eu evitaria todos  esses lugares a qualquer custo. Mas em plena luz do dia? Na aparente segurança de uma praça movimentada?

Decidi levar minha cachorrinha Misoo para um passeio, e ela nunca pareceu tão feliz na vida. Seus latidos contagiantes me causou uma felicidade genuína, e por um breve momento, tudo parecia perfeito, até demais... Quando de repente, num piscar de olhos, minha felicidade foi arrancada de mim, assim como meu iPhone 13 Pro Max, recém-comprado e parcelado em 24 vezes com um total de três parcelas pagas.

A cena foi patética de tão humilhante. Lá estava eu, no meio da praça, agarrando à camiseta do ladrão, implorando com lágrimas nos olhos, como se isso pudesse de alguma forma reverter o que acabara de acontecer. Cada fibra do meu ser desejava que ele tivesse um pouco de piedade de mim e que me devolvesse o celular, mas ele se foi correndo, deixando-me sozinho com o vazio e a humilhação pra contar no próximo natal em família. E para completar, meu transtorno de déficit de atenção não me permitiu memorizar o rosto do desgraçado.

Restou-me apenas sentar e chorar. Da forma mais literal possível. Apenas chorar.

Sentado no banco duro da praça, segurando Misoo em meus braços servindo como consolo, as lágrimas corriam sem parar pelo meu rosto. Minha mente não me dava uma gota de descanso, fazendo-me voltar sempre àquela maldita fatura que venceria no próximo dia 20, de um celular que sempre foi o meu sonho de consumo e agora está nas mãos de um ladrão, que provavelmente o venderá pelo preço de uma merreca para algum pobre coitado que nem faz ideia de sua real origem.

Os olhos de Misoo me fitavam com certa pena, e perceber isso fez com que um soluço escapasse dos meus lábios. Céus, que situação humilhante!

Derrotado, eu nem notei quando passos começaram a se aproximar. Só levantei a cabeça quando uma sombra cobriu a luz do sol que me aquecia. Diante de mim, estava um rapaz, com as mãos enfiadas dentro de um casaco. Sim, do casaco! Em pleno calor de 40 graus! Mas, para ser honesto, aquilo não era o mais estranho, o que me chamou a atenção foi o olhar ansioso que ele lançava na minha direção, como se esperasse que eu dissesse algo. Tive a impressão de já tê-lo visto antes, talvez na rua, no mercado ou na padaria do senhor Kim. Busan não é tão grande assim para que eu descarte essas possibilidades.

Saindo do meu devaneio, voltei minha atenção ao rapaz à minha frente e soltei um suspiro cansado.

— Moço, eu não tenho nada! Acabei de ser assaltado. — Falei de uma vez, virando os bolsos do avesso para mostrar que não havia nem uma única moeda ali.

Por um breve instante, a expressão dele se fechou, como se tivesse ficado ofendido. Mas logo em seguida, um sorriso meio divertido surgiu em seus lábios.

— Eu não estou pedindo esmola! — Ele respondeu, franzindo as sobrancelhas. — Eu vi quando aquele bandido levou seu celular. Estava fazendo corrida do outro lado da rua!

— Sério? — Perguntei, sentindo uma faísca de esperança se acender em meu peito. Ele assentiu com a cabeça. — Isso é ótimo! Você pode ser minha testemunha! Você se lembra do rosto dele, certo? Podemos ir à delegacia e denunciá-lo!

7 DIAS PARA SENTIR • JIKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora