Capítulo VI

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Melissa Lima.

Depois daquela conversa com o Nascimento no batalhão, as coisas entre nós voltaram à estranha normalidade que ele parecia tanto desejar. Ou, pelo menos, ele fazia questão de manter as aparências. Era como se o beijo nunca tivesse acontecido, como se aquela noite no bar tivesse sido apenas um lapso momentâneo.

Mas eu sabia que não era. Sabia que algo havia mudado. E, por mais que ele tentasse esconder, estava lá. A tensão, o silêncio carregado entre nós. Eu podia sentir.

Ainda assim, eu continuei com meu trabalho. Meus dias eram ocupados com os homens do BOPE, lidando com o estresse, os traumas que acumulavam a cada operação. E, entre eles, um que me chamava atenção era o Tenente Oliveira. Ele era diferente de Nascimento em muitos aspectos. Menos fechado, mais leve, e com um senso de humor que tornava as sessões menos pesadas.

Naquela tarde, depois de uma série de conversas exaustivas com os soldados, Oliveira veio até mim quando eu estava arrumando meus papéis. Ele sempre tinha uma piada pronta, alguma história para contar, e, apesar de ser sério em campo, com os colegas, ele gostava de relaxar fora das missões. Ele se aproximou com aquele sorriso fácil, me provocando sobre como eu sempre parecia "tensa demais" no meio dos homens do BOPE.

— Doutora, você precisa relaxar. Não sei como aguenta a gente — ele disse, rindo enquanto se escorava na mesa ao meu lado. Eu ri de volta, me permitindo relaxar um pouco também.

— Não é fácil, mas alguém tem que fazer esse trabalho, certo? — brinquei, pegando a prancheta para revisar as anotações. Oliveira se inclinou um pouco mais, como se estivesse curioso sobre o que eu estava escrevendo.

— Você escreve sobre a gente? Quero ver o que está falando de mim aí — ele disse, o tom provocativo. Dei uma risada, balançando a cabeça.

— Não se preocupe, Tenente. Nada que vá comprometer sua reputação de durão.

Enquanto conversávamos, senti uma presença no canto da sala, e, sem precisar olhar, soube exatamente quem era. Nascimento estava parado na porta, observando em silêncio. Eu continuei a falar com Oliveira, tentando parecer despreocupada, mas senti a mudança no ar imediatamente. Aquele mesmo peso que eu tinha sentido no bar, aquela tensão entre nós, só que agora estava misturada com algo mais: ciúme.

Olhei de relance para Nascimento e pude ver o olhar dele. Frio, duro. Ele mantinha a postura ereta, como sempre, braços cruzados, mas os olhos diziam outra coisa. Eles estavam fixos em nós, em mim e Oliveira, como se estivesse tentando controlar alguma coisa dentro de si.

Oliveira, sem perceber o clima, continuou falando, mas minha atenção estava dividida entre ele e Nascimento. A cada palavra, a cada riso que eu soltava, eu sentia o peso do olhar de Nascimento sobre mim. Ele estava morrendo de ciúmes, mesmo que tentasse não demonstrar.

— Doutora, o que acha de sair com a gente mais tarde? Um grupo vai se reunir depois da missão, e seria bom você aparecer. A gente nunca vê você fora daqui. — Oliveira sugeriu, ainda sorrindo, sem ideia do que estava acontecendo no outro lado da sala.

Antes que eu pudesse responder, Nascimento se moveu. Ele caminhou lentamente até onde estávamos, interrompendo nossa conversa com uma presença tão forte que era impossível ignorar.

— Doutora Melissa — ele disse, o tom de voz firme, mas eu detectei uma leve tensão. — Preciso de uma palavra com você. Agora.

Não era uma pergunta. Ele nem sequer olhou para Oliveira, que levantou uma sobrancelha, surpreso com a interrupção repentina. Eu sabia o que aquilo significava. Nascimento estava irritado, e era evidente que ele não gostava nem um pouco da ideia de me ver tão próxima de um de seus homens, especialmente de Oliveira.

— Claro, Capitão. — Respondi, tentando manter a calma enquanto guardava meus papéis.

Oliveira lançou um olhar curioso entre nós dois, mas não disse nada. Nascimento já estava se afastando, esperando que eu o seguisse. Quando me levantei para segui-lo, senti a tensão aumentar. Sabia que a conversa que estava por vir seria qualquer coisa, menos profissional.

Quando saímos da sala e ele fechou a porta atrás de mim, o silêncio entre nós parecia ensurdecedor. Eu o olhei, esperando que ele dissesse algo, mas ele ficou parado, a mandíbula tensa, os olhos fixos nos meus, como se estivesse tentando decidir o que dizer.

— Isso é o que você faz, então? — Ele perguntou, a voz baixa, mas carregada de um tom que eu nunca tinha ouvido nele antes. — Fica por aí... rindo com meus homens?

Eu arqueei as sobrancelhas, surpresa com a acusação.

— O quê? Do que você está falando, Nascimento?

Ele deu um passo à frente, e agora estávamos perto o suficiente para eu sentir a intensidade dele. O cheiro, a presença, tudo era avassalador.

— Não brinca comigo, Melissa. Eu vi você com o Oliveira.

— E daí? Eu estava trabalhando, conversando sobre os casos. Não era nada do que você está insinuando.

Ele riu, mas não havia humor naquele riso. Ele estava claramente incomodado.

— Conversando, né? Parece que vocês estavam se divertindo bastante.

Foi aí que entendi completamente o que estava acontecendo. Ciúme. Ele não conseguia admitir, mas estava morrendo de ciúmes.

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Temos um capitão ciumento vindo aí?🤭

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Tensão no batalhão.| Capitão Nascimento. Onde histórias criam vida. Descubra agora