C: 2 - Noite agitada.

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2177 palavras.

Eram onze da noite e a casa já estava em plena preparação para receber visitas

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Eram onze da noite e a casa já estava em plena preparação para receber visitas. O cheiro forte de perfume barato impregnava o ar do quarto, enquanto Jane e Meiying se maquiavam diante do espelho. Ambas optaram por sombras escuras e batom vermelho, cores que combinavam com a atmosfera pesada daquela noite. Cassandra havia anunciado que seria uma ocasião especial: leiloariam a virgindade de uma das recém-chegadas, uma garota chamada Rose. Ela era loira, muito bonita, mas sempre com um semblante tristonho.
Difícil não ficar assim vivendo nesse inferno. — Pensei, observando-a pelos cantos, cada vez mais apagada. Rose se recusava a comer na maioria das refeições, mas Cassandra não aceitava isso. Ela ordenava que Asaf, o Turco, a alimentasse à força, empurrando a comida goela abaixo. A aparência aqui era crucial, e Cassandra sempre dizia que uma mulher abatida não gerava lucro.

Eu havia terminado minhas obrigações e agora estava deitada no beliche de baixo, observando Jane e Meiying se arrumarem. Jane alisava o cabelo ruivo e vestia uma minissaia de couro junto com um top preto. Suas pernas, apertadas por uma meia arrastão, eram ressaltadas pelas botas de cano longo. Meiying, por outro lado, escolheu um vestido vermelho curto e sapatos de salto, o cabelo preto preso em um rabo de cavalo alto. Ambas tinham mais ou menos a minha idade, mas estavam aqui há bem mais tempo. Diziam que Jane chegou aos quinze anos, uma refugiada da guerra na Ucrânia, enganada por Cassandra e trazida para cá. Meiying, uma chinesa, havia conseguido uma bolsa de estudos para Harvard, mas, depois de ser despejada da república onde morava, caiu em uma armadilha ao procurar hospedagem barata. Agora estávamos todas presas no mesmo pesadelo.

Essas pessoas estão em todos os lugares. O esquema de tráfico é vasto, ramificado, e eles destroem vidas com a mesma facilidade com que fazem negócios. Aqui, conhecíamos apenas três deles: Cassandra, a cafetina que comandava tudo; Olga, responsável pelas finanças; e Pablo, que aparecia uma vez por mês para conferir os lucros, inspecionar as meninas e garantir que todas estivessem bonitas e saudáveis. Se não estivessem... bem, já vimos, uma vez, o que acontece. Bianca, uma das meninas, pegou uma gripe que evoluiu para pneumonia. Cassandra não achou que era necessário levá-la a um médico e, quando a situação piorou, ela foi isolada de todas nós. Sem ver melhora, Cassandra deu ordens para que Asaf "resolvesse" a situação. Bianca foi levada para fora em um saco preto.

Desde então, o aviso ficou claro: adoecer é uma sentença de morte. Recusar-se a comer, outra. Aqui, a morte é a única certeza.

— Já começaram a chegar. — A porta do quarto se abriu com força, e Malia entrou esbanjando confiança. Vestia um vestido preto curto, com tranças no cabelo, e sua pele morena brilhava com iluminador. — Tem uns caras lá embaixo que transpiram dinheiro. — Ela correu até a penteadeira, empurrando Jane e Meiying para retocar o batom.

— Respeite o espaço, querida. — Jane reclamou, limpando o rímel borrado após ser empurrada.

— Com sorte, vou pegar o mais rico e ganhar uma fortuna quicando em cima dele. — Malia riu, admirando-se no espelho.

À Mercê Da EscuridãoOnde histórias criam vida. Descubra agora