capítulo V

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O clima na sala do governador era palpavelmente tenso, cada respiração era carregada de descontentamento. Os anciãos, com suas feições severas e vozes cheias de indignação, não escondiam seu desagrado com a nomeação de Tayler como guarda-costas. O passado do rapaz, envolto em segredos e mistérios que ele próprio desconhecia, parecia pesar como uma sombra injusta, uma verdade que todos, exceto ele, conheciam.

— Você foi imprudente e irresponsável, Azrael — disse um dos anciãos, a voz carregada de reprovação.

— Como pode colocá-lo em uma posição tão honorável? Alguém como ele não merece tal confiança — declarou outro, seu tom de voz transbordando desdém.

A sala, pequena em tamanho mas grande em poder, abrigava cinco anciãos inconformados. Suas vozes ecoavam pelo espaço, uma cacofonia de críticas e censuras. Enumeravam razões intermináveis para desqualificar a decisão de Azrael que, até então, mantinha uma calma estoica. No entanto, a menção de sua filha alterou seu semblante.

— Tudo isso porque sua filha exigiu? Quem tem o poder aqui, você ou sua filha mimada? Precisa ser mais rígido — um dos anciãos falou, o desprezo evidente em suas palavras.

— Não ousem tocar no nome da minha filha — retrucou Azrael, a raiva lampejando em seus olhos como chamas. — A decisão está tomada. Ele está sob a vigilância de Apolo e, além disso, temos uma guarda poderosa que o subjugaria em segundos.

— Ainda assim, é um risco desnecessário — resmungou outro ancião, sua voz um sussurro de discordância.

— Se algo acontecer, eu assumirei total responsabilidade — afirmou Azrael, a firmeza em sua voz inabalável. — Às vezes me pergunto por que carrego o título de governador se, em qualquer movimento, sou julgado por vocês. Se acham que sabem tudo, tomem meu lugar e governem vocês mesmos.

O governador levantou-se com uma rapidez e elegância surpreendentes, seus movimentos fluindo como os de um guerreiro experiente, ainda que sua vontade fosse atirá-los pela janela. Ele jamais perderia sua compostura, mesmo em meio à ira que fervia sob sua pele. Saindo da sala, deixou os anciãos em um silêncio desconfortável.

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Tayler dirigiu-se ao escritório do governador conforme as instruções de Apolo. Ao chegar, bateu na porta e aguardou a permissão para entrar.

— Entre — a voz, embora controlada, traía a raiva ainda latente da reunião anterior.

— Apolo disse que queria me ver, senhor —  disse, inclinando-se em uma reverência respeitosa.

— Sim... sim... Ele deve ter adiantado o assunto, correto? — Azrael agora o encarava com um olhar penetrante.

— Sim, senhor. Ele mencionou que eu deveria mudar para o quarto ao lado da senhorita Harper, mas não acho que seja uma boa ideia — Tayler respondeu, erguendo-se da reverência para encarar o governador.

— Eu também penso o mesmo, mas Amy se sentirá mais segura assim — Azrael suspirou profundamente, o peso de sua preocupação evidente. — Sabe, Tayler , ela sofreu um atentado há três meses. Isso quase custou sua vida. Tenho muitos inimigos e farei o que for preciso para que ela se sinta segura, mesmo que isso signifique deixar um homem de 1,80 no quarto ao lado.

Tayler ficou surpreso. Ninguém havia mencionado um atentado. Colocou seus pensamentos de lado, reconhecendo que poderia ser um segredo de Estado, e se ninguém o contou, era porque não tinham permissão para fazê-lo.

— Eu garanto que a protegerei com minha vida, senhor.

— Eu sei disso — Azrael respondeu, sua voz carregada de uma confiança inabalável. — Vá logo. Hoje ela irá passear pelo lago. Ela não tem saído de casa e, mesmo assim, não gosta de ficar sozinha. Seja o mais discreto possível nas palavras. Estou confiando ela a você.

Entre sombras e LembrançasOnde histórias criam vida. Descubra agora