PORQUÊ EU?

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Eu sou o erro na fila da vida,
O tropeço escondido no reflexo
de quem passa ao lado,
enquanto comparo minha sombra
com os homens que parecem feitos de bronze,
esculpidos para serem escolhidos.

Eu sou o que fica de fora,
o que olha e não entende.
Porque meu corpo não grita força,
meu bolso não geme riquezas,
e no fundo, eu sei que sou menos
do que esperam ver quando procuram amor.

Eu nunca fui o cara que elas escolhem.
Há sempre outro melhor —
mais alto, mais largo,
mais cheio de histórias vazias pra contar,
de drinks caros pra beber
e uma sede por pele que eu não sei ter.

Eu sou o que espera por algo
que não existe na velocidade da carne.
Eu, que não sei jogar o jogo,
não bebo, não fumo,
não coleciono beijos vazios
ou noites que se esquecem ao amanhecer.

Me pergunto se algum dia vão me ver,
além do riso tímido, além da roupa gasta,
além do peito que não se infla
pra provar que sou digno de ser amado.
Eu me canso de tentar caber no molde
de ser o que nunca fui —
rico de sentimentos que ninguém valoriza.

Eu olho pro espelho e só vejo cansaço,
um rosto que já desistiu antes de tentar,
um alguém que acredita que o amor
é só pros fortes,
pra quem tem mais do que eu jamais terei.
E, no fundo, eu sei.
Talvez seja melhor me esconder nas sombras
onde ninguém precisa me escolher.

Geração dos caídosOnde histórias criam vida. Descubra agora