𝐏𝐑𝐄𝐓𝐓𝐘 𝐖𝐇𝐄𝐍 𝐘𝐎𝐔 𝐂𝐑𝐘 ; Kento Nanami

0.1

   O sol da manhã queimava sua pele suavemente enquanto você andava em passos firmes com os saltos extremamente finos que usava para que seus pés ao menos aparecessem por baixo do vestido longo de seda que usava, era de um tom meio creme, brilhante, várias flores de cereja tomavam conta de toda a estampa do tecido, uma gola alta que subia até o final de sua garganta lhe sufocando pouco a pouco, a única coisa que lhe trazia um pouco de leveza eram as mangas grandes e largas que praticamente escondiam suas mãos dentro do tecido luxuoso. Seu braço estava enlaçado contra o de Naoya enquanto ele lhe guiava para a festa posta no jardim, milhares de rostos que você nem ao menos conhecia festa essa que estava longe de ser mágica. Sentia-se uma peça deslocada quase como se fosse uma pecinha errada em um quebra-cabeça caro, tinha um sorriso perfeito em lábios, o mesmo que desde sempre aprendeu a fazer mesmo que tudo estivesse desmoronando.

   — Se comporte, Yumi, ouviu bem — ele disse por entredentes ao passo que se aproximavam mais e você apenas suspirou pesadamente antes de assentir de maneira delicada, Naoya tinha uma expressão calma e firme em seu rosto, a mesma expressão que seu pai, a expressão que o próximo líder do clã zenin deveria ter —, nosso pai vai lhe apresentar por aí, você está sendo o assunto do momento desde ontem, seja educada.

   — Não, vou chutar a cara de um convidado... é obvio que vou ser educada, Naoya.

   Disse sorrindo por entredentes sabendo que ali ele não poderia lhe repreender e apenas escutou o mesmo respirando fundo enquanto chegavam no centro de mesas do salão a céu aberto do jardim, o homem de cabelos loiros escuros lhe entregou ao seu pai que apenas segurou seu braço com cuidado como se tivesse medo que qualquer movimento que quebrasse, pelo jeito agora você valia mais do que qualquer quantia de dinheiro que ele possuísse.

   Naobito, seu pai, que por algum motivo ainda insistia que lhe chamasse daquele modo mesmo que nem soubesse direito a idade que estava completando, fez questão de passear com você por todas as mesas lhe apresentando como um troféu, e céus, você apenas queria morrer ali mesmo, apenas sorria e assentia levemente com a cabeça, vez ou outra soltava um risinho suave quando alguma senhora dizia algo impróprio como por exemplo: 

   "Se guarde para o casamento, viu?" "Vocês jovens são cheios de quererem fazer as coisas antes do tempo certo". "Tome esse Omamori — também conhecido como amuleto da fertilidade —, nosso país precisa de herdeiros".

   O estopim para você quase explodir foi quando uma senhora com uma aparência rígida pousou as mãos sobre seus quadris sem nem ao menos falar nada, todos na mesa ficaram em silêncio, você escutou uma garota da sua idade chiando, o rosto vermelho de vergonha.

   — Vovó! Pare com isso.

   A garota de cabelos castanhos cobres implorou, você engoliu em seco sem saber o que fazer.

   — Ela tem bons quadris, Sr. Zenin, vai ter muitos bebês.

   A senhora disse afastando as mãos por fim arrancando uma das primeiras risadas sinceras de seu pai, você piscou devagar ainda inerte.

   — Obrigado pela preocupação, Sra. Kusigaki.

   Ele disse curvando o corpo suavemente e forçou um sorriso antes de fazer o mesmo antes de sair de lá por fim, continuaram daquele de modo de mesa em mesa até o ponto em que seus pés latejavam de dor para que simplesmente arrancasse aqueles saltos, quando se deu por si o sol já se punha ao longe pintando o jardim de laranja e rosa.

   O jantar estava servido, e o banquete era uma verdadeira obra de arte culinária. As mesas estavam adornadas com flores frescas e pratos requintados, e os convidados conversavam animadamente, rindo e brindando com taças de champanhe. Com toda a certeza estavam mais animados do que você já esteve se juntasse todas as festas de aniversário que tivera até agora.