Capítulo III - Desventura

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Abaddon Apollyon

- Você consegue fazer menos barulho? Ou eu vou precisar te agredir, Nykolas Brynhard?

A voz de Abaddon irrompeu mais alta, tentando sobrepor o som áspero da lâmina que estava sendo afiada pelo rapaz. Ele a encarou com um olhar impaciente, interrompendo o processo de raspar a pequena faca em uma rocha rígida e cheia de musgo que havia ali. Com a aparição do sol por entre as nuvens, o Remanescente havia fugido de volta às sombras da floresta e Abaddon encarava o rosto dos dois rapazes que eles haviam ajudado. Um deles, deduziu ela, era com certeza um Erthus, pois ela o vira usando poderes relacionados ao ar quando chegaram ao campo de batalha, o outro, no entanto, ainda era um mistério, mas ela duvidava que ele fosse sobreviver.

- Nyk, tem certeza que cauterizou direito o ferimento dele? Ele está perdendo a cor e você se descobriu um Erthus recentemente... - Abaddon questionou, preocupada com o estado do rapaz.

- O que quer dizer com isso? Acha que eu não consigo nem fazer uma cauterização? Eu...

- Não estou dizendo que não consegue. Estou dizendo que talvez, mas só talvez, seu fogo não tenha sido quente o suficiente...

Um sorriso surgiu no canto da boca da ruiva, que adorava provocar o amigo. O sorriso então se tornou uma gargalhada quando ela percebeu as faíscas se formarem na mão livre do rapaz. Nyk era um pouco mais alto que ela, com sua pele clara e cabelos escuros como carvão. Seu rosto, marcado pela expressão irritada da provocação, relaxou em um sorriso correspondente, revelando pequenas depressões em suas bochechas, mostrando as covinhas que se revelavam sempre que o rapaz esboçava um sorriso.

- Calma aí, esquentadinho... falando sério, acho que esse aqui não vai sobreviver. - Disse Abaddon, apontando com o indicador ao homem pálido e sem um braço.

Nyk Brynhard guardou a lâmina dentro de uma pequena bainha de couro e a depositou ao lado do restante de suas coisas. Levantando com calma, o rapaz caminhou até onde Abaddon estava e encarou os outros desacordados, curvando levemente seu corpo para frente.

- Esqueça, Apollyon. Cauterização nenhuma seria capaz de salvar ele. Ter um braço arrancado por um Remanescente não é algo que se sobreviva todos os dias, a não ser que você esteja na companhia de algum Erthus que tenha poderes curativos. - Ele suspirou, esticando seu corpo e, desta vez, curvando-o um pouco para trás, ouvindo o estalar dos ossos em sua coluna. - E até onde eu sei, seus poderes não tem ligação nenhuma com cura.

- Ótima observação, otário. O que fazemos então? Apenas deixamos ele morrer enquanto assistimos? Como em um show de horrores? - Abaddon, que estava agachada, levantou-se sem tirar seus olhos dos homens ao chão, hesitando ao perceber que um deles começara a se mexer.

- Nykolas, veja, o Erthus está acordando.

Aproximando-se novamente, Nyk fitou o rapaz que abria os olhos com dificuldade. A expressão de Abaddon fluía entre a estranheza e a curiosidade, esperando qualquer tipo de reação do rapaz, mas ele apenas gemia como se estivesse com dor, enquanto seus olhos iam de um canto a outro, provavelmente ainda procurando o Remanescente. A ruiva rapidamente pegou um cantil de couro e o ergueu em frente ao recém despertado.

- Beba, garoto. Fique tranquilo, o Remanescente já se foi.

Ele hesitou, fitando Abaddon nos olhos como se estivesse tentando lê-la de alguma maneira. Por fim, com um suspiro de cansaço e uma confiança temporária, ele aceitou e pegou o objeto, levando até seus lábios e virando-o para que a água pudesse sair. Seu rosto passou da confusão ao alívio, demonstrando estar com mais sede do que ela imaginava. Agora, ali acordado, Apollyon finalmente parou para analisar o rapaz. Ele não parecia muito mais velho que ela, tinha um semblante cansado, olhos e cabelos castanhos e a pele clara. Se não fosse pelos poderes, o rapaz com certeza tinha a aura de um Arfus, mesmo que alguma coisa dentro de Abaddon dissesse a ela que não.

Refúgio dos Caçadores - O Chamado da CaçadaOnde histórias criam vida. Descubra agora