Lei da atração

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Início de temporada era sempre um pesadelo para o Minas. O time não rendia, era desorganizado e mal treinado. Todo mundo sabia disso, mas a história se repetia ano após ano. Jogadores sem entrosamento, erros básicos e uma falta de intensidade que irritava a torcida. Mesmo com a promessa de mudanças, as primeiras partidas eram marcadas por derrotas frustrantes e atuações abaixo do esperado. O time parecia um reflexo de uma preparação apressada e sem planejamento adequado, deixando claro que, para o Minas, a temporada só começava a engrenar depois.

E isso deixava a capitã, Caroline Gattaz, aflita. O jogo contra o Praia Clube, seu maior rival, seria hoje, e não havia como negar que as adversárias estavam bem mais preparadas. Ela sabia disso, e o pior: se incluía nessa avaliação. Enquanto o Praia se dedicava intensamente aos treinos, ela passava algumas noites se aventurando em baladas e bares, acompanhada de Priscila Daroit e as outras meninas do time. Era uma distração que, na hora, parecia inofensiva, mas agora, à beira de um dos confrontos mais importantes da temporada, o peso da falta de foco a atingia com força. A responsabilidade de liderar o time era enorme, e ela não podia deixar de se sentir culpada.

(..)

Gattaz se olhava no espelho enquanto ajustava o uniforme. O azul e branco do Minas sempre lhe dera um certo orgulho, mas naquela manhã o peso daquela camisa parecia maior. O nervosismo crescia em seu estômago, e ela não conseguia afastar a sensação de que, dessa vez, as coisas não seriam fáceis.

Ela prendia o cabelo em um rabo de cavalo firme, tentando se concentrar, mas os pensamentos insistiam em voltar para as noites mal dormidas, os risos despreocupados nas baladas com Priscila, as escolhas que, naquele momento, pareciam importar mais do que os treinos.

Não adianta pensar nisso agora, murmurou para si mesma, tentando afastar o arrependimento.

— Tá pronta, capitã? — Priscila entrou no quarto, já pronta para o jogo, com seu habitual sorriso.

— Pronta, né... pelo menos no uniforme. Mas confesso que hoje o jogo vai ser difícil. — Caroline soltou um suspiro profundo.

Priscila, sempre mais tranquila, deu um tapinha nas costas dela.  — A gente vai dar conta. É só um jogo. Vamos entrar, fazer o que sabemos e tentar não pensar demais.

Mas Caroline sabia que não era só mais um jogo. Era o Praia Clube. Era o início da temporada, e todas as incertezas pesavam. "É, só um jogo...", repetiu, mais para si mesma do que para Priscila, enquanto pegava a mochila e se preparava para enfrentar mais do que apenas as adversárias em quadra: ela precisava, antes de tudo, enfrentar seus próprios demônios.

Elas saíram do apartamento de Caroline, onde haviam passado a noite. A razão? Bem, tinham saído na noite anterior com duas novinhas, e o resto... já era história. Caroline riu sozinha ao lembrar dos flashes da madrugada: uma loira que nem sabia o nome, sexo, e um pouco de bebida a mais do que deveria. Priscila, ao seu lado, também parecia imersa nas lembranças da noite, mas agora o foco precisava mudar.

Enquanto andavam pelo corredor do prédio, Caroline tentava manter a postura de capitã que todos esperavam dela. "Precisamos deixar aquilo pra trás agora", pensou, mas a cabeça pesada e o corpo cansado dificultavam a concentração. A ideia de enfrentar o Praia Clube em algumas horas não ajudava em nada. Sentia-se desgastada, como se as escolhas da noite anterior fossem se refletir na quadra.

O sol da manhã bateu em seus olhos quando elas finalmente saíram do prédio, e a realidade a atingiu em cheio. Não havia mais como voltar atrás. Caroline destrancou sua BMW com um toque firme, e ambas entraram no carro, soltando suspiros de cansaço e nervosismo. Quando girou a chave, o ronco do motor potente preencheu o silêncio, vibrando através de seus corpos, como um lembrete de que o dia seria longo.

One Shots - RosattazOnde histórias criam vida. Descubra agora