O ambiente da sala de espera do hospital estava carregado de uma tensão quase palpável. As paredes, pintadas em um tom de azul claro, pareciam refletir a luz fria das lâmpadas fluorescentes que iluminavam o espaço. O som do ventilador no canto da sala fazia um zumbido constante, intercalado pelos murmúrios de outras conversas e o ocasional toque de um telefone. Ainden estava sentado em uma das cadeiras de plástico azul, seus ombros tensos e o olhar fixo no chão. Ao seu lado, Dona Helena se mantinha em uma postura rígida, os dedos entrelaçados em um gesto de nervosismo.
Ainden tinha dificuldade em processar a situação. Ele se lembrou vividamente do momento em que viu Victória após o acidente. O impacto brutal, os gritos de emergência e a sensação de impotência que o acompanhava desde então. Ele se esforçava para manter a calma, mas sua mente estava um turbilhão de imagens e preocupações.
Dona Helena estava visivelmente angustiada. Seus olhos se moviam constantemente em direção à porta, como se a simples expectativa de uma nova atualização pudesse mudar a situação. Ela estava com uma bolsa pequena ao seu lado, contendo alguns itens básicos e um livro que tentava ler, mas suas mãos tremiam tanto que o livro escorregava de vez em quando. O que deveria ser um alívio para a mente estava se tornando uma fonte de frustração.
— Como ela está? — perguntou Dona Helena, sua voz carregada de desespero. Ela tentava se manter calma, mas a ansiedade estava estampada em cada linha do seu rosto.
Ainden levantou os olhos para ela, a expressão neutra.
— Ainda não há notícias. A médica disse que a cirurgia pode levar horas.
Ele estava tentando ser objetivo, embora o peso da situação fosse evidente. Seus pensamentos vagavam entre a necessidade de ser um apoio para sua mãe e o desejo de não demonstrar sua própria angústia.
A sala estava cheia de outros pacientes e familiares, todos imersos em seus próprios mundos de preocupação e esperança. O som ocasional de uma enfermeira passando com um carrinho, o cheiro de café do bebedouro próximo e o som de passos apressados no corredor eram constantes lembretes da vida que continuava fora daquela sala. Ainden tentava se concentrar em manter o controle, mas era impossível não notar os olhares curiosos e preocupados dos outros presentes.
Enquanto isso, Dona Helena tentava fazer pequenas conversas com Ainden, perguntando se ele queria algo para comer ou beber, mas suas perguntas eram recebidas com respostas curtas. Ainden apenas balançava a cabeça em sinal de negação, sua mente ainda mergulhada nas memórias do acidente e na gravidade do estado de Victória.
Ainda imerso em seus pensamentos, Ainden começou a observar com mais atenção a sala ao redor. Notou o padrão intrincado do carpete, a forma como os móveis eram dispostos e como cada elemento parecia contribuir para a atmosfera de espera interminável. Ele se levantou e foi até a máquina de café, decidindo tomar uma xícara apenas para ter algo para fazer. O aroma do café era forte e um pouco amargo, mas pelo menos oferecia um pequeno alívio para seus sentidos.
Enquanto ele mexia com o café, Dona Helena se levantou para ir ao banheiro. Ela hesitou antes de sair, lançando um olhar para Ainden como se esperasse que ele falasse algo ou oferecesse algum tipo de conforto. No entanto, Ainden estava concentrado em observar a máquina, o movimento das suas mãos refletindo uma certa tensão.
Quando Dona Helena retornou, seus olhos estavam um pouco mais úmidos, mas ela tentou manter uma expressão tranquila. O relógio na parede parecia uma tortura, com cada minuto arrastando-se como uma eternidade.
— Você deve estar cansado — ela comentou, sua voz tentando parecer mais leve. — Quer descansar um pouco?
Ainden olhou para ela, um pouco surpreso com a preocupação dela com seu bem-estar.
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Meus olhos aos seus
RomanceNa vida de Victória ouve uma grande tragédia; a algum tempo atrás, pouco antes de completar 10 anos, perdeu sua mãe, a única que a entendia e não a julgava, desde de então trata isso com psicólogas, sabendo que não se resolveria apenas em choro. Su...