O céu estava nublado em 7 de setembro, e as nuvens, carregadas de uma melancolia inexplicável, pareciam pairar sobre a cidade como um presságio sombrio. O desfile do Dia da Independência, normalmente um espetáculo de cores e alegria, estava em um tom de cinza quase uniforme. No centro do tumulto, onde as pessoas se aglomeravam para assistir à procissão, havia um mistério que pairava no ar - um encontro predestinado entre dois jovens de mundos diferentes.
S/N, com seus olhos escuros e profundos como a noite sem estrelas, se destacava entre a multidão. Ela vestia um vestido vermelho, uma mancha vibrante na paisagem cinza, mas sua postura era rígida, como se carregasse o peso de um segredo inominável. Os aplausos e as bandeiras não a tocavam; seu olhar estava fixo em um ponto específico, como se esperasse algo - ou alguém.
Entre as fileiras, um garoto com cabelos cacheados e desarrumados, vestido com o uniforme da academia, observava a cena com uma mistura de curiosidade e desdém. Seu nome era Kauê, e sua presença ali parecia um enigma em si. Ele se destacava não pela aparência, mas pela aura de indiferença e cansaço que irradiava. Sua vida, embora parecesse tranquila, escondia uma complexidade que poucos podiam compreender.
Enquanto o desfile avançava, S/N começou a se mover, como se guiada por um fio invisível que a puxava em direção a Kauê. O caminho que ela traçava era imperceptível para os demais, mas seus passos eram firmes e decididos. Kauê, embora envolvido em seu próprio mundo, sentiu uma estranha conexão com aquela figura que se aproximava. Algo em seus olhos, um brilho sombrio e misterioso, fez com que ele não conseguisse desviar o olhar.
Quando se encontraram, a multidão parecia desaparecer ao redor deles, e o barulho do desfile se transformou em um som distante e abafado. S/N se aproximou de Kauê e, sem uma palavra, tomou sua mão. Ele a olhou com uma expressão de surpresa e curiosidade, mas algo em seu gesto o fez sentir uma estranha sensação de calma.
"Você está aqui por mim," S/N murmurou, sua voz quase inaudível. "Não é verdade?"
Kauê hesitou, tentando entender a profundidade da declaração dela. "Eu... não sei o que você quer dizer."
S/N sorriu, mas era um sorriso triste, quase amargo. "Eu sempre soube que te encontraria aqui, hoje. Há algo em você que me chama."
A conexão entre eles parecia transcender o tempo e o espaço. Kauê sentiu uma mistura de fascínio e confusão, como se estivesse sendo puxado para um abismo do qual não pudesse escapar. "Mas por que aqui? Por que agora?"
S/N apertou a mão dele com mais força. "Porque este é o momento em que nossos caminhos se cruzam, e o desfile é apenas um pano de fundo para algo muito maior. Não podemos fugir do que está escrito para nós."
O tempo parecia parar enquanto eles permaneciam ali, em meio à multidão que continuava a celebrar sem perceber o drama que se desenrolava ao seu redor. Kauê, apesar de sua resistência inicial, sentiu-se atraído por S/N de uma forma que desafiava a lógica. Havia algo em sua presença que o fazia sentir que ele estava prestes a descobrir algo profundo sobre si mesmo.
Com um gesto suave, S/N aproximou-se ainda mais de Kauê, seus rostos quase se tocando. "Eu sinto uma conexão profunda com você. Algo que não posso ignorar."
Kauê, sentindo o calor da proximidade, respirou fundo. O toque dela em sua mão era como uma eletricidade suave, uma promessa de algo mais. "Eu também sinto isso," admitiu ele, a voz baixando para um sussurro. "Mas o que fazemos com isso?"
S/N olhou para ele com um olhar terno e determinado. "Apenas confie em nós. Vamos explorar o que isso significa, juntos."
Com o coração acelerado, Kauê se inclinou ligeiramente, sentindo o perfume dela misturar-se com o aroma da chuva que começava a cair. Ele a observou enquanto ela fechava os olhos e, com um gesto delicado, ela encostou a testa na dele. O contato era leve, mas carregado de uma intimidade que parecia transcender palavras.