Capítulo 9 - Reflexos de Um Brilho Perdido

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Acordei de um pesadelo nebuloso para a realidade incerta do hospital, onde o silêncio era interrompido apenas pelos bipes suaves das máquinas. A dor na perna era uma constante lembrança da gravidade do acidente, e o entorpecimento que sentia estava começando a diminuir, revelando a intensidade da dor física e emocional. O brilho roxo, que antes parecia uma ilusão, continuava a assombrar meus pensamentos.

Enquanto tentava organizar os pensamentos em meio ao caos, uma série de flashes me atingiu com força. Lembrei-me da estrada, da chuva e daquele brilho roxo inexplicável. O que poderia ter causado aquilo? Era uma cor que não fazia sentido, um reflexo, talvez. Mas eu não conseguia lembrar de um objeto específico. No entanto, eu tinha certeza de que Aria não estava lá, talvez eu tivesse delirado devido à dor. A mente pode ser cruel quando está lidando com o trauma e a confusão.

Minha mãe entrou na sala com uma expressão de alívio e preocupação. Quando nossos olhares se encontraram, soube que era hora de enfrentar outra parte da realidade. Ela me contou, com a voz carregada de esperança e angústia, que Ty ainda estava desacordado, em um estado crítico. O peso daquelas palavras se abateu sobre mim como uma onda sufocante.

- Os médicos estão fazendo o possível, mas ele ainda não acordou. - Sua voz era um sussurro rouco, cheio de tensão.

A notícia era difícil de processar. Ty, sempre tão cheio de vida e energia, agora estava lutando silenciosamente entre a vida e a morte. Um medo profundo se instalou em meu peito, e por um momento, a dor física na perna se tornou irrelevante diante da incerteza sobre o estado do meu melhor amigo.

As visitas do dia passaram como um borrão. Enfermeiras vinham e iam, ajustando medicamentos, fazendo perguntas monótonas sobre a dor, mas meu foco permanecia em Ty, em seu estado, e no fato de que ele ainda não havia despertado.

À medida que a noite se aproximava, o cansaço me dominava, mas o sono parecia impossível. Eu tentava me preparar para o que quer que o futuro trouxesse, mas era difícil com tanto peso emocional sobre mim. A sala estava quieta, quase sufocante, quando a porta se abriu suavemente, e uma figura entrou.

Era Aria. Ela estava de pé na entrada, um misto de sombra e luz na penumbra do hospital. Por um momento, achei que estivesse sonhando de novo, que ela fosse uma projeção dos meus pensamentos agitados, mas então ela deu um passo para dentro, e seus olhos encontraram os meus.

- Aria? - Minha voz saiu baixa, um sussurro misturado com surpresa e confusão.

Ela me olhou com uma expressão indecifrável, como se estivesse avaliando a situação, pesando algo em sua mente. A luz do corredor iluminava parte de seu rosto, deixando a outra metade envolta em sombras.

- Eu... não consigo ficar por muito tempo - ela disse suavemente, sua voz soando quase distante, como se estivesse muito além do quarto em que estávamos. - Mas eu queria ver como você estava... Ver que você está bem.

Fiquei quieto, processando suas palavras. Havia algo em seu tom, algo que soava estranho. Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, ela continuou.

- Você deve se cuidar, Nick. Isso é o melhor para todos.

Ela se virou, como se estivesse prestes a partir, e meu coração disparou.

- Aria, espera... - Eu tentei chamá-la, mas as palavras ficaram presas na garganta.

Ela já estava saindo pela porta, seus passos rápidos e silenciosos ecoando no corredor. A presença dela, embora breve, parecia tão surreal quanto tudo o que tinha acontecido nos últimos dias. Será que ela realmente esteve ali? Ou será que era mais uma peça pregada pela minha mente, quebrada pelo trauma e pela exaustão?

Fiquei ali, sozinho, sentindo uma mistura de alívio e desorientação. Aria estava de volta na minha mente, mas era impossível discernir se sua presença era real ou apenas mais uma faceta do meu estado mental perturbado.

Olhei pela janela do hospital, observando as luzes da cidade refletindo na água da chuva que caía. O brilho roxo voltou, novamente visível como uma ilusão distorcida. Com o tempo, percebi que aquele brilho era uma metáfora para o que estava por vir. Minha vida havia mudado irreversivelmente, e eu precisava aceitar isso.

A dor física, embora intensa, era apenas um reflexo da turbulência emocional que sentia. O futuro estava incerto, e eu estava prestes a enfrentar uma nova realidade, com todos os desafios e mudanças que viriam com ele.

A noite se aprofundava, e o brilho roxo continuava a assombrar meus pensamentos, como um prenúncio de que ainda havia muito por vir. Eu me afundei no travesseiro, sentindo o peso das mudanças que estavam por vir, enquanto o reflexo do brilho roxo piscava na janela, sugerindo que ainda havia mais a ser descoberto.

Ty ainda estava lá, preso entre dois mundos. Eu, por minha vez, estava no limiar de um novo começo - e a escuridão que pairava no horizonte só me fazia questionar até onde essa jornada me levaria.

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