Clara sentia o vento frio acariciar sua pele enquanto caminhava pelas ruas estreitas e sombrias da cidade. As luzes dos postes piscavam de forma intermitente, como se a escuridão tentasse engolir tudo ao seu redor. O céu, encoberto por nuvens densas, parecia uma cortina cinza, sufocante, que ameaçava despencar em uma tempestade a qualquer momento. Mas isso não a incomodava. A chuva combinaria com seu estado de espírito.
Ela enfiou as mãos no bolso de seu casaco surrado, tentando se aquecer, enquanto seus olhos varriam os becos à procura de algo ou de alguém. Estava atrasada. O tempo parecia correr contra ela desde que soubera da existência de Dante, uma figura misteriosa, um demônio disfarçado de homem. Ele tinha olhos que queimavam como brasa, um sorriso predatório, e uma presença que absorvia todo o ar ao redor. Todos os rumores diziam que ele era perigoso. Mortal. Mas, para Clara, aquilo não era um aviso, era uma promessa. Uma promessa de um fim, de uma queda ou redenção. Algo que ela desesperadamente procurava.
Seu corpo vibrava de ansiedade enquanto continuava sua busca. Havia algo no ar, algo que a puxava, guiando seus passos. Sabia que estava se aproximando dele. Sentia sua presença antes mesmo de vê-lo, como se uma parte dela já soubesse o que a esperava. O coração dela batia descompassado. A cada passo, a atração crescia, uma força invisível e opressiva.
Finalmente, seus olhos o encontraram.
Dante estava parado no final de um beco, de costas para ela. Seu corpo era alto, de ombros largos e uma postura que exalava poder. Ele parecia não se incomodar com o frio ou com a escuridão. A fumaça do cigarro que ele segurava flutuava suavemente no ar, misturando-se com a bruma que começava a se formar. Clara sabia que aquele momento mudaria tudo. Respirou fundo, tentando se recompor. Mas, de alguma forma, ao fitá-lo, sentiu que sua alma já o conhecia.
Ela avançou, hesitante, mas com a certeza de que não podia voltar atrás.
-Dante-, sussurrou, sua voz sendo quase levada pelo vento.
Ele se virou lentamente, e naquele instante, Clara soube que estava perdida. Seus olhos eram escuros, como poços sem fundo, e dentro deles, algo antigo e perigoso brilhava. O sorriso que surgiu em seu rosto era devastador, uma mistura de crueldade e sedução.
-Eu sabia que você viria.-
As palavras dele a atingiram como um soco, mas ao invés de recuar, ela deu mais um passo à frente. Havia algo nele que a atraía, como uma mariposa em direção à chama. Ela deveria temê-lo, sabia disso. O perigo estava estampado em cada linha do corpo dele. No entanto, ela não podia. Não conseguia. Clara estava disposta a se queimar.
-Você me chamou,-ela murmurou, seus olhos fixos nos dele. A resposta de Dante foi uma risada baixa, profunda e envolvente, como o eco de trovões distantes
-Não. Você veio por conta própria,- ele respondeu, apagando o cigarro com a ponta da bota.
-As almas perdidas sempre encontram o caminho até mim.-
Ela sabia o que ele significava. Ela era uma dessas almas, perdida há muito tempo. A dor de sua vida, os segredos enterrados, o vazio que ela carregava dentro de si tudo a empurrara para ele. Dante era a personificação de todas as suas trevas, e ainda assim, ele parecia ser a única coisa que poderia completá-la.
-Você não tem medo?- ele perguntou, sua voz suave, mas com uma nota afiada de ameaça.
Ela o encarou, tentando controlar a tremedeira em suas mãos. A verdade era que estava apavorada, mas não pelo que ele poderia fazer com seu corpo. Não temia a dor ou o sofrimento físico. O que Clara temia era perder a si mesma, entregar sua alma a ele, e nunca mais voltar a ser a mesma.
-Eu deveria?- ela perguntou, desafiadora, cruzando os braços sobre o peito.
Dante riu novamente, um som que reverberava dentro dela, despertando algo que ela preferia manter enterrado. Ele se aproximou devagar, com passos calculados, como um predador se aproximando de sua presa. Quando ele parou na frente dela, a proximidade fez sua respiração acelerar.
-Você sabe quem eu sou, Clara?- Ele perguntou, sua voz baixa e carregada de intenções.
Ela assentiu. -Eu sei. Você é o Diabo.- Sua voz saiu mais firme do que ela esperava. Ela sabia que ele não era um simples homem, não era apenas um criminoso ou um sedutor perigoso. Dante era a própria essência do mal, a encarnação das trevas que Clara sempre tentou fugir.
Ele sorriu, um sorriso cheio de segredos.
-E mesmo assim, você veio até mim. Sabe o que isso significa?-
Ela balançou a cabeça negativamente, seu corpo congelado no lugar, enquanto seus olhos permaneciam fixos nos dele.
-Significa que você pertence a mim.- Dante a envolveu em seus braços antes que ela pudesse protestar, e o mundo ao redor deles pareceu desaparecer. A escuridão do beco os engoliu, e Clara sentiu como se estivesse caindo em um abismo sem fim.
O toque dele era quente, como fogo. Contradizendo toda a atmosfera gelada ao redor, seu corpo emitia uma energia avassaladora, algo que a dominava e consumia. Cada célula do corpo de Clara gritava para que ela lutasse, corresse, se libertasse, mas ela se viu incapaz de resistir. Havia uma parte de sua alma que ansiava por aquela conexão, uma fome que ela mal compreendia.
-Você acha que pode brincar com forças que nem sequer compreende, Clara?- Ele murmurou ao seu ouvido, seus lábios roçando a pele do pescoço dela. -Eu posso te dar o que deseja... Mas a que custo?-
Aquelas palavras eram como uma advertência, mas para Clara, soavam como tentação. Ela sabia que estava em uma encruzilhada, que sua vida como conhecia acabaria ali, mas, por algum motivo, isso não parecia tão assustador quanto deveria. Talvez porque, no fundo, ela sempre soube que seu destino estava fadado à ruína. E quem melhor para guiá-la nessa descida do que o próprio Diabo?
-E o que eu desejo?- ela perguntou, sua voz baixa, quase um sussurro.
O impacto daquelas palavras fez o coração de Clara saltar no peito. Sua mente tentava entender o que estava acontecendo, mas seu corpo, sua alma, já havia decidido. Ela sabia que estava se entregando a algo muito maior do que qualquer paixão humana, algo que rasgaria sua essência até não restar mais nada.
Dante a soltou devagar, observando-a com um olhar calculista. -O que você quer, Clara? Fale.-
As palavras estavam na ponta da língua dela, presas entre o medo e a aceitação. Ela sabia que cruzar aquela linha significava perder-se, significava entregar sua humanidade. Mas o que ela realmente tinha a perder? A dor que carregava era um lembrete constante de que ela já estava quebrada.
Ela deu um passo para frente, rompendo a distância entre eles, seus olhos queimando de decisão.
-Eu quero você, Dante. Quero o que você pode me dar, não importa o que seja.-
Por um breve momento, o sorriso de Dante desapareceu, substituído por algo mais sombrio, algo que fez o estômago de Clara se revirar. Ele deu um passo para trás, como se estivesse se preparando para dar seu veredito.
-Então, você me pertence agora. Não há mais volta,- ele sussurrou.
O céu acima deles se abriu, e a chuva começou a cair pesada, implacável. Clara, no entanto, mal a sentiu. Tudo o que ela podia ver, tudo o que podia sentir, era Dante. Ele era o centro de seu universo, e ela sabia que esse era o começo do fim.
Naquela noite, Clara chorou pelo Diabo, e em algum lugar nas profundezas de sua alma, ela sentiu que ele chorava por ela também.
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She Cries For The Devil
Chick-LitClara é uma mulher marcada por traumas e dores do passado, vivendo uma existência sombria e sem esperança. Quando ela cruza o caminho de Dante, um homem enigmático e sedutor que carrega consigo a própria essência da escuridão, sua vida muda drastica...