A chuva caía forte naquela noite, batendo contra o asfalto com uma fúria que refletia o caos no coração de Clara. Ela caminhava sem rumo pelas ruas vazias da cidade, perdida em um mar de pensamentos e emoções que pareciam prestes a engolir sua alma. As luzes fracas dos postes lançavam sombras longas e distorcidas, dançando ao ritmo dos trovões que ecoavam à distância.
Tudo em sua vida havia desmoronado. A morte prematura dos pais, o abandono por aqueles que ela pensava serem amigos, e a solidão que agora a envolvia como uma segunda pele. Clara sentia-se uma estrangeira em sua própria existência, uma sombra sem forma ou propósito, destinada a vagar pelo vazio. Ela estava quebrada, e não havia nada ou ninguém que pudesse restaurar os pedaços de quem ela fora.
Ao longe, uma figura alta e imponente surgiu em meio à tempestade. Ele estava parado debaixo de uma árvore, o rosto oculto pelas sombras que o cercavam de forma quase sobrenatural. Algo nele chamou a atenção de Clara de imediato, uma presença que a fez parar em meio à rua, incapaz de continuar ou de se afastar. Havia algo de perigoso, mas inegavelmente fascinante, naquela silhueta.
Por um momento, os olhos de Clara se encontraram com os dele duas faíscas de luz em meio à escuridão. E então, algo dentro dela se agitou, como se uma corrente fria e familiar tivesse passado por seu corpo. Sem entender o porquê, ela se aproximou, incapaz de resistir ao chamado silencioso que a puxava para ele.
-Você está perdida,- disse ele, sua voz profunda cortando o som da chuva. Não era uma pergunta; era uma afirmação, como se ele pudesse enxergar diretamente em sua alma.
Clara parou diante dele, suas palavras presas na garganta. Havia algo de hipnótico naquele homem. Sua presença era avassaladora, uma mistura de mistério e perigo que a fazia sentir-se viva de uma maneira que não sentia há muito tempo.
-Quem é você?- ela conseguiu perguntar, a voz mais fraca do que pretendia.
Ele sorriu, um sorriso que não alcançou seus olhos, mas que carregava um peso sombrio.
-Alguém que pode te oferecer o que você tanto deseja.-
Clara franziu a testa, confusa.
-E o que é que eu desejo?-
-Liberdade,- ele respondeu, inclinando-se ligeiramente em sua direção.
-Liberdade de tudo o que te prende, de tudo o que te machuca. Eu posso te dar o que você procura, Clara.-
Ela estremeceu ao ouvir seu nome. Ele não havia perguntado, não havia como ele saber, mas algo nela já havia aceitado que ele sabia tudo sobre ela.
Por um breve momento, Clara hesitou, seus instintos lutando contra o desejo de entregar-se àquele homem desconhecido e ao que ele representava. Mas a dor, a solidão e o vazio eram mais fortes do que sua vontade. Ela estava à beira do abismo, e ele parecia ser a única saída.
-E o que você quer em troca?- ela perguntou, com a voz quebrada pelo medo e pela esperança.
Ele se aproximou ainda mais, até que Clara podia sentir o calor de sua presença, embora o ar ao redor deles estivesse gélido. Ele estendeu a mão, e as sombras ao redor pareceram seguir seus movimentos, envolvendo Clara como um abraço invisível.
-Tudo o que eu quero,- ele sussurrou, -é você.-
Clara sentiu o peso daquelas palavras mergulharem fundo em seu ser. E naquele instante, sob a chuva que continuava a cair, ela tomou uma decisão. A escuridão não parecia mais tão assustadora. Na verdade, ela parecia um refúgio.
Ela pegou a mão dele.
E naquele toque, o mundo de Clara mudou para sempre.
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She Cries For The Devil
ChickLitClara é uma mulher marcada por traumas e dores do passado, vivendo uma existência sombria e sem esperança. Quando ela cruza o caminho de Dante, um homem enigmático e sedutor que carrega consigo a própria essência da escuridão, sua vida muda drastica...