Prólogo.

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Sinto a garganta seca e uma vontade imensa de vomitar até a alma

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Sinto a garganta seca e uma vontade imensa de vomitar até a alma. Meu coração está apertado e tudo o que sinto é repulsa. Encaro meu reflexo no espelho; deveria sorrir, mas não consigo. O dia do casamento é sempre especial e esperado por toda noiva, mas, nos últimos meses, tem sido uma tortura para mim. Nunca desejei nada disso, mas já não posso decidir nada... meu destino não é mais meu. Minha vida foi vendida a um agiota pelo meu próprio pai, que destruiu as economias da nossa família em apostas e gastos desnecessários. Sei que, ao final desta tarde, estarei entregue a um velho asqueroso.

- Você está linda, Esther. - Minha mãe toca meu ombro com um gesto suave. Eu não a culpo; ela sobreviveu a esse casamento, suportando anos de abuso e calando-se para proteger a si mesma e a nós, suas filhas. - Eu sonhei tanto em vê-la vestida assim.

- Não imaginávamos que seria assim. - Digo, sem desviar os olhos do meu reflexo.

- Seja obediente e dê a ele o que pedir. - Minha mãe diz, sua voz tremendo ligeiramente. - Não o responda, não desobedeça e, acima de tudo, não discuta com ele. Você poderá viver e não sofrerá... bem, você sabe.

- Se eu for obediente, com sorte ele não me espancará até sangrar, não é? - Respondo com ironia. - Não sei como a senhora aguentou tanto tempo nesse casamento.

- A gente aprende.

Minha mãe sempre foi uma mulher bonita, com olhos verdes e cabelos castanhos que eu e minha irmã herdamos. Ela era sábia, formou-se como professora, mas nunca pode exercer sua profissão. Uma das maldições do casamento.

- Mãe, prometa que vai cuidar da Mariana. - Digo, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas. - Prometa que tentará dar a ela um futuro melhor. Não deixe que aquele homem destrua a vida dela.

- Aquele homem é seu pai, Esther. - Minha mãe me corrige, suas mãos suaves trabalham em meu cabelo, fazendo uma trança. - Mariana tem doze anos; seu pai planeja mandá-la para um colégio interno.

- Melhor do que vendê-la para um estranho. - Digo com repulsa.

Minha mãe finaliza a trança e a enrola, prendendo o véu sobre ela. Sinto o tecido rendado tocar meu pescoço, provocando um arrepio.

A porta do quarto se abre e meu pai entra, com seu olhar implacável. Seu terno está impecável, mas o que mais me assusta é a expressão de indiferença no rosto dele. Ele para na entrada, observando-me com uma frieza que me faz sentir como se estivesse nua, exposta.

- Hora de ir, Esther. - Sua voz é dura, sem qualquer sinal de afeto. - Não temos o dia inteiro.

Minha mãe me dá um último olhar triste e, com um suspiro profundo, se retira. Eu permaneço em pé, imóvel, sentindo a tensão aumentar. Meu pai se aproxima, seu olhar passando pelo véu, e com um gesto brusco, ele o ajusta, como se eu fosse um mero objeto para ser exibido.

- Está pronta para cumprir seu papel? - Ele pergunta com uma frieza cortante.

Não tenho escolha senão acenar com a cabeça. Sigo-o pelos corredores, cada passo me levando mais para longe da liberdade que eu mal tinha conhecido. O som dos meus saltos ecoa, cada passo é uma agonia, um lembrete do futuro que me aguarda.

À Mercê Da EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora