CAPÍTULO 5 - BEBEL

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— Então, sua avó de 68 anos está competindo em um campeonato de dança e te fez viajar da Espanha para o Brasil só para assistir à final? — pergunto, ainda surpresa, mas não consigo conter o sorriso. A ideia de uma senhora de quase 70 anos dançando com tanta paixão me fascina. É exatamente o tipo de coisa que eu faria, se tivesse coragem.
—  Exatamente — ele diz, sorrindo enquanto dá um gole no refrigerante. Enquanto ele abaixa o copo, nossos ombros se tocam levemente, e sinto um pequeno choque de eletricidade correr pela minha pele. — O mais estranho é que o parceiro de dança dela tem o mesmo nome que meu pai. Imagina se eles estão tendo um caso?

Dou uma risada ao imaginar. Quando percebi que Dante estaria ao meu lado durante toda a viagem, senti uma mistura de alívio e nervosismo. Alívio por ele ser alguém com quem já troquei algumas palavras, mas o nervosismo rapidamente tomou conta porque ele é absurdamente bonito — o tipo de beleza que deixa qualquer um desconcertado. E parece que não sou a única a notar, a julgar pelas aeromoças que perdem o fôlego cada vez que ele sorri. Tento ignorar o fato de que estou reagindo da mesma forma. Por que estou tão nervosa?

— E você? Vai me contar qual é o motivo da sua visita às amigas? — ele pergunta, cortando um pedaço de carne, mas mantendo os olhos fixos nos meus. Sinto que ele está genuinamente interessado, e isso me faz querer compartilhar mais do que o básico.
—  Todos os anos nos reunimos no dia 18, porque, bem... cada uma mora em uma cidade ou até em um país diferente — explico, tentando manter o tom leve, mas com um brilho nostálgico nos olhos. Eu adoro essas reuniões, elas me lembram que, não importa onde estamos, sempre teremos umas às outras.
— E como isso começou? — ele pergunta, inclinando-se ligeiramente em minha direção, o interesse brilhando em seus olhos. Há algo na maneira como ele me olha que faz minha voz tremer levemente quando começo a responder. Sinto uma tensão no ar, como se cada palavra que ele diz estivesse carregada de significado.
— Somos quatro amigas: Isis, Eva, Nicole e eu. Conheci a Isis quando tinha 10 anos. Ela e Eva eram inseparáveis, do tipo que quase irrita, sabe? Mas elas me adotaram, e logo nos tornamos um trio. Depois, Nicole se juntou a nós, e então passamos a ser quatro. Inseparáveis até hoje, mesmo com a distância. — Faço uma pausa, tomando um gole de suco, sentindo a nostalgia me invadir. — Até o nono ano, éramos inseparáveis, até que meu pai recebeu uma proposta de trabalho em Madri.
— Então, você foi a primeira a ir embora? — Há uma suavidade na voz de Dante que faz meu coração apertar. Sempre me senti um pouco responsável por termos nos separado, mesmo sabendo que não tinha escolha naquela época.
— Sim, alguns meses depois, Nicole precisou se mudar para São Paulo, onde fica a sede da empresa do pai. — Me lembro como se fosse ontem, ela chorando na videochamada, tão desolada por deixar o Rio. — Isis e Eva ficaram no Rio e terminaram o ensino médio juntas. As duas entraram na UFRJ, Isis em direito e Eva em física. Mas, depois de um tempo, Eva percebeu que queria outra coisa e foi fazer moda na USP. Quando terminou, recebeu uma proposta de estágio em Nova York com a tia dela, que tem uma marca de moda.
— Nossa, vocês ficaram separadas por bastante tempo, então — ele comenta, virando-se para mim, com um olhar que sugere que ele está realmente admirado pela força da nossa amizade. Vejo que ele já terminou o almoço, mas não parece interessado em encerrar a conversa.
— É aí que entra o dia 18 de fevereiro, tudo mudou. Foi o dia em que me despedi, e naquela tarde, nós fizemos uma promessa: reunir-nos todo ano nesta mesma data para mantermos nosso vínculo. - Sorrio ao lembrar daquele momento. Apesar da dor de nos separarmos, sinto que, desde então, nosso laço só se fortaleceu. — Cumprimos nossa promessa quando a Nic se mudou para São Paulo e quando a Eva foi para o exterior.
— Então, já se passaram 10 anos desde que vocês fazem isso?” — ele pergunta, surpreso.
— Sim. —  respondo com um sorriso. —  E, para comemorar a nossa década de amizade, decidimos passar a semana inteira na casa da Isis em vez de apenas um fim de semana.”
— Uau, isso é incrível! Eu não vejo meus amigos da escola desde que terminamos, e vocês conseguiram manter esse vínculo por tanto tempo!” — ele diz, visivelmente impressionado.

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⏰ Última atualização: Sep 04 ⏰

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