Tensão, ansiedade, incertezas, tudo isso se ia embora quando Bern entrava na pista.
Correr era a sua paixão. Sentir que nada pode o parar. A adrenalina. Era disso do que precisava, e não de um namoro qualquer.
Bern escutou a vida inteira de como precisava arranjar uma namorada. Ou namorado. Tanto faz. Parecia que todos seus amigos — e familiares, — queriam se meter na sua vida amorosa inexistente.
E tudo que Bern queria saber era sobre carros e correr. Desde pequeno, quando pegou no carro do seu pai com treze anos, a primeira coisa que fez foi pressionar o acelerador e ir com força.
Os gritos nas arquibancadas de fãs, os encontros pós-corridas, as entrevistas, nada disso era algo que Bern almejava. Ele só queria saber de correr.
Correr e comprar flores.
Já havia um mês de que seu irmão mais novo havia quebrado a perna e ido parar no hospital. Um mês desde que pensou que talvez seria gentil de sua parte lhe dar flores. Um mês desde que uma nova parte de sua vida floresceu.
Em meio seus treinos nas pistas, Bern se pegava pensando em Feuripe. A forma inteligente mas ao mesmo tempo travessa de como explicava as coisas, com uma paixão voraz na voz. Ele queria ouvi-lo dizer sobre qualquer coisa que viesse em sua mente, o dia todo se o deixasse.
Seu irmão já havia reclamado da quantidade de flores que recebia no hospital, 'estou recebendo mais flores que pacientes em estados terminais,' Chip dizia, debochando da cara do seu irmão mais velho.
E então Bern parou de levar flores todos os dias para Chip. Apenas um buquê por semana.
Isso não significa que parou de ir na floricultura. A esse ponto já considerava o florista como um de seus amigos, mesmo só o conhecendo superficialmente. Então o que fazia era: ia na floricultura, conversava com Feuripe, pegava seu pedido de sempre e retornava para casa.
Seu pequeno apartamento havia se tornado um amador jardim de narcisos, com jarros e potes cheios de água por todos os cantos, e os caules das plantas afogados lá.
Bern não sabia como cuidar de plantas, então, por consequência, algumas acabaram morrendo, mas ele se esforçava ao máximo para com que a maioria permanecesse viva.
Hoje ele iria na loja de flores da esquina para comprar algo diferente. Talvez comprar um buquê de lírios só porque achava a palavra 'lírio' engraçada.
Sim, flores. Tulipas, orquídeas, girassóis, margaridas. Todas essas eram flores nas quais ele sabia os nomes. Entretanto, a loja de Feuripe continha diversas possibilidades de escolhas de flores diferentes. Ele queria algo distinto daquelas flores amarelas que moravam em sua casa.
O sininho da loja ecoou, sinalizando sua entrada, porém, quando foi procurar pelo homem loiro que esperava, não encontrou ninguém.
Ninguém além de um jovem baixinho com olhos arroxeados, que mexia atrás do balcão em alguns ramos de plantas.
Bern não sabia o que fazer. Um estranho atrás do balcão, e aonde estava Feuripe? "Oi, licença," disse educado, o homem menor o olhou.
"Oi, seja bem vindo!" respondeu o outro, no qual utilizava um avental verde com alguns broches fincados. "Posso te ajudar com algo?"
"Você viu o Feu? Feuripe," perguntou desconfortável. Conhecer novas pessoas era sempre esse incômodo, logo mais sua estranheza iria passar.
O outro homem assentiu com a cabeça, "Tá no estoque. Está o procurando por..?" questionou, com curiosidade por parte do homem de cabelos longos e arruivados.
VOCÊ ESTÁ LENDO
não-me-esqueças | fern
FanficUm adorável florista chamou a atenção de Bern; seus olhos não haviam pupilas e sua esclera ocupava todo o globo ocular. Ainda sim, sua face era harmônica e seus cabelos loiros caiam sobre a face enquanto o homem prendia o avental sob a cintura. Aond...