C: 1 - Manchete No Jornal

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2101 palavras.

“Tragédia no Altar: Jovem de 24 anos Executa Família e Sequestra Irmã Caçula:

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“Tragédia no Altar: Jovem de 24 anos Executa Família e Sequestra Irmã Caçula:

Esther Manzzoni, de 24 anos, chocou a comunidade ao assassinar a sangue frio seus pais e o recém-casado esposo na tarde desta quinta-feira. Após os disparos, a jovem fugiu, levando a irmã caçula como refém. O motivo por trás do crime permanece desconhecido, e ambas as irmãs continuam desaparecidas. Autoridades seguem na busca.”

Cher observa-me com descrença enquanto segura um cigarro entre os dedos. O brilho do fogo acende suas unhas pintadas de vermelho, e ela exala a fumaça com um ar de quem já viu de tudo.

— Tem quase dois meses que esse jornal saiu, e você ainda o lê? — comenta, com uma sobrancelha arqueada. — Aposto que já decorou cada letra.

Solto o jornal sobre a mesa com um suspiro indignado.

— A mídia distorceu tudo — rebato, sentindo a raiva borbulhar. — Aquele miserável matou meus pais e teria feito o mesmo comigo se eu não tivesse reagido.

Cher dá de ombros, como se meu desabafo fosse apenas mais uma história trágica em um mundo já saturado de horrores.

— A vida é assim. Sobrevivência. — diz, antes de levar o cigarro aos lábios e baforar mais fumaça. — Ninguém quer saber da verdade, só do sangue derramado.

Minhas mãos tremem de frustração enquanto passo os dedos pelo jornal amassado. As letras impressas parecem zombar de mim, cada palavra uma facada em minha dignidade perdida.

— Tentei fazer o certo...— murmuro, minha voz cansada e rouca. — Tentei ir à delegacia para confessar ter matado em legítima defesa, e olha onde vim parar. Sequestrada por alguém que pensei estar tentando me ajudar.

Cher solta uma risada amarga, cheia de desprezo.

— Cassandra Leman é assim. Finge ser uma boa samaritana, mas é uma puta velha — diz com veneno na voz. — Ela me encontrou trabalhando como vendedora em uma loja. Disse que tinha uma amiga rica precisando de alguém de confiança para gerenciar uma loja de luxo. E eu, burra, acreditei. — Cher traga profundamente, e seus olhos perdem o foco por um instante, como se revivesse um passado doloroso. — Difícil acreditar que gente fodida como nós tenha alguma chance de subir na vida. Mas bate uma esperança, sabe?

Eu afundo na cadeira, o peso da situação me esmagando.

— Ela ofereceu água para minha irmã e eu, e acordamos nesse inferno.

Cher se inclina um pouco, e sua expressão endurece.

— Veja pelo lado bom, garota, você não faz programa. — Sua voz é um pouco mais suave, mas ainda carregada de cinismo. — Cheguei aqui com vinte anos. Agora estou perto de completar trinta, e nunca consegui bater a meta da casa para ser liberada.

À Mercê Da EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora