Brazilian Championship

305 25 3
                                    

Os dias após a despedida de Sunisa foram difíceis para Flávia. O vazio que Sunisa deixou parecia ocupar cada canto de seu corpo, e a saudade se tornou uma companhia constante. No entanto, ela sabia que precisava se manter focada, pois o Campeonato Brasileiro de Ginástica estava se aproximando rapidamente, e Flávia era uma das favoritas para mais medalhas. Mesmo que a ausência de Sunisa pesasse em seu coração, a ginástica continuava a ser sua paixão, e ela sabia que era uma maneira de canalizar toda aquela dor e transformá-la em algo produtivo.

Nos primeiros dias após a partida de Sunisa, Flávia sentiu a energia desvanecer. Acordava cedo, como sempre, mas a cama parecia maior e mais fria. O silêncio do apartamento parecia ensurdecedor. Sunisa mandava mensagens e fazia vídeo chamadas sempre que possível, mas o fuso horário e as rotinas opostas dificultavam as conversas longas que Flávia tanto desejava.

Ainda assim, Flávia forçava-se a se levantar todos os dias e ir ao ginásio. Sabia que precisava estar no seu melhor para o Campeonato Brasileiro, não apenas por ela mesma, mas também por Sunisa, que a apoiava mesmo de longe. O técnico Francisco, ou melhor, Chico, percebendo a mudança em Flávia, decidiu pegar mais leve nos primeiros treinos após a despedida. Mas não demorou para que ela mesma pedisse para aumentar a intensidade dos exercícios. Ela queria ocupar a mente, encontrar alívio no suor e no esforço físico.

Nas primeiras semanas, os treinos foram misturados com momentos de pura distração. Durante os alongamentos ou enquanto esperava sua vez nos aparelhos, Flávia pegava o celular, esperando alguma mensagem de Sunisa. Era difícil desligar. Seu corpo estava no ginásio, mas sua mente estava a quilômetros de distância, imaginando o que Sunisa estava fazendo.

Na segunda semana, algo mudou. Talvez fosse o cansaço emocional, talvez fosse a pressão do campeonato se aproximando, mas Flávia decidiu que, para lidar com a ausência de Sunisa, precisaria canalizar toda a saudade na preparação. Passou a chegar mais cedo aos treinos, a se concentrar mais nos detalhes, e a usar cada exercício como uma maneira de se fortalecer não só fisicamente, mas emocionalmente. Cada salto, cada aterrissagem, cada pirueta eram executados com a determinação de quem queria superar a distância e a dor.

Enquanto isso, do outro lado do oceano, Sunisa enfrentava suas próprias batalhas. Sua volta aos treinos foi um processo lento e sofrido. Ela ainda sentia os efeitos da lesão, e, apesar de estar perto de uma recuperação completa, o corpo ainda a limitava. Os primeiros dias no ginásio foram especialmente difíceis. Cada movimento que outrora parecia natural agora exigia esforço extra, e a falta de progresso imediato a frustrava. Sunisa tinha que lutar não apenas contra os desafios físicos, mas também contra a pressão mental de voltar a ser a atleta que todos esperavam.

Havia dias em que ela queria desistir, quando sentia que seu corpo não estava mais respondendo como antes. Em uma dessas manhãs, depois de um treino particularmente difícil, Sunisa se pegou sentada no chão do ginásio, olhando para as barras assimétricas que costumavam ser sua especialidade. Suas mãos ainda tremiam do esforço, e o suor escorria pela testa. Sentiu a pressão nos ombros, a expectativa de todos, principalmente da equipe técnica, da família, dos fãs. Mas, acima de tudo, o medo de decepcionar Flávia a assombrava.

Foi nesse momento que Sunisa pegou o celular e, em uma mensagem curta, escreveu para Flávia: "Hoje foi difícil, mas eu não vou desistir. Pensei em você o tempo todo. Te amo." Flávia respondeu quase imediatamente: "Você é a pessoa mais forte que eu conheço, Suni. Nós vamos conseguir passar por isso juntas. Te amo mais."

Essas pequenas trocas diárias tornaram-se o combustível que ambas precisavam. Flávia, agora mais focada do que nunca, sentia que tinha que dar o máximo de si não só por ela, mas também por Sunisa. A saudade, antes um peso, começou a se transformar em uma força invisível, empurrando-a para frente. Nos treinos, sua equipe notou o quanto ela estava mais determinada, mais centrada. Jade, sua antiga companheira de equipe e que agora busca seu lugar como treinadora, se aproximou após um treino exaustivo e a abraçou. "Você está se superando, Harry Potter. Dá para ver nos seus olhos." Flávia sorriu após ouvir o apelido e recebeu o abraço de bom grado. Jade, mais do que ninguém, sabia que aquela distância incomodava a loira.

Hearts in Sync (Sunisa Lee e Flávia Saraiva)Onde histórias criam vida. Descubra agora