☪Two; Ribs

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Victoria Martinelli
17 anos de idade

Acordei no sofá com a luz da manhã entrando pelas frestas da cortina. Por alguns segundos, não sabia bem onde estava. Senti o calor do corpo de Alec ao meu lado, o braço dele ainda ao redor da minha cintura, e lembrei de tudo o que aconteceu na noite anterior. O show, as conversas, o filme. Não era como eu havia planejado, mas, surpreendentemente, eu não me arrependia de nada.

Afastei-me devagar para não acordá-lo. Ele parecia tranquilo, com uma expressão leve no rosto, algo que eu não esperava ver. Eu, por outro lado, sentia uma mistura estranha de emoções.

Fiquei ali sentada por um momento, olhando para ele, tentando processar o que tinha mudado. Ontem à noite, eu estava convicta de que não queria conhecê-lo, de que ele seria apenas mais um cara na multidão, alguém que Nath tinha forçado na minha vida. Agora, as coisas não pareciam tão simples.

Sei que me achariam emocionada, mas eu amo a minha intensidade. Eu não tô falando que eu vou casar com ele, mas que talvez eu dê uma chance e me permita sentir algo.

Levantei-me devagar e fui para a cozinha. Nath e Thiago ainda deviam estar dormindo, e eu precisava de um tempo sozinha para organizar meus pensamentos.

Coloquei a chaleira para ferver, pensando no que havia acontecido entre nós. Alec não foi insistente, não tentou me pressionar para nada, e isso me surpreendeu. Talvez fosse exatamente por isso que eu estava balançada. Ele me deu o espaço que eu precisava, e, de alguma forma, isso me fez querer conhecê-lo melhor.

Enquanto o café terminava de coar, me lembrei das conversas durante o show. As piadas, os olhares, as músicas que compartilhamos. Algo nele era diferente, mas será que eu estava preparada para admitir isso para mim mesma? O problema não era o Alec, percebi, mas o que eu estava disposta a deixar acontecer.

Sempre gostei de manter o controle das situações, não queria me deixar vulnerável, ainda mais com alguém que acabei de conhecer. Será que valeria a pena?

Perdida nesses pensamentos, quase não percebi quando Alec apareceu na porta da cozinha, o cabelo bagunçado e os olhos ainda sonolentos, mas com um sorriso no rosto.

- Bom dia, Morena - ele disse com aquela voz rouca de quem acabou de acordar.

- Bom dia - respondi, tentando não parecer nervosa. - Dormiu bem?

- Com certeza. Melhor do que imaginei - ele disse, se aproximando lentamente, como se ainda estivesse testando a temperatura entre nós.

O ar ficou denso de repente. Ele parou na minha frente, e por um momento, nenhum de nós disse nada. Era como se ambos estivéssemos esperando o próximo passo do outro.

- Sobre ontem... - comecei, mas fui interrompida por um toque de celular. O som quebrou a tensão que se formava no ar. Ele sorriu e tirou o telefone do bolso.

- Nath - ele disse ao olhar para a tela, dando de ombros. - Deixa eu ver o que ela quer.

Enquanto ele se afastava para atender, eu respirei fundo. Talvez fosse melhor assim, com essa interrupção. Não estava pronta para ter aquela conversa, não ainda. Precisava de mais tempo para entender o que eu realmente queria.

Peguei minha xícara de café e me sentei à mesa, olhando para a janela. Será que eu estava complicando algo que poderia ser simples?

Talvez fosse isso, a minha resistência em deixar alguém se aproximar, em abrir um espaço na minha vida para outra pessoa. Era mais fácil manter as barreiras, fingir que não me importava. Mas, ao mesmo tempo, não podia ignorar a forma como me senti confortável ao lado dele ontem, como se ele tivesse entendido meu ritmo.

Alec voltou logo depois, desligando o celular e se sentando na cadeira à minha frente. Ele me olhou por alguns segundos, como se soubesse que eu estava refletindo sobre alguma coisa.

- Alguma chance de você me contar o que está passando pela sua cabeça agora? - ele perguntou, com aquele tom meio brincalhão, mas sério o suficiente para que eu soubesse que ele realmente queria uma resposta.

Pensei por um momento, tomando mais um gole de café antes de falar.

- Acho que só... não esperava que as coisas fossem assim. Você, sabe? Eu não planejei nada disso.

- Nem eu - ele respondeu rapidamente, com sinceridade. - Mas às vezes é assim que as melhores coisas acontecem. Sem plano, sem expectativa.

Olhei para ele por um momento, tentando absorver o que ele tinha dito. Alec tinha razão, e isso me irritava um pouco, porque me obrigava a confrontar minhas próprias resistências. Eu não queria admitir que, talvez, estar aberta a novas possibilidades não fosse tão ruim assim.

- Não costumo deixar as coisas acontecerem sem pensar antes - confessei, encarando minha xícara como se ela pudesse me dar as respostas que eu precisava.

- E como isso tem funcionado para você? - ele perguntou com um sorriso leve, mas os olhos sérios. Eu sabia que ele não estava tentando me provocar, só queria entender.

- Não sei - suspirei. - Talvez eu esteja me protegendo de algo que nem sei se preciso. É mais fácil não deixar ninguém se aproximar do que lidar com o que pode vir depois.

- Eu entendo. Mas ninguém está pedindo para você tomar uma decisão agora. Só... deixe as coisas fluírem. Não precisa ser tão difícil, Victoria.

Seu tom calmo me surpreendeu. Ele não estava pressionando, mas também não estava se afastando. Isso era novo para mim, e, de alguma forma, senti que ele poderia ser a exceção para quebrar essa minha barreira.

O dia ainda estava começando, e eu não sabia o que viria a seguir. Mas, pela primeira vez em muito tempo, senti que poderia deixar acontecer, mesmo que aos poucos. Talvez fosse essa a lição que Alec estava me ensinando: às vezes, soltar um pouco o controle não era o fim do mundo.

Ele me olhou novamente, e dessa vez, fui eu quem sorriu.

- Vou tentar - disse, finalmente deixando de lado a resistência.

- Isso já é um bom começo - ele respondeu, com aquele sorriso de canto que começava a me desarmar cada vez mais.

E talvez, só talvez, ele tivesse razão.

Luz que me traz pazOnde histórias criam vida. Descubra agora