Espelho dos Inquietudes

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não é só um espelho, 
é um julgamento, 
um reflexo em guerra, 
meus olhos se recusam a encarar. 
eu me vejo e é como se 
visse alguém que não sou eu, 
mas ao mesmo tempo sou eu, 
e isso é o que mais dói.

fujo da luz como quem 
tem medo de se queimar 
evito sorrisos, evito olhares 
como se todos pudessem ver 
a sujeira, a vergonha 
que carrego debaixo da pele.

não é sobre ser bonita, 
é sobre ser suficiente 
sobre não ter que me esconder 
atrás de roupas, atrás de desculpas 
atrás de portas fechadas 
em um quarto escuro que eu 
chamo de segurança.

toda vez que eu saio 
parece que o mundo 
desaba sobre mim, 
toda risada me corta como faca 
todo olhar é uma sentença 
e eu me pergunto 
se alguém percebe 
o quanto dói estar aqui.

eu não queria me odiar 
mas eu não sei amar 
esse corpo que eu habito 
como uma casa em ruínas 
em um bairro esquecido 
por quem passa.

me disseram que é só fase 
só uma nuvem, 
mas eu vivo na tempestade 
e ninguém vê. 
me disseram para ser forte 
mas meus ossos são frágeis 
me disseram que o amor cura 
mas eu sou a ferida.

eu queria só por um dia 
não querer desaparecer 
não desejar ser invisível 
não precisar me esconder 
atrás de um rosto que eu não reconheço.

quero um dia de paz, 
um dia onde o espelho 
não me seja um inimigo 
um dia em que eu possa 
sorrir sem pensar, 
um dia em que eu possa 
viver sem me esconder.

mas por enquanto 
eu só espero, 
espero que alguém, 
qualquer um, 
veja através do reflexo 
e me enxergue de verdade.

Geração dos caídosOnde histórias criam vida. Descubra agora