Capítulo 5.

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           O estúdio de música estava um caos. Equipamentos espalhados, partituras amassadas e instrumentos fora do lugar. Os dois estavam diante da tarefa que pareciam evitar a todo custo: limpar aquele desastre. Não lembrava que estava tão bagunçado da última vez que veio, talvez, os meninos haviam ficado até mais tarde e por isso encontrava-se desta forma.

— Olha, se eu soubesse que ia terminar assim, teria deixado a limpeza para o Suna. — disse ela, enquanto se abaixava para pegar uma pilha de partituras amassadas que havia caído.

Sakusa, com suas mãos nos bolsos, observava a cena com um olhar clínico, quase como um avaliador de qualidade. Havia muito trabalho pela frente e se dependesse dele, eles só iam sair quando tu estivesse reluzente, precisava ter certeza que estava limpo o suficiente.

— Eu também teria deixado o trabalho para alguém. Mas, aparentemente, a sorte não está do nosso lado hoje — respondeu Sakusa, dando uma olhada na guitarra ao seu lado, parecia estar afinada. Ele a colocou cuidadosamente no suporte e se aproximou de uma mesa cheia de cabos emaranhados.

Naomi começou a organizar as partituras, tentando não deixar a frustração transparecer. Cada movimento era feito com um pouco de raiva disfarçada. O universo só poderia estar brincando com sua face, aprenderia a ler seu horóscopo antes de sair de casa, para evitar esse tipo de situação.

— Como é que você consegue ser tão... organizado? — perguntou, tentando desviar a atenção do quanto a situação a irritava. — Não se cansa de ser tão metódico?

Sakusa ajustava os cabos com uma precisão quase obsessiva, sem desviar os olhos da tarefa. Aprendeu a ser e eram os raros os momentos em que ele não lidava com aquilo daquela forma, seus pais sempre foram rígidos e assim nasceu Sakusa, um pequeno clone de ambos.

— Você me conhece. Se eu não fosse assim, nada sairia certo. - ele respondeu, não era um assunto que o agradava. — Eu preciso ser assim.

Ela resmungou enquanto arrumava os papéis e jogava fora as partituras rasgadas. A ideia de que tudo tinha que ser perfeito estava a deixando ainda mais estressada, pois sabia que não ia sair tão cedo daquele lugar e ela possuía planos, esses que estavam quase cogitando cancelar.

—  Se ao menos você relaxasse um pouco, talvez fosse mais fácil lidar com você.

— Relaxar não faz parte do meu vocabulário, especialmente quando vejo sujeira e desordem — Sakusa retrucou, pegando uma caixa de equipamentos que estava encostada em um canto e começando a organizar. — E, por falar em relaxar, será que você consegue parar de se distrair com o celular? Olha quantas notificações você tem.

Ela levantou a cabeça e deu um rápido olhar para o celular, que estava pipocando com novas mensagens. Cada som de notificação parecia um lembrete do quanto o mundo estava lá fora, e não aqui, naquela sala entulhada.

— Está vendo? Pelo menos eu tenho algo mais interessante para fazer além de ajeitar instrumentos e reclamar.

Sakusa bufou e começou a desdobrar os cabos do microfone, tentando manter a calma.

— Se ao menos você levasse a limpeza a sério, poderíamos ter terminado mais cedo. E eu não teria que ouvir suas reclamações.

— Eu só estou tentando manter a sanidade, já que você insiste em ser o chefe de limpeza do mundo — respondeu ela, finalmente empilhando as partituras em uma caixa. Cada vez que olhava para Sakusa, ele parecia mais um perfeccionista rabugento.

— Bom, alguém precisa fazer isso, e parece que você está ocupada demais para perceber a importância disso — Sakusa disse, tirando um pano do bolso para limpar o pó dos equipamentos. — A propósito, por que você nunca me contou sobre o que realmente aconteceu? Você não acha que é relevante?

Ela hesitou um momento, parando para encarar Sakusa, nunca imaginou que ele fosse a questionar tão diretamente sobre o assunto, esse que nem o seu irmão ousava tocar, era algo delicado. O tom da voz dele era mais grave do que o usual, e ela podia sentir a pressão.

— É mais fácil lidar com você quando eu simplesmente não digo tudo.

— E isso é exatamente o que eu esperava — Sakusa respondeu, enquanto tentava alinhar as partituras em uma estante. — Mantenha suas desculpas e foque na limpeza. Vamos terminar isso antes que eu me arrependa de ter aceitado ajudar você.

O estúdio parecia estar aos poucos voltando ao normal, embora o processo fosse tudo menos agradável. Cada um tentava se concentrar em sua parte do trabalho, mas a tensão entre eles era palpável. Ela pegou uma vassoura e começou a varrer o chão, tentando não pensar na quantidade de poeira que estava sendo levantada. Sakusa estava limpando uma bateria, cada movimento meticuloso e cuidadoso.

— Você sabia que eu nunca pensei que a limpeza pudesse ser tão... cansativa? — ela comentou, tentando manter a conversa fluindo para amenizar o clima.

Lembrava das palavras de Suna. "Você pode tentar, por mim." Ele sabia que se fosse assim, Naomi tentaria amenizar o clima com Sakusa e cogitar agir de um jeito mais humanizado.

— Ah, a vida não é apenas diversão e jogos, apesar do que você possa achar — Sakusa respondeu, seu tom ainda sarcástico. — A realidade tem suas maneiras de nos lembrar disso.

— É, parece que a realidade decidiu dar um lembrete bem grande hoje — ela concordou, soltando um suspiro enquanto terminava de varrer o chão. — Pelo menos agora o estúdio está quase limpo. Só falta limpar a bagunça que está na nossa cabeça.

Finalmente, quando o estúdio estava relativamente em ordem, ambos se sentaram, exaustos. A tensão entre eles ainda era visível, mas havia uma sensação de realização no ar.

— Eu ainda não entendo como você consegue ser tão... — ela começou, mas Sakusa levantou a mão.

— Não precisa terminar essa frase. Eu já conheço o seu repertório de críticas. — Sakusa sorriu sutilmente, seu olhar relaxando um pouco. — Mas, apesar de tudo, foi um bom trabalho.

Ela balançou a cabeça, um sorriso cansado surgindo em seus lábios. — Sim, só não se acostume a ter meu agradecimento muito frequentemente.

— Eu me contento com isso — respondeu Sakusa, dando um último olhar ao estúdio, agora limpo e arrumado. — Agora, vamos antes que alguém note o quanto realmente tentamos, e possivelmente falhamos, em manter nossa sanidade.

Os dois se levantaram e saíram do estúdio, o silêncio se manteve e não houve despedidas, cada um apenas seguiu o seu rumo. A missão estava concluída e isso era o suficiente, apesar das diferenças, ainda podiam encontrar um meio-termo, mesmo que fosse no meio da limpeza.

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Depois de meses, retornei!

𝗦𝗢𝗡𝗚 - 𝐒akusa 𝐊iyoomi.Onde histórias criam vida. Descubra agora