"Mantenha-me ao seu lado"

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Essa fic não é de minha autoria, eu apenas traduzi ela.

perfil do autor(a) no AO3: Schangia

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Na maioria das vezes, Satoru ama seu trabalho. Como um profiler, ele não só mergulha fundo nas mentes de todas as pessoas perturbadas que a polícia caça, mas às vezes também tem a chance de interrogá-las – uma tarefa que lhe traz uma alegria imensurável. As pessoas à sua frente – criminosos, assassinos, terroristas, os rejeitados da sociedade – não merecem sua piedade, apenas o julgamento da lei. E se chegarem à prisão um pouco abalados mentalmente, ninguém reclama. Menos ainda o supervisor de Satoru.

Satoru realmente ama seu trabalho – geralmente, é claro. Desta vez, ele não tem tanta certeza se realmente quer falar com a pessoa que o espera na sala de interrogatório. Com uma carranca gravada no rosto, ele entra na pequena e abafada sala e joga os documentos que revisou pela última hora na mesa antes de lançar um olhar desagradável ao criminoso.

E Suguru, chefe da família yakuza local e seu melhor amigo de infância, sorri de volta para ele.

“Não é bem a reunião que eu tinha em mente”, diz Satoru enquanto se senta à mesa em frente a ele. Quanto mais ele observa Suguru, mais ele quer pular da cadeira novamente e ir embora. E ainda assim, apesar do desconforto, ele se encontra acorrentado por correntes invisíveis.

Suguru parece muito o mesmo de antes. Seu cabelo está mais longo agora, não preso em um coque, mas caindo livremente sobre o cetim escuro de seu terno, e os ângulos de seu rosto estão mais nítidos. Além disso, nada mudou. Quando Satoru olha para ele, tudo o que vê é o passado.

“Essa é uma expressão bem assustadora no seu rosto. É assim que você cumprimenta seu melhor amigo depois de não se verem por tanto tempo?” Suguru pergunta, sua voz muito jovial, muito suave para a situação. (Isso, Satoru nota severamente, é de fato algo que mudou, porque Suguru nunca falou com ele daquele jeito.)

Satoru zomba. “É como eu cumprimento o bastardo que cortou relações comigo depois da formatura e começou a subir na hierarquia de uma família yakuza.”

“Não soe tão rancoroso, matar aquele velhote para reivindicar sua posição como chefe foi um trabalho duro.” Inclinando-se para trás o máximo que a cadeira desconfortável permite, Suguru dá de ombros. Sua voz, ainda alegre e casual demais para a situação em que está, faz a raiva borbulhar no fundo do estômago de Satoru. “E se isso te faz sentir melhor, eu cortei laços com todos vocês, não apenas com você especificamente.”

Oh meu, que alívio", Satoru cospe e revira os olhos. Isso ele já sabia; ele esteve em contato com Shoko e ocasionalmente com Nanami depois da formatura delas (embora ele não tenha feito um esforço para visitar nenhuma delas pessoalmente) e as encheu de perguntas na esperança de que uma delas pudesse ter ouvido algo sobre o paradeiro de Suguru.

Satoru passou pelo inferno (porque essa é a única descrição adequada para uma vida sem Suguru), e ainda assim Suguru não parece se importar com as vidas que ele interrompeu com seu desaparecimento. Ele apenas continua sentado na frente dele como se tivessem decidido se encontrar para um café.

A cada segundo que passa, o gosto amargo fica mais forte em sua língua. “Nunca soube que você queria entrar para o submundo. Nunca se importou o suficiente para me contar sobre seus grandes sonhos?”

“Você fala como se eu sempre tivesse desejado isso,” diz Suguru, e desta vez, há uma pequena fissura em sua máscara, quase imperceptível no movimento de sua sobrancelha. Mas Satoru o conhece há tempo demais para deixar passar.

“Então você não queria?” ele pergunta, inclinando-se para frente e apoiando o queixo na palma da mão.

“Obviamente não. Quem colocaria isso como o emprego dos sonhos?” Suguru soa desdenhoso, como costumava fazer sempre que iam ao cinema assistir ao último filme, apenas para reclamar da escrita ruim e dos buracos no enredo no caminho de volta para casa. Ele abre a boca novamente, mas não diz nada, apenas franze ainda mais a testa. Quando finalmente responde, ele não encontra o olhar de Satoru. “Muita coisa aconteceu antes da nossa formatura. Essa era a única escolha que me restava.”

Satosugu - One Shots (Tradução)Onde histórias criam vida. Descubra agora