Capítulo 3: Vozes Silenciadas

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A adolescência chegou para Lucas como um peso invisível, carregado de expectativas que ele não conseguia atender. Aos treze anos, ele estava determinado a ser como todos os outros, mesmo que isso significasse apagar sua essência. Os gestos antes livres e expressivos agora se tornavam contidos, a voz que costumava ser suave e melodiosa transformava-se em algo forçado, quase áspero, enquanto ele tentava desesperadamente imitar o comportamento dos garotos ao seu redor.

Na escola, Lucas passou a evitar qualquer coisa que pudesse chamar a atenção para si. Sentava-se no fundo da sala, falava o mínimo possível e se afastava das atividades que antes amava, como a dança e o teatro. Ele percebeu que, se mantivesse a cabeça baixa, poderia evitar os olhares julgadores e os comentários maldosos. Mas esse esforço para se esconder vinha com um custo alto: cada dia parecia um esforço para sufocar o que ele realmente era.

Em casa, o clima também se tornava cada vez mais difícil de suportar. Lucas sabia que seus pais o amavam, mas o amor que eles ofereciam parecia condicionado a uma versão dele que não existia. Ele ensaiava na frente do espelho como falar sobre seus sentimentos, como tentar explicar a confusão interna que o atormentava, mas na hora de se abrir, as palavras se perdiam em sua garganta.

Uma noite, depois de mais um dia solitário na escola, Lucas decidiu que não podia mais guardar tudo para si. Durante o jantar, sentiu a necessidade urgente de dizer algo, qualquer coisa, para aliviar a dor que carregava. Com a voz trêmula, ele começou:

– Mãe, pai... eu preciso falar com vocês.

Ana parou de mexer na comida e olhou para o filho com uma mistura de preocupação e expectativa. Joaquim, no entanto, manteve-se sério, sua atenção ainda fixada no prato.

– O que foi, filho? – perguntou Ana, tentando parecer calma.

Lucas hesitou, sentindo um nó na garganta. Ele não sabia como expressar o que sentia, mas sabia que precisava tentar.

– Eu... eu não me sinto bem. Não sei como explicar, mas é como se... como se eu estivesse sempre fingindo ser algo que não sou.

O silêncio que se seguiu foi esmagador. Ana trocou um olhar rápido com Joaquim, que finalmente ergueu os olhos para o filho. A expressão em seu rosto era indecifrável, uma mistura de incompreensão e desconforto. Ele suspirou, colocando os talheres de lado.

– Lucas, todo mundo passa por fases difíceis na adolescência. Você só precisa ser forte, sabe? As coisas vão se ajeitar.

Ana, por sua vez, tentou oferecer um sorriso reconfortante, mas era evidente que ela também não sabia como lidar com o que Lucas estava tentando dizer.

– Talvez seja só uma fase, meu amor. Você é um bom menino, e logo tudo isso vai passar.

Mas Lucas não queria ouvir que tudo era "apenas uma fase". Ele sentia que não estava sendo ouvido, que suas palavras não estavam sendo levadas a sério. O peso do julgamento, mesmo que silencioso, era insuportável.

Ele tentou insistir, mas as palavras foram cortadas por uma sensação esmagadora de derrota. Sentiu-se sufocado, como se as paredes ao seu redor estivessem se fechando. A dor de não ser compreendido, de não poder ser quem realmente era, tornou-se insuportável. Com os olhos cheios de lágrimas que ele tentou desesperadamente segurar, Lucas levantou-se da mesa e correu para o quarto, deixando seus pais confusos e preocupados na cozinha.

No escuro do seu quarto, Lucas se deitou na cama, abraçando o travesseiro como se fosse seu único conforto. As palavras que não conseguiu dizer ecoavam em sua mente, misturadas com a tristeza que ele cultivava em silêncio. A solidão agora parecia uma companheira constante, e Lucas começou a perceber que, quanto mais tentava ser o que os outros queriam, mais perdido se sentia.

Ele sabia que não poderia continuar assim para sempre, mas naquele momento, a tristeza parecia uma prisão sem saída. E assim, Lucas se fechava cada vez mais, apagando sua própria voz em um esforço desesperado para sobreviver em um mundo que ele acreditava nunca o aceitar como realmente era.

Continua....

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