A Acompanhante

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Yoko POV

Suspirei, sentindo a pressão e a angústia me consumirem. A qualquer momento, temia que o grito interno de dor e raiva finalmente escapasse de dentro de mim. Estava no mesmo lugar de sempre, a biblioteca, onde tentava há meses escrever algo que me tirasse daquele fundo do poço. No entanto, nada parecia bom o suficiente, e tudo me conduzia a lembranças dolorosas que eu preferia não acessar, eram torturantes demais.

O ambiente estava silencioso, com apenas algumas pessoas vagando entre as estantes. Em minha frente, uma pilha de papéis para assinar e meu notebook aberto no bloco de notas. Eu dei uma pausa no trabalho e estava tentando escrever algo, ou seja, pausa para continuar trabalhando. Mas eu não tinha escolha, precisava entregar algo novo para a editora e finalmente sair daquela função estressante. Além disso, com um bom livro novo, eu ganharia dinheiro suficiente para cuidar da minha mãe.

Respirei fundo novamente, sentindo uma dor de cabeça muito forte. Já estava sentindo antes, mas não me importei e continuei trabalhando, o problema é que ela só aumentou e naquele momento, eu tive a impressão que se eu levantasse da cadeira, morreria ali mesmo. Fechei os olhos e tentei controlar minha respiração, a dor ficava mais intensa a cada segundo que passava. Quando abri os olhos novamente, não consegui enxergar nada, mas ainda pude sentir meu corpo rodando antes de perder totalmente a consciência.

(...)

Abri os olhos com dificuldade, a claridade no local era insuportável. Meus ouvidos pareciam abafados por algo, só conseguia ouvir algumas vozes distantes. Aos poucos, a minha visão embaçada revelava três silhuetas em volta de mim e as vozes passaram a se tornar compreensíveis:

— Ela está acordando... Olá, como está se sentindo? - Minha garganta estava seca e eu mal consegui pronunciar uma palavra. Logo a moça que estava mais próxima, me entregou uma garrafa d'água com um canudo e eu bebi com dificuldade. - Você está no hospital, sofreu uma desidratação grave. - Respirei fundo, não imaginava que tinha chegado a tal ponto. Movi um pouco o braço direito e senti um incomodo, até olhar e perceber que era um soro que estava sendo aplicado em minha veia. - Agora está sendo bem cuidada. - A mulher disse sorrindo.

— O-obrigada. - Agredeci com esforço a todos que estavam presentes.

Uma moça, um rapaz e... P'Faye. A reconheci depois de alguns segundos desnorteada, um sorriso singelo surgiu no rosto da mulher em meio a sua feição preocupada quando percebeu que eu notei sua presença. Passei a me perguntar se aquilo era real ou não, meus pensamentos ainda estavam confusos. Finalmente pude ouvir a voz dela:

— Vocês podem cuidar do senhor Somchai? Ele está no quarto 304. Ficarei aqui para dar orientações e explicar melhor o que houve. - Com essa fala, percebi que eles eram residentes supervisionados por P'Faye.

— Sim, podemos. - Prontamente o moço aceitou suas ordens e antes de sair com sua colega, disse: - Desejo melhoras para você, senhorita.

— Obrigada. - Sorri para os dois e em seguida saíram da sala rapidamente.

Voltei meu olhar para P'Faye que se aproximou um pouco e começou a me fazer perguntas:

— Como está se sentindo, Yo? - Ela disse meu nome e me surpreendi com o fato de que ela ainda se lembrava de mim.

— Como se um caminhão tivesse passado por cima de mim... Mas isso já é rotineiro, P'Faye. - Eu disse de forma irônica e me sentei com dificuldade na cama.

Inevitável (FayeYoko)Onde histórias criam vida. Descubra agora