Capítulo IV - No caminho ao Refúgio

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Abaddon Apollyon

Após aqueles momentos de tensão, o tempo pareceu passar mais rápido do que Abaddon imaginava que passaria. De acordo com Hallagan, aquele era o segundo dia de viagem desde que deixou a capital de Avarain para trás e todos concordavam que a viagem só era mais curta por estarem usando a Estrada Real. Ela foi construída como um atalho que ligava os cinco reinos e o Refúgio, então não havia obstáculos e nem florestas densas que atrapalhassem o galope dos cavalos ou a passagem de qualquer tipo de carroça. Com o Sol navegando em declínio pela imensidão celeste, rumo ao encontro rotineiro com o horizonte, o trio viajante finalmente chegou onde a Estrada Real se bifurcava. Havia uma grande placa, com um sol dourado pintado, brilhando ao refletir a luz do corpo celeste acima. Embaixo havia os dizeres "Reino de Eudoria" e "Refúgio dos Caçadores", cada um com uma seta apontando para os lados diferentes da bifurcação.

Abaddon não entendeu muito bem quando Hallagan parou seu cavalo em frente à placa, mas fez o mesmo, deixando que o animal em que estava montada com Nyk parasse ao lado do outro. Ela queria continuar, logo a noite chegaria e ela queria chegar o mais próximo possível do Refúgio, mas Hallagan parecia ter encontrado algo fascinante na placa, algo que ela não via.

- Você ao menos sabe ler, certo? Entende que o Refúgio é para aquele lado? - Ela não se conteve, precisou fazer um comentário.

- Sim... eu só nunca havia saído de Avarain antes. Pensei que pudéssemos passar a...

- Não. - Abaddon respondeu, nem deixando que ele terminasse a frase.

Nyk pigarreou, olhando para Hallagan com um semblante de alguém que se compadeceu com a situação.

- Em Eudoria não ficaremos, mas você sabe que podemos passar a noite em Suncet, Ab. Coisa rápida, só para evitar qualquer encontro com os Filhos do Artroz.

- Nykolas, eu prefiro lutar com cem Remanescentes do que ter que lidar com aquelas pessoas. Dei a volta em Eudoria justamente para não ter que atravessar Suncet e não vou colocar os pés naquele lugar de gente imunda. - Havia ressentimento na voz da ruiva, mesmo que ela tentasse não deixar evidente.

- Ei, calma, eu também moro lá. - Nyk contra-argumentou.

- Mantenho o que eu disse. Fim de conversa.

Ela encerrou e fez com que o cavalo começasse a se mover. Hallagan não tocou mais no assunto e provavelmente demoraria a falar sobre. Ele provavelmente não entendia todo o contexto, mas teria que confiar que aquele não era um bom lugar para irem. Os três, então, seguiram pelo caminho que a placa determinava como aquele que os levaria ao destino, rezando para que nenhum outro Remanescente surgisse. Abaddon estava cansada, seus olhos estavam pesados e ela conseguia ver que os outros também estavam, mesmo que não admitissem. Erthus novatos usando poderes para se defender de uma criatura das trevas era algo que com certeza cansaria, ainda mais se tivessem que manter viagem por um longo período de tempo.

O cansaço serviu para que o silêncio se instaurasse. Durante um bom tempo, a única coisa que ouviam eram os sons dos galopes, gerados pelos cascos dos cavalos em contato com o solo, passarinhos cantando escondidos em meio aos galhos das árvores dispersas e o farfalhar das folhas que balançavam com a força leve do vento. Ninguém parecia ter coragem de quebrar aquele curto período de paz, mas o destino tinha outros planos, e estes não envolviam nenhuma das vontades dos três. As árvores estavam voltando a ficar densas em paralelo à Estrada Real, escurecendo o caminho e trazendo de volta o medo de um possível perigo escondido, sentimento que foi suficiente para acelerar o coração do trio quando ouviram um grito vindo de suas costas.

No mesmo momento, eles pararam os cavalos e se viraram, encarando a estrada percorrida e tentando identificar a origem. Não era um grito de desespero e nem socorro, era um som de curta duração e que quando foi emitido novamente, parecia estar mais próximo. De repente, através da curva por onde vieram, um lindo corcel branco surgiu. Sua sela era dourada, assim como todo o restante dos equipamentos usados para montaria, tudo contrastando com o pêlo extremamente claro do animal. O dono do grito vinha montado no cavalo e o grito nada mais era que uma tentativa de acelerar o galope. Um rapaz de estatura mediana, com cabelos e olhos escuros como os de Hallagan, mas com um rosto mais fino. Ele vestia uma espécie de roupa de gala, levemente apertada ao seu corpo e evidenciando alguns músculos. Todo o tecido era branco, com detalhes em dourado, como os equipamentos do cavalo, e Abaddon então se lembrou de quem era.

Refúgio dos Caçadores - O Chamado da CaçadaOnde histórias criam vida. Descubra agora