Parte IV (Final)

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— Preciso que esteja lá às nove da manhã – eu apertei os poucos os fios úmidos da minha cabeça com a toalha.

Eu fedia à sabonete neutro, porque era com ele que precisava tomar banho aquela noite. Torci por todo o caminho ao banheiro para que, pelo menos, a conta de água estivesse em dia. E não me dei ao luxo de reclamar quando me meti debaixo da água gelada, que geralmente tinha uma repulsa natural.

JJ, que tinha ficado na cama, metade desacordado e metade em alerta para quando me fosse, o que certamente sabia que faria, ainda estava semi-nu, coberto se não pelas boxers.

— Lá aonde? Com o grupo? – ele bocejou, cansado. – Por que vocês marcaram para tão cedo, de qualquer forma?

Eu pendurei a toalha à porta e fui para junto dele no colchão despido, já que ele tinha deixado os lençóis na roupa suja.

— Não com eles. Isso deve ser mais tarde – expliquei. – Com meus pais. Amanhã.

Ele precisou de um tempo para processar o que tinha dito.

Aproveitei para checar se minha mãe minha tinha mandado mensagem e deparei-me com uma ligação perdida vinda dela.

— 'Quê isso? – perguntou ele se surpreendente bom humor. – Tu dá uma vez 'pra mim e já vou me apresentar nos teus pais?

Estapeei-o no braço musculoso que tinha enquanto digitava contra mão as letras que avisavam-na que estava à caminho.

— Se apresentar como o quê, idiota? – resmunguei. – Eu entendi, claramente, quando você disse que só seria uma trégua. Eu só preciso da ajuda do meu melhor amigo com a minha saída amanhã. É suposto ser uma nova fase minha mais permissiva e menos rebelde.

Percebi-lhe respirar. Talvez não porque tínhamos voltado ao normal, mas porque toda a situação tinha. Tudo em nossa volta. O caos, a razão de estarmos às escuras sendo um de seus cruéis elementos. A transa e o meu perfume amarrotando seus lençóis eram apenas passageiros, e logo pesaria sobre nossos ombros que tínhamos pendentes além do que quer que aquilo tivesse sido.

— "Tendi – ele chiou.

Então levantei-me e fui à lanterna, mas me virei porque acreditei que não fosse só aquilo. Porque acreditei que, apesar de termos tudo à nossa volta, o que lhe preocupava ainda era eu.

— Porque nós não temos nada, não é?

— Tu não tinha ouvido direito, afinal?

— Nove da manhã, JJ – lembrei-lhe passados segundos.

— Eu também ouvi direito.

Porque sabia que era assim que me sentia em relação à ele. Ele era ainda a única coisa e pessoa que me preocupava.

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