Capítulo VI

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Já se passara um mês desde que Tayler assumira o posto de guarda-costas da herdeira do governador, e, nesse breve lapso de tempo, uma sutil tensão começou a se formar entre os dois. Amy, acostumada à companhia calorosa e descontraída de Apolo, encontrava-se agora em uma nova realidade, onde o silêncio parecia ser a única resposta que conseguia arrancar de Tayler. Ele, por sua vez, mantinha-se rígido, quase inabalável, como se fosse uma muralha erguida não apenas para protegê-la do mundo exterior, mas também para manter uma distância deliberada entre eles.

Nos dias que se seguiram à chegada de Tayler, Amy fez várias tentativas de se aproximar. Ela se esforçava para iniciar conversas casuais, tentando quebrar o gelo com sorrisos e perguntas triviais, mas cada tentativa era recebida com respostas curtas, formais, e às vezes até monossilábicas. Tayler era um enigma que ela não conseguia decifrar, e quanto mais ele se fechava, mais Amy  sentia a solidão se avolumar em seu coração.

Ela recordava com saudade os dias em que Apolo a escoltava. As caminhadas pelo jardim, cheias de risadas e confidências, eram momentos preciosos. Eles costumavam trocar piadas sobre os anciãos, zombando afetuosamente de suas idiossincrasias. A presença dele era como um raio de sol, aquecendo seus dias e trazendo leveza à rotina, mas agora, com Tayler, o clima era completamente diferente. O jovem guarda-costas parecia carregar o peso de um dever que o impedia de relaxar, como se estivesse sempre vigilante, sempre alerta, sempre... distante.

Amy, no entanto, não era ingênua. Em suas reflexões, começou a questionar os motivos por trás dessa barreira que Tayler insistia em manter. De todas as possíveis razões que passaram por sua mente, uma se destacava: ele deveria estar seguindo ordens estritas, instruções para não se permitir qualquer informalidade. Era como se ele tivesse sido programado para ser apenas um soldado, um protetor incansável, mas nada mais.

Mas ela ansiava por mais do que isso. Ela não queria um autômato ao seu lado, alguém que apenas dissesse "sim" ou "não" sem qualquer traço de humanidade. Ela queria um amigo, alguém em quem pudesse confiar, alguém que não apenas protegesse seu corpo, mas que também guardasse seus segredos, seus medos mais profundos e seus sonhos mais íntimos.

Naquela manhã, ao despertar, sentiu uma determinação renovada. O sol ainda estava baixo no horizonte, tingindo o céu com matizes de rosa e dourado, mas dentro dela uma decisão já havia sido tomada. Ela falaria com seu pai. Pediria que ele retirasse a ordem que parecia transformar Tayler em uma figura inatingível, quase fria.

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Assim que se sentou à mesa, Amy demonstrava uma inquietude que não passou despercebida pelo olhar atento de seu pai. Ele conhecia bem os sinais que a filha exibia quando estava prestes a pedir algo que, no fundo de seu ser, ele sabia que não aprovaria, mas também sabia que não teria forças para negar. O semblante dela, habitualmente calmo, estava ligeiramente perturbado, e  se preparava, em silêncio, para o que estava por vir.

— Papai… — Amy chamou, sua voz hesitante, quase suplicante, interrompendo o fluxo monótono da refeição.

Azrael levantou os olhos lentamente, fitando-a com um olhar que transbordava uma calma fria, como se já pressentisse o problema que se avizinhava. Ele não disse nada, aguardando com paciência, enquanto o peso do silêncio começava a oprimir o ambiente.

— Você por acaso deu ordens para que Tayler não interaja comigo? — A pergunta saiu num impulso, com uma urgência que fez com que ela quase se inclinasse sobre a mesa, o coração batendo rápido.

Seu pai permaneceu impassível, seus olhos voltando a fixar-se no prato, como se a comida fosse subitamente mais interessante do que as preocupações da filha.

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⏰ Última atualização: Oct 05 ⏰

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