"Eu te amo para sempre, e um dia eu te reencontrarei, sei que você estará comigo em cada instante, não é um adeus, é um até mais"... essas foram as palavras exatas que Margarida pronunciou sobre o caixão da avó, antes que fosse enterrado, em prantos, seu mundo havia desabado e ela não sabia o que fazer, genuinamente, nem tinha o que fazer diante daquela situação. Agora quase 6 anos velha, dona Felipa se foi, 6 semanas antes de Margarida completar 20 anos de idade, foi um baque difícil, porém, aos 95 anos, tudo que se precisa fazer, que se quer fazer, é realmente descansar.
O enterro termina, Margarida abalada retorna para casa, tudo tem tanto o jeitinho de sua avó, desde a imagem de nossa senhora sobre o painel da TV, até as xícaras decoradas de porcelana dos anos 1960... mas a vida tem que continuar!
Durante as primeiras 3 semanas da morte da avó, Margarida estava realmente triste, consternada, chorosa, inconformada... mas com o apoio de suas amigas Clara e Sofia, ela começou a se sentir melhor, já conseguia sair de casa, pegar vento no rosto e ouvir o badalar do sino da igreja sem desabar em lágrimas, era um avanço.
Margarida já havia terminado o ensino médio há 3 anos, mas tinha decidido não ir embora fazer nenhum tipo de curso (em sua cidadezinha também não havia nenhuma opção), pois com a avó já idosa, ela priorizou aproveitar cada instante. Entretanto durante esse tempo, ela não tinha deixado de desenhar, em nenhum período. E agora tinha descoberto um novo hobbie: ela desenhava roupas.
Eram croquis de moda, com roupas variadas, mas todas bem detalhadas e criativas.
A pensão da falecida avó agora passou para ela, sua única neta e herdeira, assim como a casinha em Águas Santas, era o suficiente para viver, se ela assim quisesse, e ela queria, mesmo com suas amigas a incentivando agora a alçar novos caminhos e começar a patentear alguns desenhos e quem sabe fabricar algumas peças que eram realmente muito boas, mas ela ainda não tinha cabeça devido à morte da avó. Porém a ideia em nenhum momento a escapava, ela não desconsiderava, só não investia tempo e dinheiro nisso, não ainda.Já faziam 5 semanas desde que sua avó partiu, e ela agora já não sentia mais tristeza, mas felicidade pois sabia que ela estava em um plano melhor.
A essa altura, Margarida já frequentava as missas novamente e dormia na casa das amigas, ela também adotou um gato, que chamou de Giz, isso porque ele era laranja no mesmo tom em que um de seus giz de cera. Giz tinha acabado de nascer e doaram, ela o recebeu e ele era sua mais nova companhia.
Finalmente convencida pelas amigas, Margarida resolveu que iria fabricar uma de suas peças, foi até o armazém local, comprou o tecido, fitas, linha e agulha, elásticos e afins, tirou suas medidas e decidiu fabricar para si um conjunto que usaria em seu aniversário, que as amigas estavam preparando com mais algumas pessoas de sua igreja e da sorveteria que ela frequentava desde os 6 anos. Seria uma peça única, mas moderna e elegante, do ponto de vista dela sobre o que era elegância, já que o conceito é subjetivo.
Ela então desenhou e confeccionou um vestido branco, curto, com um pouco de brilho e a parte do decote e ombros, imitava um laço. Era deslumbrante e feito sob medida para ela, por ela. Levou 5 dias, mas o vestido ficou pronto, do jeito que ela queria.
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Doce fecho-ecler
ChickLitVinda de uma cidade interiorana, a jovem Margarida agora tem que lidar com todos os desafios impostos pela nova profissão: estilista. Ela, que antes sequer conseguia pegar um Uber sozinha, por medo, ou se aproximar de um sapo sem gritar, agora tem q...