Conexão de almas

1. Olhos Verdes

André 

André fazia seu trabalho de geografia no carro da irmã, voltava de um final de semana incrível na casa da família, que agora sua irmã mais velha, Mia, o levava para seu colégio, Rosas dos Ventos, e pela noite de tacos que tiveram, o moreno esqueceu pela primeira vez algo relacionado a geografia, sua matéria favorita

-Como consegue escrever alguma coisa com o carro balançando todo? 

Mia perguntou ao irmão, que estava concentrado no caderno, diminuiu o som do carro quando percebeu que o mais novo não ia ouvir enquanto estivesse estudando e muito menos se "idiota, de Jão" estivesse por todo o carro 

-André! 

-O que? Me chamou? 

O moreno levantou a cabeça atordoado, quase deixando o caderno cair enquanto passavam por um quebra-mola, que rapidamente se agarrou e tirou risadas da irmã 

-Quando vai terminar isso aí? Tá escrevendo desde quando entrou no carro 

-Tô quase, não acredito que esqueci 

-Todo mundo fica esquecido depois de comer os tacos da mãe, são tão bons que você fica pensando neles por uma semana 

André soltou uma risada, fechando o caderno e guardando na mochila. Sua cabeça já estava explodindo de tanto olhar para baixo e de tentar fazer alguma letra decente, não conseguindo por causa do tremelique do carro 

-Falando em comida preciso de algo pra comer ou beber para acabar com essa tontura 

Mia parando o carro no sinal, entregou sua garrafa de água para o irmão mais novo. Sempre quando o mesmo precisava de ajuda, ela estava lá por ele independente da situação, não devia pensar assim mas Mia era com certeza a irmã favorita de André, que sempre o apoiava e dava os melhores conselhos. 

-Obrigado 

-Que isso, mas enfim...

André sabia que quando Mia falava "mas enfim..." ela iria reclamar de algo ou de alguém, então se deitou na cadeira do passageiro e abriu os ouvidos para escutar a irmã. 

A ruiva segurava o volante com força, André sempre desconfiou que Mia era tão legal com os outros pois descontava sua raiva na estrada, já tinha visto sua irmã brava várias vezes, e coitado de quem a tivesse irritado, seria buzina e palavrão por todo o lado. Bem parecido com o seu amigo, Binho, quando se irritava 

-Você estuda naquele colégio desde os oito anos de idade e não entrou ninguém novo? 

-Por que isso te incomoda tanto Mimi?

Mimi, um apelido que André lhe deu quando tinha dois anos, pois não conseguia falar o nome "Mia" direito. Desde então, o mais novo só lhe chama assim, mesmo já estando crescido e falando normalmente 

-Porque é bizarro, você já tem dezesseis, como em oito anos não entra ninguém novo na sua sala? Sempre as mesmas pessoas, mesmos colegas, mesmas exs 

-Então é por causa da Penélope? 

André a pegou no pulo, Mia nunca gostou de Penélope, nem mesmo quando os dois estavam namorando, a mais velha sempre a achou superficial e mimada, mas André estava tão apaixonado que não conseguia enxergar o óbvio. Se tivesse escutado os conselhos da irmã antes... 

-Desculpe, mas a ideia de vocês estudando juntos não me desce. Aquela menina é uma mocreia sem tamanho 

-Calma, eu já perdoei ela 

-Pera, o que? 

Mia ficou tão assustada que quase não viu o outro carro passando em sua frente, então quando percebeu freou com tudo para não baterem. Se André não tivesse com o cinto de segurança com certeza teria batido a cabeça com toda força no vidro da frente

-ANDRÉ SEU FILHO DE QUENGA, desculpa mãe - antes de continuar gritando, respirou fundo três vezes para se acalmar, odiava gritar com o mais novo - Como assim você perdoou ela? 

-Não é isso que você tá pensando, eu perdoei ela mas não quero nenhum contato com a mesma 

-Ah bom, não é possível que iria continuar namorando com a mocreia mesmo depois de tudo que ela fez. Não te criei assim 

André deu uma risada leve, sua irmã não precisava nem dessa mini bronca, o moreno não iria voltar com Penélope nem em sonhos. Se machucou demais e não queria passar por isso novamente. 

Depois de mais alguns minutos, finalmente chegaram ao colégio de André, que o próprio pegou suas coisas e depois de um abraço apertado na irmã mais velha, entrou em direção ao quarto guardando sua mala de roupas e indo a toca dos Luíses, que ele e os meninos tem desde crianças, para fazer seu trabalho. 

Quando finalmente terminou, escutou o elevador descendo, era Pedro, seu melhor amigo 

-Você tá aí 

-Oi Pedro 

-Como foi o final de semana? 

-Foi ótimo, e o seu? 

-Bom também, ficou sabendo que vai entrar uma menina nova no colégio? parece que vai ficar na nossa sala

-Sério? 

-A Elisa tá toda desesperada arrumando as coisas, ela que contou a notícia 

-Entendi 

André ficou surpreso, não que não tivesse gostado da notícia, seria uma mudança até que boa, mas como sua irmã disse mais cedo. Oito anos sem ninguém novo entrar, era um pouco chocante ter uma pessoa nova por perto 

O moreno e Pedro ficaram conversando mais um pouco até a hora de ir para a sala. Onde Pilar, a professora da turma, não estava lá. 

Aquilo estranhou André e Pedro pois a professora deles nunca se atrasava, mas alguns minutos depois de se sentarem, Pilar apareceu com uma menina de cabelos castanhos e olhos verdes, que segurava uma mochila em formato de bicho preguiça 

Por algum motivo André se surpreendeu, não conseguia tirar os olhos daquela menina, que era muito bonita, mas seus olhos transmitiam uma tristeza grande, como se não quisesse estar lá nem se fosse o único lugar do mundo. 

Os olhos verdes dela se encontraram com os castanhos claros de André, que sentiu um grande arrepio por um segundo. Mal sabiam os dois que a partir daquele momento suas almas estariam sempre conectadas… 
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Continua🦥
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