dez | raiva no primeiro olhar

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yuri's pov

A única reação que eu tenho é de deixar a encomenda no balcão da recepção e sair correndo. Ninguém me impede de correr. Ainda ouço sua voz em um tom alto atrás de mim gritando por minha pessoa.

— Vem aqui seu moleque — sua voz ecoa pela vizinhança inteira.

Meu corpo treme. Meu único instinto é correr. Saio do prédio e dou de cara com o meu pai. Obviamente, minha euforia faz com que o meu pai fique surpreso. Assustado, eu diria.

— O que foi meu filho? — ele pergunta.

Viro e olho para a fera vindo em minha direção.

Sem falar nenhuma palavra, meu pai percebe o que está acontecendo.

Sinto que a besta está cada vez mais próxima e volto a correr, desta vez, puxando meu pai que logo já acompanha meu passo.

Rapidamente, chegamos na van. Quando estou prestes a entrar, não consigo abrir a porta.

Enquanto isso, vejo que o pai de Fred está correndo em nossa direção.

Ainda tentando, porém não consigo, até que meu pai abre a porta pelo lado de dentro e consigo entrar. Fecho a porta com tanta força que o carro treme.

Quando meu pai finalmente liga o carro e já saímos em alta velocidade, o pai de Fred parece e aceita sua derrota. Pelo menos, é isso que eu penso. Porém, quando o caçador quer muito uma presa, ele tenta caça-lá com todas as armas possíveis, até conseguir tirar uma gota de sangue.

Mesmo estando bem distante daquela rua e daquela pessoa, da minha boca não saiu nenhuma palavra até agora. Meu coração pulsa tão forte que parece que vai rasgar minha pele com seus batimentos. Minhas mãos estão suadas e trêmulas. Levo minha mão até minha boca e começo a arrancar peles dos meus dedos. Meu pai está me olhando, eu sinto isso. Começo a arrancar diversas peles. Não passou muito tempo até que o gosto de sangue passasse a estar presente na minha boca. Machuquei tanto meus dedos que começou a sangrar. Foi aí que meu pai interviu.

— Filho, por favor... — ele tira a mão da minha boca — Por favor filho, para.

Quando minha mão é tirada da minha boca é que eu vejo o estrago que eu fiz. Sem papel por perto, pego minha blusa e tento estancar o sangue. Ainda continua sem dizer nada.

— Me diz o que está acontecendo, filho. Por favor — meu pai implora.

Respiro fundo. Me contenho.

— Aquele era o pai do Fred. — digo — o menino que eu beijei.

Após dizer isso, meu pai não fala mais nada. Por um período, o silêncio domina o ambiente.

O gosto de sangue ainda permanece na minha boca. Agora começa a cutucar as pequenas peles envolta da minha unha com meus próprios dedos. Não tenho controle. Sinto a dor, mas ela não passa a me incomodar tanto.

Meu pai para em um sinal vermelho.

Ainda sem falar nada, meu pai leva sua mão até minha nuca. Ele olha para mim. Consigo ver que ele está preocupado comigo, seu olhar traduz isso para mim. Paro de cutucar meus dedos e olho para ele. Sei que assim como eu, ele está tentando segurar o choro. Porém ele é mais forte, diferente de mim. Como não tenho essa força que ele tem, caio no choro.

De início, meu choro não é tão forte, apenas uma lágrima que cai em cada olho, mas com o passar do tempo vou percebendo o quão pesado é tudo isso que está acontecendo. Somando tudo isso, minhas lágrimas despencam dos meus olhos com mais força e volume.

Delusion | a freuri fanfictionOnde histórias criam vida. Descubra agora